Ter horas regulares de sono ajuda manter o ritmo natural do corpo humano.
Fernanda Reis
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de York, no Canadá, revelou que trabalhar fora do horário tradicional ou em turnos rotativos está associado a um risco de 79% maior de declínio cognitivo, principalmente entre adultos de 45 a 85 anos. O impacto negativo é atribuído a interrupção do ciclo circadiano, o ritmo natural que o corpo humano regula as funções ao longo do dia.
A pesquisa analisou 47.811 pessoas que trabalham ou já trabalharam nesse período, desde seus padrões de emprego, horários de trabalho e resultados de teste de função cognitiva. Os resultados mostraram uma conexão direta entre trabalhar durante a noite e ter um comprometimento cognitivo acentuado.
Ciclo circadiano e saúde mental
O ciclo circadiano é responsável pela regulação de funções vitais, como o sono, a temperatura corporal, os níveis de hormônios e o desempenho cognitivo. Ele funciona como um relógio interno, funcionando 24 horas por dia. No entanto, embora ele se relacione a fatores como temperatura e atividade física ou social, o elemento que exerce maior influência sobre ele é a luz.
Ele é controlado por uma área do cérebro chamada marca-passo circadiano. Quando a luz entra no olho, ela estimula as células na parte posterior do olho, a retina, que envia impulsos nervosos a essa área. Esses impulsos enviam um sinal para o cérebro parar de produzir a melatonina, hormônio que promove o sono. Quando o ritmo está alinhado a uma rotina saudável, permite a produção hormonal adequada e o sono consistente e reparador.
De acordo com os pesquisadores, quando há exposição regular a horários irregulares de trabalho, esse ciclo pode ser interrompido, levando a distúrbios do sono, fadiga crônica e problemas cognitivos. Essa exposição disruptiva pode contribuir para a neurodegeneração, potencialmente desencadeando o declínio cognitivo.
Impacto nos profissionais da saúde
O estudo tem relação direta com a rotina de trabalho noturno dos enfermeiros Rubenita e Willian Godinho. William trabalha 12 horas, descansa 36 e sente que os horários irregulares vão além da mente e tem afetado o corpo. “Me sinto mentalmente esgotado e fisicamente cansado e desgastado, o meu corpo não tem reagido bem”, comenta.
Rubenita não aguentou a rotina de trabalho que ia desde períodos noturnos com plantões a coberturas de folgas. Durante quatro anos ela sentiu os efeitos. “Eu me sentia irritada, impaciente, com cansaço físico e mental”, relata. Isso fez com que ela trocasse de turno de trabalho, mas ainda lida com a falta de concentração e as mudanças de humor que o trabalho deixou.
Rubenita e William entenderam na prática que regular o sono é um fator primordial para o funcionamento de todas as funções do corpo humano, principalmente a memória. Embora sejam necessárias mais pesquisas para confirmar essas conexões, os resultados iniciais do estudo são preocupantes e destacam a importância de considerar o impacto do trabalho noturno na saúde cerebral.