Inflação dos produtos de higiene leva brasileiros a tomar banho sem o uso de sabonete

In Economia, Geral

De acordo com pesquisa, houve um aumento de 9% do número de banhos sem o uso de sabonete entre os que tomam o segundo banho do dia.

Gabrielle Ramos Venceslau

O aumento dos preços tem feito os brasileiros de baixa renda definirem quais são as prioridades na hora da compra, não apenas em relação aos alimentos, mas também ao escolher os produtos básicos de higiene pessoal. Desde o último trimestre de 2021 até o segundo trimestre deste ano, a quantidade de banho sem o uso de sabonete é ascendente, aumentando em 3,9%.

Um estudo nacional sobre hábitos de higiene e consumo feito pela consultoria Kantar, obtido com exclusividade pelo ‘Estadão’, apresentou esses dados. Com o uso de um aplicativo, a consultoria monitora o comportamento de 4 mil pessoas todos os dias. As estatísticas do grupo representam cerca de 115 milhões de brasileiros, pouco mais da metade da população do país.

Atualmente, quase 70% da população toma dois banhos diariamente. Contudo, cresceu em 9% o número de banhos sem o uso de sabonete entre os que tomam o segundo banho diário, em relação ao segundo trimestre deste ano e o mesmo de 2018. Esse aumento ocorreu apenas entre os brasileiros das classes D e E, os quais possuem renda média individual de R$ 791,63, equivalente a 65% do salário mínimo.

O sul do país foi a principal região responsável por alavancar esse crescimento, pois possui 54% dos indivíduos que seguem essa rotina dos banhos. Desta porcentagem, mais da metade é mulher e a maioria é de mães que trabalham em tempo integral, sendo responsáveis pelo sustento da casa.

Por que o preço desses produtos aumentou?

Em 2022, até agosto, o reajuste do sabonete (20,95%) superou o do óleo de soja (19,76%), de acordo com o IPACA-15. Além disso, no mesmo período a inflação dos produtos de higiene pessoal (11,85%)  foi praticamente equivalente à da alimentação no domicílio (12,79%). “Apesar da comida estar no foco das pressões inflacionárias, pois representam itens que são indispensáveis à subsistência das pessoas, os produtos de higiene pessoal também registram altas equivalentes a dos alimentos”, expõe Dirlene Silva, economista e Consultora de Inteligência Financeira.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), a alta do preço desses produtos se deu por causa do aumento do valor de compra de insumos, principalmente dos importados, que passaram por momentos de escassez no mercado. Além disso, a alta do dólar,  as influências do mercado externo e os reflexos da pandemia são algumas das razões para o aumento dos  preços do produto de higiene, afirmam  as economistas entrevistadas.

A economista Nayara Fernanda explica que no auge da pandemia, os preços desses produtos não sofreram reajustes. “Desse modo, com a economia voltando aos eixos, os reajustes são inevitáveis”, afirma Nayara. A Abihpec explica que, no ano passado, os fabricantes fizeram muito esforço para não repassar o aumento dos preços, por isso “2022 vem sendo o ano de operacionalizar a recomposição de margens em prol da sustentabilidade financeira dos negócios”, diz a nota publicada pela entidade.

Laura Pacheco, economista na área de finanças, diz que em algum momento iria ocorrer o repasse dos valores dos produtos. Reforçando que isso não aconteceu apenas com os produtos de higiene e alimentos, também com o setor automotivo ou com alguns serviços prestados. Afinal, “as empresas existem para gerar lucro, para a atividade produtiva fazer sentido economicamente e financeiramente”, complementa.

Brasileiros inovam ao tentar economizar no gasto com esses produtos

Devido ao aumento do preço, os brasileiros procuram economizar os produtos visando a diminuição dos gastos financeiros. “O aumento da inflação e o agravamento do cenário econômico levaram o consumidor a ter de fazer escolhas, seja cortando produtos, seja racionalizando o uso para que durem mais”, afirma Rafael Couto, diretor de soluções avançadas da consultoria. 

Isso aconteceu com Paulo Henrique Conceição, que é auxiliar administrativo e estuda arquitetura. “Estou optando pelas marcas mais baratas e troquei o sabonete líquido pelo sólido”, conta sobre seu banho. Paulo explica que fez essa troca pois percebeu que o sabonete em barra possuía maior durabilidade, logo, gastaria menos. Além disso, ele diz ter notado um  aumento em praticamente todos os produtos do mercado. 

Marlene Souza, que é auxiliar de produção, diz que percebeu a alta dos preços do creme dental, sabonete e papel higiênico. “Estão um absurdo de caro, os sabonetes em barra, todos muito caros”, opina. Contudo, Marlene diz que apesar do preço continua comprando das mesmas marcas que utiliza normalmente, pois são de ótima qualidade e não tem como ficar sem elas. Por isso, ela busca economizar o máximo possível, comprando produtos que possuem embalagens econômicas, que acabam saindo mais em conta e rendendo mais, na visão dela.

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