O país tem a maior quantidade de óbitos pela doença desde 2015.
Gabrielle Ramos Venceslau
O Brasil registra mais de 950 óbitos por dengue e mais outros 100 em investigação, de acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde deste ano. Este número é o mais alto desde 2015, quando foram 986 casos, o recorde atual. Em relação ao ano passado, a alta é de quase 290% das vítimas por esta doença. Assim, baseando-se no avanço da quantidade de mortes, os infectologistas alertam que o país deve ultrapassar esse número.
Essa possibilidade ocasionou estado de alerta na Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) no início do mês de novembro. Por isso, a entidade médica emitiu um comunicado afirmando que há uma possibilidade real de chegar a aproximadamente mil mortes neste ano, batendo o recorde.
Além disso, o vice-presidente da SBI, Alexandre Naime Barbosa, enfatizou a necessidade de ter mais atenção às medidas preventivas da doença. “É urgente que tenhamos uma política de retomada efetiva para combater o vetor da dengue. A situação é crítica, por isso fazemos esse alerta nacional”, alerta.
Panorama do início do ano
Em janeiro deste ano, os casos de infecção por dengue cresceram simultaneamente às contaminações por Covid-19. O aumento da contração de dengue foi de aproximadamente 50% em relação ao mesmo período do ano passado. Comparado ao último ano pré-pandemia, este ano já possui 15% a mais do número de mortes registrado durante os 12 meses de 2019.
A infectologista Keilla Freitas afirma que “o aumento do número de óbitos no Brasil pela dengue é uma situação preocupante”. Ela explica que uma das causas para este aumento é o foco nas infecções por Covid-19, que ocasionaram a falta de atenção no controle dos casos de dengue e, consequentemente, no crescimento dos óbitos.
Como o clima quente afeta proliferação da doença
O coordenador do Comitê de Arboviroses da SBI, Antonio Bandeira, afirma que a dengue não é restrita apenas às regiões quentes do Brasil. “A dengue teve aumento exponencial e no Brasil não tem mais fronteiras geográficas. Está presente em todos os estados e é uma doença democrática”, analisa o especialista que trata das doenças causadas por insetos.
De acordo com os dados, os estados que possuem a maior quantidade de mortes pela doença são São Paulo, com 274 casos; Goiás, com 142; Paraná, com 107; Santa Catarina, com 88, e Rio Grande do Sul, com 66 óbitos. Além disso, a região Centro-Oeste lidera a taxa de incidência da doença, com 1,9 mil casos, seguida das regiões Sul e Sudeste.
Apesar disso, Keilla Freitas afirma que ainda não estamos no pior momento epidemiológico esperado para a dengue. Pois, “o final do ano é o momento em que vem as chuvas e o calor, e isso faz com que naturalmente o mosquito se multiplique mais e consequentemente o vírus também, porque é passado através da picada do aedes aegypti”, explica.
Tratamento e sintomas
Para evitar que a dengue desenvolva complicações graves, como a hemorragia, a infectologista enfatiza a importância da população conhecer os sinais de alerta. Afinal, essa doença não possui tratamento específico. Assim, quanto antes o diagnóstico for feito, mais fácil fica para que os médicos façam os procedimentos corretos. “Temos que estar sempre um passo à frente da infecção”, ressalta.
A médica também expõe que é preciso ficar atento aos sintomas, como febre, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dor nas juntas, vermelhidão na pele, dentre outros. Especialmente, ao saber de casos nas proximidades. “Por isso, conscientizar a população dos sintomas para poder fazer o diagnóstico e ter esse acompanhamento médico próximo é importante e faz toda a diferença”.
A importância de combater
Apesar de existir uma vacina para a dengue, ela só está indicada para pessoas que comprovadamente já tiveram dengue, e mesmo assim, a resposta desse imunizante não é tão boa, afirma a médica. Dessa forma, “os principais [meios para combater] são as medidas preventivas de controle de ambiente: diminuir a proliferação dos mosquitos e ao mesmo tempo prevenir as picadas com repelentes”, esclarece a Dra. Keilla Freitas.
Por isso, é importante combater a dengue com uma ação conjunta da sociedade como um todo. “Pois se uma pessoa faz sua parte e o vizinho não faz, todos acabam se prejudicando”, destaca a infectologista. Algumas formas de se prevenir citadas por ela são: evitar fonte de água parada, tanto suja como limpa; passar bastante repelente em todas as partes expostas do corpo e se atentar a casos nas proximidades.