Jovens sofrem para conseguir emprego no Brasil

In Economia, Geral

Alta rotatividade, baixa valorização e falta de experiência é cenário de muitos que tentam primeiro emprego.

Ester Correa

Mesmo com a recuperação do mercado de trabalho no Brasil, entrar e permanecer em um emprego ainda é um desafio para quem está começando a carreira. Dados da FGV Ibre, com base na Pnad Contínua do IBGE, mostram que a taxa de desemprego entre jovens continua mais que o dobro da registrada entre profissionais com mais tempo de experiência. A dificuldade aparece em diferentes regiões do país e se agrava mais ainda  pela falta de preparo prático, péssimas  condições de trabalho e muita concorrência em algumas áreas.

Apesar dos avanços econômicos dos últimos anos, muitos jovens  ainda encontram portas fechadas, baixa valorização e precarização no início da carreira.

“Foi exaustivo e humilhante”, relata jovem dentista

Karen Mayelle, formada em Odontologia pelo Centro Universitário Adventista de Ensino do Nordeste (UNIANE), viu seu sonho de exercer a profissão ser posto à prova logo no primeiro emprego. Morando em uma cidade pequena no interior da Bahia, e com poucas oportunidades, ela conseguiu uma vaga apenas por indicação, mas a realidade superou suas piores expectativas. “Já imaginava que seria difícil, mas não pensei que fosse tão desgastante e humilhante como foi”, conta. 

A falta de vagas, o ambiente desrespeitoso e o retorno financeiro desse lado  do esperado levaram Karen a repensar sua trajetória antes mesmo de completar um ano de formada. “A minha formação é excelente. O problema é a saturação da área. O mercado está lotado”, explica. 

Hoje, trabalhando em São Paulo, Karen se diz mais satisfeita e motivada. “Você não pode parar. Tem que continuar buscando e evoluindo. Entrei em vários grupos, mandei muitos currículos. Foi mais uma bênção do que qualquer outra coisa, porque a situação está muito difícil”, conclui.

Rotatividade alta, expectativas desajustadas

Em contrapartida, os empregadores também relatam dificuldades em manter jovens no quadro de funcionários. Natal Fraga, sócio da empresa Sulmix Diluentes, afirma que há um padrão de comportamento recorrente entre trabalhadores iniciantes. Ele destaca que os jovens saem dos empregos muito mais rápido que as gerações anteriores. “O jovem entra, trabalha por 11 meses, espera a indenização, compra uma moto ou um carro, e depois passa um tempo no seguro-desemprego. Isso acontece com frequência”, diz o empresário. 

Para ele, muitas vezes o problema não está na falta de oportunidades, mas na resistência dos jovens em aceitar cargos que não correspondem exatamente ao que idealizaram. “Às vezes não tem vaga no setor dos sonhos, e preferem não trabalhar. Só que toda experiência conta. Se você foi um bom funcionário, alguém vai te indicar”, afirma.

Fraga acredita que programas como o Jovem Aprendiz são essenciais para iniciar adolescentes e jovens na cultura de responsabilidade e compromisso. Em sua empresa, quatro aprendizes estão atualmente contratados. “Gosto de trabalhar com jovens, mas não é simples. Eles têm uma vida social muito ativa, em balada, bebidas etc, que pode interferir. Além disso, falta maturidade para entender que o trabalho precisa ser prioridade. Com o tempo, isso vem”, acrescenta. 

Outro problema, é que áreas como Odontologia, Administração e Direito enfrentam saturação, segundo dados da pesquisa Exame. Além das competências técnicas, o mercado exige soft skills, que requer habilidades pouco ensinadas nas escolas. Segundo o Instituto Carnegie de Tecnologia, apenas 15% do sucesso financeiro vem do conhecimento técnico; os outros 85% dependem de habilidades comportamentais. 

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