O cenário do futebol passa a contar com plateia virtual ou gravações, e jogadores precisam se acostumar ao novo normal
Bruna Moledo
Devido aos novos protocolos sanitários da Covid-19, a estrutura do futebol sofreu adaptações. Entre elas, a perda da torcida presencial. A partir disso, novos métodos passaram a ser incorporados na tentativa de solucionar o problema. Plateias virtuais, gravações veiculadas por auto-falantes e até bonecos de plástico foram utilizados com esse propósito. Com o fim da pandemia ainda longe de ser avistado, as soluções provisórias correm o risco de se tornarem definitivas.
O modo de se fazer futebol mudou com a perda da presença de uma plateia entusiasmada. Com isso, a relação entre atleta e torcedor foi alterada. Os estádios cheios de gritos e empolgação agora encontram-se vazios, e os jogadores enfrentam o time adversário em meio ao silêncio. O momento não é promissor, e a falta da torcida pode afetar até mesmo o clima de rivalidade antes tão característico do futebol.
O torcedor Caio Vieira não pensa diferente. Desde 2004, já esteve presente em mais de 20 jogos. “Com certeza, o jogo não é o mesmo sem torcida”, diz Caio. “O clima de competitividade aumenta muito com a torcida, no contexto pandêmico, isso não acontece”, completou.
Vieira não é o único a pensar dessa forma. Segundo Davi Lopes, psicólogo esportivo, as arquibancadas cheias podem afetar a performance dos jogadores. Os torcedores estão diretamente conectados com a motivação dos atletas, influenciando até mesmo no resultado dos jogos. “A falta dessa plateia, dessa torcida, pode afetar a motivação dele para ter uma boa performance. Se um atleta entende que a torcida é um motivador, ele pode se sentir menos motivado”, disse Davi. Em um contexto onde as aglomerações ainda não podem ocorrer, o futebol tende a perder sua identidade original, que está conectada com o público.
Quem também acredita que o futebol não é o mesmo sem a presença da torcida, é Anderson Souza, ex-jogador profissional. “Sobre o futebol sem torcida, no meu ponto de vista, não será o mesmo”, afirmou Anderson. “Ver o hino do seu clube sendo cantado por eles é arrepiante, e isso conta, e muito”.
Para ele, a plateia tem um peso grandioso na parte motivacional dos atletas que, muitas vezes, preparam-se para os jogos para mostrar o resultado do treino aos seus fãs. Mesmo com grandes esforços, torcedores virtuais não podem substituir os gritos e aplausos de milhares de pessoas no espaço físico. O futuro do futebol pode não estar ameaçado pela pandemia, no entanto, os profissionais dessa área terão de se adequar aos novos formatos, sejam com a perda definitiva dos torcedores ou só parcial.