Brasileiros auxiliam no combate aos incêndios que persistem mesmo com a chegada do inverno.
Isabella Maciel
A ocorrência de incêndios zumbis têm alarmado autoridades de províncias do Canadá no primeiro semestre de 2024. As brasas da última temporada continuam ardendo no solo abaixo da neve, gerando preocupações sobre os potenciais impactos da chegada da primavera.
A situação se agrava quando chega o inverno, quando a neve cobre as áreas anteriormente incendiadas, restringindo o acesso ao oxigênio e permitindo que as brasas continuem a consumir a matéria orgânica subterrânea. Assim, basta um simples vento na primavera para que essas chamas se alastrem exponencialmente.
O Canadá solicitou ajuda ao Brasil para combater os incêndios florestais no segundo semestre do ano passado. Vinte bombeiros militares brasileiros foram enviados em missão de ajuda humanitária, formando o pelotão da LIGABOM.
O 1º Tenente, Bruno Eduardo da Macena, foi um dos vinte bombeiros enviados em missão ao Canadá, e conta que dentre os diversos trabalhos realizados, o mais comum era o combate indireto ao incêndio. “Abrimos linhas de defesa manuais em locais montanhosos, onde os maquinários não conseguiam chegar, fazíamos também o combate aos incêndios subterrâneos, que é um grande problema para eles”, explica.
O que são os incêndios zumbis?
Os incêndios subterrâneos, apelidados de incêndios zumbis, são resultado das características do solo desta região, composto principalmente por turfa, um material orgânico altamente volátil. Bruno destaca que nesse tipo de vegetação, o fogo se propaga de forma lenta, muitas vezes invisível à superfície, manifestando-se apenas em pontos isolados.
Além disso, a vegetação superfície também contribui para o rápido alastramento dos incêndios. “A vegetação superficial se trata de coníferas, que são bastante resinosas e propagam os incêndios com velocidade maior que o normal”, ressalta.
Ele relata que durante a missão, além de estabelecerem linhas de defesa manual em áreas montanhosas, também realizaram patrulhas em busca de pontos quentes para identificar os incêndios subterrâneos.“Quando identificado cavava-mos e resfriávamos com água, até que a temperatura do solo baixasse a ponto de não permitir mais a propagação”, acrescenta.
A experiência de Bruno e seus colegas bombeiros foi marcada por diversas situações distintas do que estão acostumados no Brasil. A vegetação canadense é diferente da encontrada no Brasil, pois possui raízes superficiais que, quando queimadas, tornam-se extremamente instáveis e suscetíveis a quedas mesmo com fracas rajadas de ventos. “Era muito comum estarmos trabalhando dentro da mata e escutamos diariamente algumas árvores caindo próximas de nós”, relembra.
A ameaça para o Canadá
Em 2023, o Canadá sofreu a temporada mais intensa de incêndios florestais já vista no país. A maior parte ficou centralizada em British Columbia, resultando na evacuação de aproximadamente 15 mil casas. As autoridades declararam estado de emergência em toda província.
Bruno relata que, de acordo com os relatos dos bombeiros canadenses, os grandes incêndios subterrâneos persistem mesmo durante o inverno. Por isso, no ano seguinte, após o derretimento da neve, os incêndios ressurgiram na superfície, apresentando novos desafios para o controle e combate.