A lenda do Saci é uma das mais conhecidas por nós, brasileiros. Por meio desse conto folclórico é possível unir gerações com um propósito em comum: compartilhar a verdadeira história de um povo.
Laura Rezzuto
Meio metro ou três metros de altura, usando um gorro vermelho, segurando seu cachimbo, pulando apenas sob uma perna e pregando peças em todos os lugares por onde passa… é dessa forma que o Brasil inteiro conhece o nosso famoso saci-pererê, que tem um dia dedicado em sua homenagem, hoje.
O “moleque” saci é um ser mítico que pode ser facilmente encontrado em algum livro de histórias sobre o folclore, ou então, trançando as crinas de cavalos de alguma fazenda do país, como acreditam milhares de brasileiros. Essa lenda conta de um menino bagunceiro, que vive apenas para realizar incontáveis brincadeiras com quem cruza o seu caminho. Apesar de ter surgido no final do século XVIII, o garoto passou a ser conhecido através de uma das obras literárias de Monteiro Lobato.
Os maiores feitos do Saci
Seria difícil explicar a lenda do Saci aqui, já que não existem apenas uma ou cinco versões, mas, sim, dezenas, dependendo da região do Brasil. Algumas, inclusive, contam que ele pode chegar até três metros de altura e ter olhos vermelhos. Se isso é verdade? Não posso lhe confirmar, aliás, eu nunca vi, mas conheço quem diz que já.
Conhecido pelas brincadeiras simples, como o desaparecimento de objetos, panos de prato bagunçados, crinas de cavalos trançadas e freios de carroças quebrados. Porém, segundo diversas pessoas que dizem já ter tido a experiência de conhecê-lo, esse ser pode importunar pessoas em estradas, assoviar estridentemente, a ponto de desorientar alguém. Também pode azedar comidas, provocar redemoinhos e sequestrar bebês. Esse é o caso de Maria de Lourdes, 74, que há um tempo contou ter tido a sua vida “virada do avesso” por dois anos, na década de 80, graças ao Saci.
“Um dia bateu um vento dentro de casa que faltou levar a gente, o que era esquisito, porque eu e meus filhos moravámos no meio do mato, então aquele tipo de coisa não acontecia. Quando fitei os olhos, estava tudo revirado, as crianças estavam chorando, a comida tava só o pitiú (cheirando mal) e os animais, assustados. Falei com os vizinhos e ninguém mais tinha sentido aquilo, até que falaram que só podia ter sido o serzinho”, explicou a senhora.
Maria ainda conta que levou em consideração porque na região haviam relatos e avistamentos frequentes de criaturas incomuns, que, de vez em quando, assustavam a população. “Não sei nem dizer quantas vezes ouvi falar do boto. Uma vez ou outra aparecia alguma mulher grávida e triste pelo abandono que acabava restando. Tirando a parte que a criança nascia meio diferente e não vivia muito tempo. Por isso eu acredito que era o Saci que causava uma baderna na minha casa”, ressaltou Maria.
Lenda ou apenas um mito para gerar turismo?
Que as festas populares e a forte crença em fábulas culturais e brasileiras têm crescido não é uma surpresa para ninguém, mas, segundo um artigo da USP, essa evolução ligada ao folclore brasileiro e vinda até mesmo de outros países como Argentina e Uruguai, tem alguns motivos: valorização do mercado brasileiro, reforço de laços sociais e, por fim, o desejo pela atração de turistas ao nosso país.
De acordo com o artigo, existe um ponto importante nessa propagação de contos folclóricos que devem ser analisados. Um deles é a economia, que é uma das maiores chances de expandir o turismo no Brasil e automaticamente classificar a cultura brasileira como uma mercadoria.
Porém, o povo brasileiro ainda tem a esperança de que, na verdade, ao contarem essas lendas ou episódios ocorridos em nosso país, possam fazer a nação voltar no tempo e compartilhar as experiências vividas, expondo, assim, a verdadeira história de uma sociedade, que mesmo que de épocas distantes, divida cada vez mais os contos que aproximam um país inteiro. Lendas que correm em nossas veias e influenciam na união de um povo.