“Uma dor terrível”, relata moradora afetada pela forte enchente no Rio Grande do Sul

In Geral, Meio Ambiente

O ciclone passou pelo RS no começo de setembro e causou chuvas fortes e enchentes na região, afetando os moradores e deixando pessoas desabrigadas.

Nycole de Souza 

Quem vê o tempo no Rio Grande do Sul nesta quarta-feira(20) agradece pela melhora após o ciclone e as fortes chuvas do início de setembro. A enchente que ocorreu nas últimas semanas afetou muitas pessoas e entre elas estava a professora Guiomar Menezes de 48 anos, que mora na cidade de Muçum, uma das cidades afetadas pela enchente.

Pela segunda vez, ela presenciou um acontecimento forte em sua região. Em 2020, houve uma grande enchente que destruiu a casa dela e de muitas pessoas. Desde aquele momento, ela só imaginava quando seria próxima. “Os últimos dias têm sido de caos, entulho e lama”, relata.

Alerta de risco

Já havia avisos de risco desde o final do mês de agosto, sendo que o primeiro deles foi feito durante uma reunião, pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), um órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

“Tomamos conhecimento de uma situação de risco dia 30 de agosto para a Região Sul, em especial para todo o Rio Grande do Sul e Sul de Santa Catarina. Para o dia 31, foi marcada uma reunião com a Defesa Civil com os três estados da região (RS, SC e PR) mais o Mato Grosso do Sul. Foi durante a reunião que passamos a previsão”, contou o coordenador-geral de operação e modelagem do Cemaden, Marcelo Seluchi em entrevista ao G1.

Ainda de acordo com o coordenador-geral, a previsão indicava 200 milímetros para os dias 1° e 4 de setembro, com a maior quantidade concentrada para o dia 4. A previsão afetava, principalmente, as regiões Norte, Central e dos Vales, podendo chover menos ou mais, mas ainda com risco e situação de alerta.

Houveram mais três alertas emitidos pelo Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad). No quarto aviso emitido pelo Cenad, foi comunicado sobre as fortes chuvas e o aumento no nível das águas. O rio Taquari, em Lajeado, que cobriu as cidades de Muçum e Santa Tereza, é conectado com o Rio das Antas e recebe as águas das regiões mais altas do Norte e da Serra.

“Dessa vez, eu prestei atenção nos alertas. É melhor ouvir e fugir, do que ficar esperando o pior acontecer,” disse Guiomar. Através dos alertas emitidos, ela conseguiu, com ajuda do pai de sua filha, recolher suas coisas. Recolheu suas coisas mais importantes e fugiu para o local onde ele mora. Por ser um local alto, ela acredita que é mais difícil para que o rio suba até lá.

A dor da perda

“Essa foi a pior enchente de todos os tempos e de toda a história do Rio Grande do Sul. Entre as várias cidades que foram atingidas, as mais afetadas foram Muçum, Encantado, e Roca Sales, a cidade onde estou abrigada”, disse a professora. Na última enchente, ela e sua filha se abrigaram na casa de uma vizinha, que possuía dois andares. Dessa vez, se tivesse feito a mesma coisa, teria que ser resgatada de barco, o que aconteceu com várias pessoas que acreditaram que a água não chegaria em um nível tão alto.

Guiomar complementa dizendo que não conseguiu se recuperar das enchentes até hoje. “As portas de dentro da minha casa não funcionam desde 2020, passaram-se três anos e eu não troquei. Sofá? Eu não comprei, e tudo bem, eu vivi sem sofá, não me fez falta, eu podia ter comprado. Eu sabia que viria a próxima. A melhor televisão que eu tinha dentro de casa, pendurei ela quase encostada no teto. Pensei que a água não subiria até lá, mas subiu. Subiu o triplo do que subiu em 2020 e isso ninguém pode prever”, relata.

A moradora prossegue contando como as perdas afetam o dia a dia. “Uma família que morava a duas quadras da casa que eu fui criada, sendo amiga, sendo colega. Pai e filho não saíram, o pai forte e o filho mesmo cadeirante era quase um atleta, ninguém consegue explicar porque eles ficaram lá dentro, uma dor terrível”, conta emocionada.

Ajuda humanitária

Na última terça-feira (12), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que o Governo irá emprestar R$1 bilhão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)  para ajudar na recuperação das cidades atingidas pelo ciclone. Além disso, Alckmin sobrevoou as áreas atingidas e disse que as regiões afetadas serão a maior prioridade para o Governo agora.

Na região, eles estão recebendo doações e, por não terem onde armazenar, estão direcionando para outras cidades algumas roupas, produtos de higiene e limpeza, colchões e cestas básicas. O essencial no momento tem sido produtos de higiene e roupas, a água também é muito útil, pois os reservatórios foram comprometidos pela lama e água do rio.

O prefeito de Muçum, Mateus Trojan, estabeleceu pontos de coleta focados em doações de móveis, eletrodomésticos e recursos financeiros, através de depósitos ou Pix em contas institucionais. Mais informações podem ser encontradas no Instagram da Prefeitura.

A ADRA também está presente em Muçum com uma carreta solidária para lavar as roupas e preparar refeições para as pessoas afetadas. Eles estão levando material de higiene e limpeza e voluntários para o serviço braçal. Você pode ajudar com doações através do Pix oficial da ADRA Brasil: emergencias@adra.org.br ou entrar no Instagram.

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