Real, a sobrevivência de um povo

In Economia, Geral

Em 2021, a desvalorização do real foi responsável pela queda no poder de compra dos brasileiros de produtos da cesta básica gerando fome e desemprego

Carlos Daniel

“Eu não sei se compro a passagem do ônibus ou compro comida para minha casa.” afirma o universitário Guilherme Oliveira. Não está fácil para ninguém. Viver no Brasil é um ato de sobrevivência.

A desvalorização do real neste ano superou países africanos como Libéria (5,9%) e Namíbia (5,6%). A bandeira parou de tremular. O verde que representava a natureza ficou opaco. O amarelo que remetia ao ouro agora reflete a fome.

Desde o início do ano até a primeira semana de março, a moeda teve uma oscilação de 10,2% e afetou diretamente os trabalhadores das classes mais baixas. Essa variação teve início em 2018 com o impasse comercial entre Estados Unidos e China. As ameaças entre as potências econômicas mundiais tornaram o custo de vida mais caro, já que ambos países controlam a economia global e ainda não entraram em acordo. Os países emergentes (em processo de crescimento), como o Brasil, vendem a matéria-prima barata e adquirem o produto final com um preço mais elevado. Para se ter uma ideia, as refinarias exportam o petróleo e os postos de abastecimento compram a gasolina pronta, pois o mercado externo paga melhor que aqui. Para a economista Loraine Staut, a solução para controlar esse fenômeno não é simples, mas existe. “Seria no sentido de substituição de produtos importados por nacionais, mas nem sempre é possível”, relata.

A alta do dólar também é responsável por essa oscilação negativa.  A pandemia do novo coronavírus fez com que o mercado de ações reagisse negativamente devido à restrição do trabalho coletivo como prevenção ao contágio da doença. Essa ação acabou diminuindo a projeção dos lucros das empresas e gerou desemprego.  O processo apresentado é consequência de uma espécie de “efeito dominó”. Cada área da economia depende de outro setor para se manter ativa, mas a peça principal do jogo é a moeda estadunidense. É ela quem dita as regras.

O ‘empobrecimento’ das famílias

Segundo uma pesquisa feita pelo G1, o poder de compra nos produtos da cesta básica diminuiu com a perda de valor do real. Em um comparativo feito com R$200,00 entre fevereiro de 2020 e 2021, o brasileiro que comprava três pacotes de arroz passou a adquirir dois, e quem consumia quatro pacotes de feijão passou a consumir três. Esse tipo de redução está ligado à alta da inflação. O índice analisa o aumento contínuo do preço de bens e serviços importantes no dia a dia das pessoas e está vinculado ao custo de vida. Quanto maior for essa taxa, mais caros ficam os produtos nas prateleiras dos supermercados, e mais pobres ficam os brasileiros.

Maria Barbosa lamenta a situação que se encontra. “Todos os dias eu abro a minha geladeira e choro com o que eu vejo”. A doméstica e mãe de cinco filhos está desempregada desde o início da pandemia. Ela recebeu as nove parcelas do auxílio emergência, mas os valores mensais recebidos não eram nem suficientes para a compra do mês.  As classes sociais D e E são as que mais sofrem com esse fenômeno. Segundo o levantamento feito pelo G1, a carne teve um dos maiores aumentos, com R$11,24 por quilograma e forçou a venda da carne de frango e ovos.

A desvalorização do real não tem relação somente com a perda monetária do dinheiro, mas desencadeia outros problemas sociais como o desemprego e más condições de vida. “Bem que meu pai dizia que na época dele tudo era mais fácil”, acrescenta Guilherme Oliveira . Já para o empreendedor José Carlos a preocupação é não falir em tempos de recessão. “Não estou conseguindo manter o meu quadro de funcionários e isso me perturba todos os dias”, desabafa.

A combinação de fatores que contribuíram pelo “protagonismo” do Brasil entre os piores desempenhos de moedas do mundo é factual. Existe um paralelo de dominação entre os câmbios. Enquanto o dólar se baseia em produtos de oferta e demanda, como metais, ouro e petróleo, a maior economia da América Latina não possui uma base sólida de respaldo financeiro.  A desvalorização do real recai sobre milhares de famílias, gera desemprego, fome e miséria.

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