Cerimônia acontece no Palácio de Lambeth no sábado, 6 de maio.
Helena Cardoso
O Rei Charles III, que assumiu a coroa britânica após a morte de sua mãe, Rainha Elizabeth II, no dia 8 de setembro do ano passado, vai oficializar o cargo através de uma cerimônia. O evento tradicional atrai os olhares curiosos de todo o mundo foi realizado no sábado(6).
Mudança com tradição
Essa é a primeira coroação em 70 anos, e traz diversas mudanças misturadas com tradicionalismos para marcar o novo século. Entre elas está o chamado “coro de milhões”, onde o público será convidado pela primeira vez a se juntar para jurar lealdade ao rei e a seus herdeiros. Tradicionalmente, apenas os membros da Família Real realizavam o juramento, conhecido como “homenagem dos pares”.
Representação de todas as fés
Outra mudança é a presença de líderes de diferentes religiões, não apenas da anglicana. O primeiro-ministro do país, Rishi Sunak, é um hindu praticante, e vai ler o livro de Colossenses. No fim da cerimônia religiosa, o Rei Charles III será saudado por líderes judeus, hindus, sikhs, muçulmanos e budistas, que o presentearam com peças da insígnia, como o manto, o anel, os braceletes e a luva.
Esse momento não será audível para quem assiste de fora da Abadia de Westminster, porque além de ser um tanto íntimo, o rabino-chefe vai cumprir o Shabat (sábado) judaico, que proíbe o uso de eletricidade, incluindo microfones.
A presença desses líderes é para refletir a ideia do Rei, que quer promover a unidade entre diferentes religiões e celebrar as principais fés presentes no Reino Unido. Além disso, haverá uma celebração das diferentes culturas, com um hino cantado em galês, gaélico escocês e gaélico irlandês, outras línguas presentes no país.
Há também mais uma mudança relacionada à religião: o clero feminino terá papel de destaque. A bispa de Chelmsford, Guli Francis-Dehqani, e a bispa de Dover, Rose Hudson-Wilkin, darão a comunhão ao lado do arcebispo.
Entretanto, mesmo com a inclusão de outras fés, os três juramentos principais do evento continuam sem alterações, incluindo a promessa de manutenção da religião protestante. Para Justin Welby, líder da igreja anglicana, permanecer com esse juramento foi uma boa solução, já que alterar poderia causar consternação entre tradicionalistas da Igreja da Inglaterra.
Cuidado e preservação
Além de mudanças para abranger outras religiões e línguas, medidas para preservação animal também foram tomadas. Ao invés de utilizar o óleo da coroação anterior para a unção, como alguns monarcas fizeram, um novo lote foi fabricado neste ano. O óleo utilizado antes continha civeta e âmbar, encontrado em baleias cachalotes, mas a versão atual é vegana e feita de azeitonas.
Lista de convidados
Cerca de 2 mil convites foram enviados para o evento, que vai reunir tanto líderes mundiais quanto líderes de ONGs e instituições de caridade. Membros da Família Real até a 11ª linha de sucessão ao trono estão confirmados, inclusive com alguns participando da cerimônia. Entretanto, Meghan, esposa do príncipe Harry, não vai comparecer – embora ele também esteja confirmado.
Diversos líderes políticos, como o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak e ex-primeiros-ministros do país, também vão prestigiar a ocasião, além de presidentes de outras nações, incluindo Luiz Inácio Lula da Silva, Emmanuel Macron (França) e Andrzej Duda (Polônia). Já Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, informou ao rei Charles que não irá comparecer, mas confirmou a presença da primeira-dama Jill Biden.
850 representantes da comunidade também foram confirmados, incluindo 450 ganhadores da Medalha do Império Britânico e 400 jovens de grupos selecionados pela família real. Além disso, o evento será a maior operação cerimonial militar em 70 anos, pois terá a participação de mais de 6 mil membros das forças armadas.
Caminho até o evento
O Rei Charles III e a rainha consorte Camilla serão levados para o evento na Jubileu de Diamante, uma carruagem mais confortável e relativamente mais moderna do que a utilizada pela Rainha Elizabeth II em sua coroação. A Carruagem de Ouro do Estado, como é conhecida, esteve presente em todas as coroações desde a década de 1830. O motivo para a troca é o desconforto que o veículo proporciona.
A nova carruagem, embora pareça tradicional, possui ar-condicionado, vidros elétricos e suspensão hidráulica. Ela vai levar o Rei Charles III até a cerimônia, e o público pode assistir a procissão ao longo das ruas do centro de Londres. Depois da coroação, ela volta ao Palácio de Buckingham, onde Charles e Camilla aparecem na sacada junto a outros membros da família real.
Vestimentas tradicionais
Entre as inúmeras mudanças na cerimônia, as vestimentas não podiam ficar de fora. Essa é a primeira vez em 300 anos que a rainha consorte, Camilla, vai receber uma coroa já existente ao invés de uma fabricada apenas para a monarca.
O rei também optou por usar peças de outras coroações, como o manto imperial, produzido em 1821, e a luva de coroação, que serve para segurar o cetro. Ele ainda vai utilizar a “supertúnica” de 1911 e o “cinto da espada de coroação” usado pelo rei George VI, em 1937.
Onde assistir?
A cerimônia vai ser transmitida pela GloboNews a partir das 6h do sábado, com comentários de Francisco Vieira e apresentação de Cecília Flesch. Já quem não é assinante pode assistir ao vivo pelo canal aberto, pelo GloboPlay ou pelo site do G1. Para quem não tem problema em assistir em inglês, o site da emissora CBS e o canal oficial da Família Real no YouTube também vão transmitir ao vivo.
Mas afinal, a coroação é necessária?
Embora seja um evento importante e com toda a pompa que só uma coroação britânica tem, ela não é necessária para tornar um monarca rei. Pela lei, o descendente assume o trono automaticamente quando seu antecessor morre – nesse caso, Charles já está no cargo desde 8 de setembro de 2022. Mesmo assim, as coroações ainda são grandes gestos simbólicos, responsáveis por formalizar o compromisso do monarca com o papel e dos súditos com o rei.