Os dilemas e responsabilidades de quem cria conteúdo para as redes sociais
Lorena Freire
Em tempos de pandemia, o tempo gasto em entretenimento e redes sociais subiu significativamente. Uma análise divulgada pela empresa Comscore, mostra que a audiência em plataformas digitais brasileiras sofreu uma intensificação após a quarentena. No intervalo de 16 a 22 de março de 2020, data que deu início ao isolamento social no Brasil, as categorias jogos, entretenimento e mídias sociais cresceram 20%, 22% e 26% respectivamente em comparação entre os dias 9 a 15 do mesmo mês. A análise também expressa que o número de acessos nas redes sociais aumentou de 34 bilhões para 43 bilhões, com 19% de aumento no tempo médio de permanência.
Neste cenário, com os brasileiros consumindo cada vez mais conteúdo, os influenciadores digitais têm que se virar nos trinta, e produzir mais material para atender essa demanda. Mas o grande desafio tem sido deixar a criatividade voar longe sem sair de casa.
A criadora de conteúdo Kelly Ribeiro fala um pouco sobre como tem sido adequar sua rotina ao novo contexto. “Após a quarentena mudou sim o processo de produção de conteúdo, embora tenham muitos influenciadores que já tinham contrato com marcas e precisavam continuar fazendo suas campanhas de publicidade. Eu continuo produzindo conteúdo sobre o meu nicho, mas eu acabei acrescentando mais umas ideias que eu não utilizava antes, fora do meu segmento. E quem produz conteúdo para a internet tem que dançar conforme a música, né? (risos) Tem que ir se adaptando as novas mudanças, se inovando”.
E ela ainda ressalta o papel destes profissionais: “O papel do influenciador é de extrema importância por que uma quantidade de pessoas considerável acaba nos acompanhando e gerar conteúdo de valor é algo fundamental”.
De fato o influenciador é muito importante, especialmente aqueles que disseminam a influência do bem. Com as aulas presenciais suspensas em todas as instituições do país, alguns profissionais têm disponibilizado aulas e workshops em suas redes sociais. É o caso da Andréia, que é cantora, musicista e professora. Ela tem feito de seu perfil um ambiente de aprendizado.
“Trabalho com o nicho de música, mais especificamente educação musical, voltada para o canto e técnicas vocais e o meu Instagram tem sido uma ferramenta muito boa para expor esse conhecimento, principalmente nessa época de pandemia, onde as pessoas não têm como estudar presencialmente”, afirma.
Mas com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades. Notícias falsas têm sido veículadas em massa nos últimos dias. Uma doença nova sobre a qual pouco se sabe é um cenário favorável para a difusão de teorias da conspiração e especulações sem base científica. Consequentemente, aqueles que contam com um grande número de seguidores, têm o dever de repassar ao seu público conhecimento, ajudando no combate às fake news e à desinformação. É o que declara Fernanda Catânia, mais conhecida como Foquinha, em entrevista para o portal dialogando: “Todo mundo que tem seguidores, não importa se são poucos ou vários, influencia as pessoas nas suas atitudes, no que faz, no que pensa, no que fala. Dizer que está em casa de quarentena, mostrar que está em casa e explicar por qual razão devemos ficar em casa, isso, com certeza, os incentiva a fazer o mesmo”. A influenciadora, que possui mais de 2 milhões de inscritos em seu canal, participou ainda no começo da pandemia de uma campanha institucional do YouTube com um vídeo ensinando o jeito correto de lavar as mãos.
Porém, é óbvio que nem todas as influências são boas. Um exemplo disso é o caso da blogueira de saúde e fitness Gabriela Pugliesi- episódio que foi muito falado na internet, no ano de 2020. Um mês após ser diagnosticada com coronavírus, a influenciadora resolveu dar uma festa em sua casa, ignorando a medida de isolamento social. Devido à repercussão negativa, muitas marcas que mantinham parceria comercial com a blogueira preferiram se desvincular de sua imagem. Após ser duramente criticada e alvo de cancelamento nas redes sociais, Pugliesi publicou um pedido de desculpas: “Por conta daquilo, eu perdi uma boa parte da minha paz, perdi alegria, perdi trabalho, como vocês sabem. Perdi a confiança de vocês. Mas de tudo isso, o que eu mais perdi foi a mim mesma. Eu comecei a me questionar demais, num momento de fragilidade, você começa a acreditar em tudo de ruim que começam a falar de você. Fui completamente imatura e irresponsável. Eu sei que meu alcance é muito grande, eu sei que tenho uma responsabilidade, de jeito nenhum quero dar esse exemplo. […] eu quis dar uma desligada da vida, mas fui infantil, imatura. E assim, sobre esse episódio então, eu queria mais uma vez pedir desculpa. Se eu te ofendi, nunca foi minha intenção”.
A responsabilidade do influenciador realmente não é pequena, ainda mais no meio de uma pandemia. Com muitas pessoas admirando e se inspirando, o criador de conteúdo precisa ser cauteloso em suas redes sociais. Mas a boa notícia é que não precisa ter milhares de seguidores para ser influencer. Todos, em pequena ou larga escala somos influenciadores na vida de alguém. Seja na escola, na faculdade ou no trabalho, nós temos o papel de alertar e de ensinar coisas boas. E você, cumpriu seu papel como boa influência hoje?