Estudo revela por que mulheres desenvolvem doenças autoimunes com maior frequência

In Geral, Saúde

Molécula produzida pelo cromossomo X pode ser a causa para o surgimento de doenças como lúpus e esclerose múltipla.

Gabrielle Venceslau

Dentre os 8% de pessoas do mundo que possuem alguma doença autoimune, a maior parte delas é composta por mulheres. Segundo investigação publicada na revista Cell, isso pode acontecer por causa de uma predisposição genética ligada ao cromossomo X, que é duplamente transportado pela população feminina.

Doenças como lúpus, esclerose múltipla e artrite reumatoide são originadas no sistema imunológico da pessoa, que, por um equívoco, não reconhece mais as próprias células e as ataca. Ou seja, combate os componentes saudáveis ao invés de agentes invasores, prejudicando a saúde do indivíduo.

Por que o cromossomo X?

Antes de entender o porquê, é importante lembrar que o sexo feminino é definido por dois cromossomos X, enquanto o masculino possui um X e outro Y. O X tem centenas de genes ativos em seu interior que produzem proteínas específicas. “Por isso, as mulheres apresentam um sistema imune muito mais atuante do que os homens, que possuem apenas um cromossomo X”, explica o geneticista Caio Bruzaca.

Para não produzir diversas proteínas em excesso, cada célula interrompe a atividade de um dos cromossomos X. Essa inativação é feita pela molécula “Xist”, que se enrola em torno desse cromossomo e o desliga. Entretanto, esse agrupamento pode fazer com que outras proteínas se liguem a ele. Isso confunde o sistema imunológico, que as ataca por considerá-las tóxicas.

Além do aspecto genético, as alterações hormonais no corpo feminino também podem ser um dos fatores que desencadeiam condições autoimunes. “O estrogênio – hormônio feminino – interfere na identificação das células de defesa e aumenta  o nível de substâncias inflamatórias”, expõe a reumatologista Camila Cabianca.

Diagnóstico e tratamento

Carolina Seixas, diagnosticada com esclerose múltipla após um ano de investigação, ouviu o nome da doença pela primeira vez em uma consulta médica. “Antes eu associava a esclerose à patologias relacionadas às pessoas idosas, mas os médicos quebraram esse estigma, dizendo que a doença acomete muitos jovens e principalmente mulheres”, comenta.

Entretanto, muitos pacientes não estão cientes de informações básicas sobre essa condição. “Na minha experiência, não existiu um diálogo entre paciente e médico, eu acabei descobrindo novas informações da doença pela internet, grupos de apoio e congressos”, afirma Fernanda Riceto, diagnosticada com esclerose múltipla aos 19 anos.

A reumatologista enfatiza que o diagnóstico precoce facilita o tratamento das doenças. Por isso é sempre importante orientar a população sobre os principais sintomas e sinais dessas patologias. 

Outro ponto é a prevenção da condição autoimune por meio da manutenção de uma vida saudável. “Isso envolve uma boa alimentação, prática de atividade física e ciclo menstrual regulado”, esclarece o geneticista.

Até o momento, o tratamento das doenças autoimunes é centralizado em imunossupressores – medicamentos para reduzir a resposta inflamatória causada pelas células do sistema imune. Mas, a partir de estudos como esse, é possível entender melhor o mecanismo dessas doenças, além de desenvolver medicações e tratamentos que tenham maiores chances de sucesso, ressaltam os especialistas.

Rede de apoio

Através de sua página no Instagram, Carolina percebe a realidade do maior risco de mulheres desenvolverem alguma condição autoimune. “Cerca de 90% das pessoas que eu conheci, vejo e converso no meu perfil, são mulheres que possuem doenças autoimunes”, afirma.

O mesmo acontece com Fernanda, que utiliza o Instagram como rede de apoio para pessoas acometidas com essas doenças. “Ter uma doença autoimune não é fácil, por mais simples ou grave que ela seja, de qualquer jeito afeta o psicológico, principalmente da mulher”, explica.

As duas compartilham da opinião de que é importante ter pessoas para falar sobre a doença seja amigos, família ou em redes sociais. Também é importante encontrar profissionais de saúde que atendam as necessidades individuais de cada paciente.

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