A amaxofobia, transtorno relacionado ao medo de dirigir, é mais comum entre as mulheres.
Gabrielle Ramos
Coração acelerado, suor nas mãos, tremores e falta de ar podem ser sinais de que alguém tem medo de dirigir. Embora esse receio seja comum em muitas pessoas, é classificado como amaxofobia, um transtorno caracterizado por medo ou aversão persistente a conduzir um veículo.
A amaxofobia pode afetar tanto quem está ao volante quanto quem ocupa o banco do passageiro. A condição é mais frequente entre as mulheres, que correspondem a cerca de 80% dos casos registrados.
Sinais e causas
Muitas pessoas não conhecem esse transtorno justamente por não conseguirem diferenciar um nervosismo comum de algo que ultrapassa o normal. “A amaxofobia tem sintomas mais severos, como coração acelerado, mãos ou pernas trêmulas, dificuldade de respirar. Isso pode paralisar a pessoa, impossibilitando-a até mesmo de ligar o carro e dar continuidade na ação”, explica a psicanalista Aline Rosário, especialista no tema.
O educador de trânsito e direção, Wellington, afirma que o medo de dirigir pode ser causado por experiências pessoais, como acidentes passados, ou pela exposição a outros. Além disso, pode surgir de forma repentina, como no caso de uma pessoa que, após um pequeno incidente ao sair da garagem, passa a evitar dirigir.
A psicanalista destaca que a amaxofobia pode limitar oportunidades profissionais, dificultar a expansão de clientes e afetar a rotina, como ir ao mercado. Em casos mais graves, a dependência de carona pode gerar conflitos no relacionamento.
Esse foi o caso de Thamires Ribeiro, que, por morar no interior e não saber dirigir, enfrentava dificuldades para buscar emprego em cidades maiores. “Relutei muito para tirar a carteira de motorista, porque já tinha medo”, conta. Na época, acabou tirando a CNH por influência da mãe, mas escondia seu receio de dirigir.
Por que mulheres?
A psicanalista explica que as principais causas desse medo estão ligadas a traumas e crenças negativas sobre dirigir. Entre as mulheres, essa dificuldade costuma ser mais comum, especialmente quando crescem sem referências femininas ao volante ou são expostas a comentários depreciativos sobre sua capacidade de dirigir. “Isso dificulta sua relação emocional com a função”, afirma.
Ayumi Takizawa relata que só percebeu o medo de dirigir quando decidiu tirar a carteira de motorista aos 31 anos. “Quando comecei a dirigir, não tinha uma noção espacial muito boa e tinha medo de colocar minha vida e a de outras pessoas em risco”, recorda.
Apesar do medo, Ayumi conseguiu tirar a carteira na terceira tentativa, no entanto, mesmo após conquistar a habilitação, ainda enfrentava dificuldades para dirigir no dia a dia. “Antes de sair, eu precisava meditar para conseguir manter a calma e também sair com bastante antecedência”, explica.
O mesmo aconteceu com Thamires, que, ao obter a CNH, percebeu que o medo de dirigir era mais intenso do que imaginava, chegando a sonhar com atropelamentos e acidentes causados por ela. “No meu caso particular, não foi necessário buscar ajuda profissional, embora tivesse sido muito bom e teria acelerado o processo”, reflete.
Diagnóstico e tratamento
Aline explica que o diagnóstico da amaxofobia é feito por meio de uma avaliação clínica realizada por um profissional de saúde mental. O tratamento, então, busca identificar a origem do medo e ressignificá-lo, ao promover uma aproximação gradual e segura com o ato de dirigir.
Aliado ao trabalho de um psicólogo, Wellington recomenda buscar um profissional da área técnica. Ele destaca a importância de não se comparar com os outros, pois cada pessoa tem um ritmo e uma jornada única. “Às vezes, a pessoa precisa se desenvolver em outras atividades para conseguir dirigir com mais confiança e habilidade”, afirma.
Contratar um profissional que ajudasse Ayumi Takizawa a treinar aspectos da direção que não tinha tanta segurança foi a solução encontrada por ela. “Penso que foi a melhor forma que encontrei para vencer o medo. Ainda sinto um pouco, mas a gente só consegue vencer enfrentando”, reflete.
Thamires compartilha que também começou a perder o medo quando realmente passou a dirigir. Para isso, não começou com trajetos longos, mas, aos poucos, com distâncias curtas, foi ganhando mais confiança. “Hoje, acho dirigir algo super tranquilo. Para mim, é uma parte normal da vida”, garante.
Wellington, instrutor especializado em ajudar pessoas a perder o medo de dirigir, compartilha que uma de suas alunas ficou sete anos sem dirigir após um acidente. Após participar de um projeto online para pessoas habilitadas, mas com medo de dirigir, conseguiu superar suas inseguranças e agora dirige sozinha, até em viagens.
É justamente por querer que outras pessoas também se sintam encorajadas que Ayumi fala abertamente sobre esse medo nas redes sociais. “Se as pessoas soubessem que tem muita gente com esse medo, talvez fossem um pouco mais pacientes no trânsito”, compartilha.