Alguns casos em que o silêncio profissional estabelecido em lei deve ficar em segundo plano.
Raíssa Oliveira
Após vivenciar um período pandêmico nos últimos anos, muitas pessoas puderam dimensionar o quanto um acompanhamento psicológico é importante no cotidiano. Dados divulgados em 2020 pelo Ministério da Saúde baseiam a afirmativa e indicam que cerca de 63% da sociedade brasileira procurou um profissional especializado ou gostaria de ter tido auxílio.
A importância significativa do trabalho dos psicólogos destaca a grande responsabilidade que eles assumem em sociedade, levando em conta que o sigilo com o paciente faz parte da ética profissional. Compreender todo esse silêncio e seus limites, faz com que os pacientes entendam melhor o contexto em que se inserem e até cobrem seus direitos do profissional, ao qual confiaram as suas angústias e segredos.
Conselho de Ética Profissional do Psicólogo
O Conselho de Ética Profissional garante em seu nono artigo o dever do psicólogo em respeitar o sigilo para proteger a intimidade das pessoas a que ele tem acesso em seu exercício profissional, por meio da confidencialidade.
A psicóloga Melissa Streck esclarece a importância de não haver quebra de sigilo para o progresso da terapia e para um relacionamento confiável e saudável estabelecido com o paciente. “Essa garantia se torna extremamente importante para um bom desenvolvimento da relação terapêutica, deixando a pessoa segura para se expressar em atendimento psicológico”, explica.
Melissa acrescenta, com base no artigo 10 do código de ética, que o psicólogo pode quebrar o sigilo profissional apenas em alguns casos previstos em lei. O profissional pode decidir pela quebra do silêncio para preservar a integridade física e psicológica desse paciente.
“Desta forma, quando uma pessoa se coloca ou pretende se colocar em uma situação de risco à sua integridade, o psicólogo pode romper o sigilo para preservá-la. Outra situação em que o silêncio deve ser quebrado é no caso de maus tratos contra crianças, adolescentes e mulheres, sendo orientada a denúncia e a procura por redes de apoio”, menciona.
Experiência profissional
A psicóloga Taramis Sartório comenta sobre uma experiência marcante para ela em um atendimento com uma paciente infantil em que os pais eram separados. “A mãe me procurou para ajudar a sua filha. Em pouco menos de três sessões, o pai descobriu que a criança estava fazendo terapia e veio me procurar querendo cobrar judicialmente por não ter o consultado antes de começar o trabalho com a criança”, relata.
“Neste caso é muito importante ter ciência de todas as nossas obrigações e atribuições enquanto profissionais da saúde. Após isso, sempre pego assinatura de autorização para atendimento psicológico ao responsável legal pelo menor de idade, pois senti necessidade de me resguardar legalmente”, finaliza.
O outro lado da moeda
Manuela Lima frequenta atendimentos psicológicos regularmente e comenta sobre o papel importante que a terapia ocupa em sua vida. Iniciou o acompanhamento para resolver um problema específico e evoluiu em vários outros aspectos. “A gente precisa confiar no psicólogo que frequenta para poder nos expor para ele. É para isso que serve a terapia, falar sobre as suas partes mais vulneráveis”, relata.
Quando questionada sobre como se sentiria em um contexto de quebra de sigilo entre seu profissional, conta que perderia a confiança nele. “Claro que pode haver um momento do processo de terapia que essa quebra seja necessária, mas se eu ficasse sabendo que a minha psicóloga simplesmente fala dos meus problemas para outras pessoas, provavelmente eu trocaria de profissional”, conclui Manuela.