Uma pesquisa realizada em 2024 pela Global Education revelou que 47% dos brasileiros consideram a educação no país ruim.
Késia Grigoletto
A região norte do Brasil tem a pior frequência escolar até os 17 anos, segundo o Censo 2022 de Educação do IBGE, divulgado em fevereiro deste ano. O maior índice de desproporção está nos primeiros anos da escola. Apenas 16,6% das crianças de zero a três anos frequentam unidades escolares, enquanto no Sudeste, essa porcentagem salta para 41,5%.
Os dados revelam que, entre 2000 e 2022, o Brasil apresentou um expressivo aumento na frequência escolar em todas as regiões do país. No entanto, as desigualdades regionais ainda são uma realidade latente. Os estados da federação com maior destaque negativo com relação à frequência escolar são Roraima e Amapá, ambos na região norte.
Uma meta distante
O aumento mais significativo de frequência escolar foi entre as crianças de zero a três anos. Em 2000, a porcentagem de crianças de até 3 anos que estavam nas escolas correspondia a 9,4%,já em 2010 esse número saltou para 23,5% e em 2022 para 33,9%. Apesar de ter havido um aumento expressivo nesses números, e disso significar um avanço para o país, não há a frequência de nem 50% das crianças dessa faixa etária, número abaixo da meta mínima estabelecida pelo Plano Nacional de Educação.
O Brasil possui 5.570 municípios, mas apenas 646 desses municípios possuem 50% de frequência escolar de crianças de zero a três anos. Esses 646 municípios significam apenas 11% do território nacional.
Diante desse cenário, alguns questionamentos podem ser levantados: o que as crianças de 89% do Brasil estão fazendo? As mães ou responsáveis de todas essas crianças têm condições de cuidar delas em casa durante o dia todo? Mais da metade das famílias brasileiras dispõem de uma configuração em que o sustento da família pode ser garantido com segurança apenas pelo trabalho de um dos membros em idade de trabalhar?
Isolamentos, distâncias e dificuldades
Os estados do norte do Brasil são menos integrados ao restante do território, isso influencia de maneira significativa a evasão escolar. “Em estados como o Acre, as chuvas intensas e a seca prejudicam tanto os ramais quanto a navegação nos rios. Isso encarece e dificulta o deslocamento diário de alunos e professores”, explica secretário de educação do estado do Acre, Aberson Carvalho.
Além desses fatores, o secretário comenta que as condições socioeconômicas atuam como um fator determinante, já que muitas famílias precisam da ajuda dos filhos para uma complementação de renda. Isso torna o estudo uma prioridade secundária.
O secretário ainda explica que nas áreas mais vulneráveis, essa realidade é ainda mais palpável. “O governo tenta amenizar isso com programas de assistência social, ou conciliar o ensino técnico, para que o jovem perceba que, a longo prazo, permanecer nos estudos traz um futuro melhor”, expõe.
Outras ferramentas são programas do Governo Federal, como o pé-de-meia, no qual o estudante do ensino regular recebe o pagamento de incentivos mensais no valor de R$ 200, que podem ser sacados em qualquer momento.
Para o professor de história Felipe Júnio, a maioria dos alunos que frequentam escolas públicas não está ali para desenvolver suas potencialidades e habilidades. Mesmo que estas pudessem se desenvolver em um ambiente escolar que é voltado para a criatividade, sociabilização e avanço de competências para o mercado de trabalho.
“Muitos alunos que frequentam escolas públicas, não estão preocupados em aprender, em muitas ocasiões eles estão preocupados apenas em se alimentar. Essa triste realidade é presente nas nossas escolas, principalmente na região norte, onde o desenvolvimento econômico é em menor escala, em comparação ao sul e sudeste do nosso país”, reflete o docente.
Os dados da educação de um país, refletem a prioridade que é dada para a área. O Brasil luta por uma educação digna, de melhor qualidade, visando proporcionar uma vida melhor para os cidadãos. O Secretário de Educação do estado do Acre destacou a importância do projeto Prato Extra que pretende garantir alimentação de qualidade e combater a insegurança alimentar, inclusive, durante o período de recesso.
“A formação continuada dos professores também é prioridade, para tornar as aulas mais atraentes. Também possuímos o Programa Busca Ativa, que acompanha a evasão escolar, buscando os estudantes evadidos em casa”, conclui Aberson Carvalho.