É distração ou TDAH?

In Geral, Saúde

Uma pesquisa norte-americana do CDC comprovou que meninos têm maior probabilidade de serem diagnosticados com TDAH em relação às meninas. 

Késia Grigoletto 

“Esse menino está no mundo da lua”, “essa menina não consegue ficar quieta”, “garota, para de ser avoada”, “a fulana não consegue focar em nada”. Essas são algumas das clássicas frases ouvidas por pessoas mais distraídas. Muitas pessoas associam esse sintoma ao TDAH, também conhecido como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. 

A Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA) estima que dois milhões de brasileiros convivam com essa condição. O aumento considerável desses diagnósticos está levantando questionamentos sobre possíveis exageros e equívocos, o que pode gerar sérios prejuízos, porque tratamentos inadequados e remédios impróprios podem causar consequências graves.   

O que é TDAH e quais as suas implicações? 

A psicóloga Bruna Quevedo explica que o TDAH é classificado como um transtorno de neurodesenvolvimento que diz respeito a alterações em áreas responsáveis ​​pelas funções executivas, (especialmente no córtex pré-frontal). Isso resulta em uma regulação ineficaz de dopamina e noradrenalina (neurotransmissores fundamentais para o foco, a atenção e o controle de impulsos).

Dessa forma, para chegar a um diagnóstico confiável se faz necessário, compreender quando os sinais ocorrem e quais são os prejuízos para o cotidiano. “Também se busca descartar outras causas em potencial, como ansiedade, depressão, problemas de sono, hábitos prejudiciais ou eventos traumáticos, já que sintomas pontuais ou distração isoladamente não caracterizam o transtorno”, sinaliza a psicóloga. 

De acordo com o DSM- 5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), os critérios diagnósticos são: desatenção, dificuldade em manter a atenção, esquecer tarefas ou detalhes; hiperatividade, movimentação excessiva, inquietação ou fala excessiva; impulsividade, interrupção frequente dos outros e dificuldade em esperar a vez.

Segundo o psiquiatra Otávio Cutrim, para que o diagnóstico seja feito, é necessário a apresentação frequente de seis sintomas em um dos aspectos citados, por pelo menos seis meses. Estes sintomas, caso frequentes, causam danos sérios na rotina diária.

O aumento nos diagnósticos de TDAH pode ser explicado por uma maior conscientização e melhor detecção dos sintomas. Mas isso também revela preocupações sobre o hiperdiagnóstico, excesso ou erro no diagnóstico de um transtorno. “Esses hiperdiagnóstico ocorre devido à pressão para identificar e tratar rapidamente essa condição, especialmente em ambientes educacionais”, acrescenta Otávio. 

Consequências de diagnósticos equivocados 

De acordo com o psicanalista Félix Bragantini, se existe um diagnóstico correto, as consequências da medicação são menores que os da doença, se não há transtorno, os prejuízos com o remédio são desnecessários. “Não existe um dado para apresentar as consequências de um diagnóstico mal feito e medicação excessiva, isso vai aparecer no futuro, porém, qualquer uso medicamentoso sem real necessidade é prejudicial”, comenta. 

O especialista ainda explica que há quem defenda que um diagnóstico errado interfere no crescimento da criança, mas que outras consequências podem ser percebidas. Uma criança agitada, ativa naturalmente pode ser enquadrada como quem tem o transtorno, por pais ou professores que confundem a agitação de uma criança que fica 6 a 10 horas no videogame e tem um mundo de energia acumulada. “O professor pode passar a exigir menos do aluno, tratá-lo como quem tem alguma limitação e essa criança perder o desenvolvimento adequado”, completa. 

Para a psicóloga Bruna Quevedo, é importante salientar que não é prudente desincentivar a busca por um diagnóstico. “Nossa busca deve ser pela democratização de um diagnóstico qualificado e assertivo. Pelo incentivo à qualificação, especialização e aperfeiçoamento profissional na área de saúde mental”, afirma.

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