Principalmente em um contexto de desigualdade, ampliar o debate sobre questões políticas é um passo certeiro a favor da democracia.
Mariana Santos
Estudar inglês, praticar esporte e aprender a tocar algum instrumento musical. Essas são algumas das expectativas que os pais brasileiros colocam sobre seus filhos logo que eles nascem. Naturalmente, essa não é a maior preocupação da imensa parte do país, que precisa lutar para ter acesso aos seus direitos mais básicos: acesso à educação, ao lazer, à cultura, à vida e à saúde.
A participação do jovem na política se trata de uma luta pessoal e intransferível, mas nem sempre acontece sem que alguém incentive. É necessário ampliar as vozes deste debate, sobretudo de populações que foram historicamente marginalizadas. É sobre algumas das principais nuances nessa área que conversamos com a Deputada Sâmia Bomfim para entender o seu posicionamento.
1-) É nítida a participação da deputada em assuntos relacionados às mulheres e grupos minoritários. Essa participação na política veio com a fase adulta ou já existia interesse durante a adolescência? Posteriormente, na faculdade, existia algum tipo de incentivo dos docentes?
Eu tive interesse desde jovem, sim. E na faculdade ele se desenvolveu bem. Nem todos os docentes apoiavam, mas alguns, sim. Principalmente aqueles que já eram tradicionalmente parceiros do movimento estudantil, no qual me engajei.
2-) Considerando o cenário atual do país, e o medo causado por ataques à escolas, como o envolvimento do jovem na política pode minimizar os efeitos negativos da disseminação dessas ameaças, inclusive nas universidades?
Acho que decisivamente. Por, pelo menos, dois aspectos. A reflexão política (inclusive aquela trazida por disciplinas como Sociologia, Filosofia) gera pensamento crítico e emancipação. Isso vai no sentido contrário da violência, de qualquer tipo, sobretudo a extrema. Além disso, o envolvimento ativo do jovem no espaço escolar (seja por meio da política ou de outras iniciativas de caráter coletivo, como culturais, etc) fortalece esse próprio espaço e ajuda a blindá-lo contra a barbárie.
3-) Muitos jovens entraram em contato com o discurso político da deputada por intermédio de trechos que “viralizaram” na internet, principalmente em situações de conflito em que a deputada defendeu seu ponto de vista. Apesar da visibilidade que as redes sociais proporcionam, como a internet pode afetar negativamente mulheres que expõem suas opiniões e participam ativamente de debates complexos?
A internet acaba funcionando, também, como mais uma vitrine para a prática da violência política de gênero. Isto é, homens que já são violentos e machistas, às vezes, se aproveitam do espaço virtual para tentar agir de forma mais mais ofensiva e criminosa. Mas eu não me intimido. Denuncio tudo que acho necessário e busco utilizar as redes para desenvolver o pensamento democrático na sociedade.
4-) Algumas das pautas defendidas pela deputada são consideradas polêmicas ou questionáveis pela parcela da população mais conservadora, ainda sim, é necessário debater para chegar a pontos de acordo e satisfazer todas as partes. No dia a dia, esse também é o cenário enfrentado em sala de aula. Como defender um ponto de vista, ou um direito, sem cair no erro de reproduzir discursos igualmente inflexíveis, inclusive ao rebater opiniões problemáticas?
Por meio do próprio diálogo e do exercício da argumentação. Além disso, não querendo ser a dona da verdade sozinha, mas, sim, me apoiando e me inspirando nos movimentos sociais e nos trabalhadores e trabalhadoras que se organizam. Para mim, esse é o maior papel de uma parlamentar e é em nome disso que eu me coloco nos debates, inclusive aqueles considerados mais polêmicos. Mesmo os debates difíceis precisam ser enfrentados, quando eles afetam vidas e dizem respeito à justiça social.
5-) Existem formas de exercer pensamento crítico e se envolver em ativismos sem necessariamente possuir cargos públicos. Como os jovens podem participar verdadeiramente de movimentos políticos que representem seus posicionamentos, seja no ambiente educacional ou fora dele?
Certamente é possível! Participando de grêmios estudantis e centros acadêmicos. Organizando grupos de debate, de cultura ou de mobilização em seus bairros. Atuando nas redes sociais contra as fake news e pela dispersão de conteúdos democráticos. Participando de manifestações. São várias as possibilidades.
6-) Em meio a tantas vozes mais fortes e mais ouvidas, qual a real importância da participação de grupos minoritários em debates políticos que lhes afetam diretamente ou indiretamente?
É central. Acredito na lógica apregoada pelo Paulo Freire, de que a emancipação dos oprimidos e das oprimidas só poderá vir pelas mãos desses próprios sujeitos sociais. São eles que devem ter o protagonismo no processo de emancipação.
7-) Como conciliar pautas de interesse público com opiniões de caráter pessoal? Afinal, é possível defender uma medida que é positiva para o todo sem que ela seja parte dos seus próprios interesses?
Certamente. Inclusive, é necessário contrariar interesses pessoais se eles são conflitantes com interesses coletivos maiores. Essa é uma obrigação de uma parlamentar, que é eleita e remunerada pelo povo, definida em nossas leis e nossa Constituição. Obviamente, nem todos agem assim, o que lamento. Mas, da minha parte, o bem comum vem sempre na frente.