Dados foram recolhidos pela Sobed, SBCP e FBG.
Lana Bianchessi
Todos os dias, cerca de 265 brasileiros são internados no Sistema Único de Saúde (SUS) por complicações graves relacionadas ao câncer de intestino, também chamado de câncer colorretal.
Identificado ao longo de 2022, o número alcançou o maior nível da década, conforme levantamento da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed) juntamente com a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) e a Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG).
Como é o câncer de intestino?
O câncer de intestino ou colorretal tem origem multifatorial, que significa o resultado de complexas interações entre fatores genéticos e ambientais, também denominadas de doenças complexas.
Muhamed Ali Hijazi é coloproctologista, que é o profissional especializado no tratamento de doenças do ânus e intestinos delgado, grosso e reto. Ele explica que esse câncer é um tumor que se desenvolve lentamente e de forma silenciosa, principalmente, a partir dos 45 anos.
“Isso porque a formação dos pólipos, que é uma projeção de um crescimento de tecido a partir da parede de um espaço vazio, demora cerca de 10 anos e eles podem se tornar malignos à medida que o tempo passa”, diz o médico.
Causas
A coloproctologista Jéssica Fraga explica que o câncer colorretal tem origem multifatorial. Esse tipo de câncer é uma doença heterogênea, uma condição em que os sintomas são causados por duas ou mais doenças diferentes, onde foram identificadas algumas vias oncogênicas.
As duas principais são os cânceres esporádicos, que correspondem à maioria dos casos e têm como fatores de risco, principalmente, a idade, estilo de vida e os tumores que são associados às síndromes de câncer colorretal hereditário.
Já o câncer colorretal esporádico tem como fatores de risco: idade (a partir dos 50 anos), obesidade, tabagismo, baixa ingestão de fibras e ingestão excessiva de álcool.
Um relatório da Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (IARC), um órgão ligado à OMS, revela que o consumo de carnes processadas, como salsicha, linguiça, bacon e presunto, aumenta o risco de câncer do intestino em humanos.
Pacientes internados
De acordo com a Sobed, SBCP e FBG, foram registrados 768.663 hospitalizações só no SUS para o tratamento da doença entre 2013 e 2022. Em 2021, foram registrados 19.924 óbitos decorrentes desse tipo de câncer. Os casos aumentam, em média, cerca de 5% a cada ano, sendo que houve crescimento de 40% em relação aos casos registrados em 2012, que foram 14.270.
As internações são feitas com pacientes que procuram atendimento por quadro de dor abdominal, inchaço abdominal e por passarem muitos dias sem evacuar. Os tumores em estágios avançados podem obstruir o intestino e em casos graves até causar o seu rompimento, quadro que traz um risco altíssimo de infecção grave e alto risco de óbito.
Pacientes já diagnosticados com câncer podem ser internados por efeitos colaterais de radioterapia, quimioterapia e complicações pós-operatórias. A médica expressa que “infelizmente muitos diagnósticos de câncer ainda são realizados em unidades de emergências”.
Segundo Muhamed, em alguns casos, o tumor de cólon pode gerar complicações como sangramento exacerbado, obstrução intestinal, perfuração intestinal e fraqueza intensa, levando o paciente a necessitar de uma internação para tentar, de algum modo, amenizar o sofrimento do paciente.
Tratamento do câncer de intestino
De acordo com o doutor Muhamed, o tratamento depende do estadiamento desse câncer e em qual segmento ele está localizado, podendo variar entre a realização de cirurgias, quimioterapia e radioterapia. A realização do exame de colonoscopia, que permite visualizar as possíveis lesões na mucosa e retirá-las, e certas medidas tomadas no dia a dia ajudam a prevenir este tipo de câncer.
A colonoscopia possibilita o acesso visual às lesões da mucosa e a retirada delas, portanto, não é um simples exame diagnóstico, mas também um procedimento terapêutico, que ao retirar os pólipos é capaz de evitar o aparecimento do câncer. Para aqueles que não pertencem a nenhum grupo de risco, é aconselhado fazer a primeira colonoscopia aos 45 anos de idade.
O câncer colorretal está muito associado ao estilo de vida, de forma geral, manter uma vida saudável ajuda na prevenção desse câncer. Realizar o rastreamento do câncer colorretal no momento adequado é fundamental. Quando esse câncer é diagnosticado em estágios iniciais, antes de causar sintomas, as chances de cura aumentam para mais de 90%, é o que afirma a coloproctologista Jéssica.
“Precisamos ressaltar que o tratamento do câncer evoluiu muito ao longo dos anos e com ele, é possível restabelecer, na grande maioria dos casos, a qualidade de vida dos pacientes”, conclui Jéssica.