O índice revela que o aumento de 17,02% no valor imposto aos aluguéis vem de um acúmulo de prejuízo dado pela pandemia aos locadores.
Davi de Sousa
Os preços médios de aluguel dispararam em todo o território brasileiro nos últimos 12 meses, tendo uma alta cumulativa de 17,02% em relação ao ano anterior, de acordo com dados divulgados pelo índice de pesquisa FipeZap.
Esse aumento, segundo os especialistas da pesquisa, ocorre após uma época de negociações brandas dadas pela situação de crise econômica enfrentada durante a pandemia. Afinal, muitas pessoas ficaram desempregadas ou tiveram a renda desestabilizada, em conjunto com a alta procura desses imóveis bem localizados para locação, principalmente em meio à volta das pessoas para os centros empresariais.
De acordo com o indicador, de todas as 11 capitais analisadas, Florianópolis(SC) e Goiânia(GO) ocupam a liderança e o segundo lugar no índice. Essas capitais tiveram um aumento de 33,36% e 31,23%, respectivamente.
Outras capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro, que ocupam nono e sexto lugar respectivamente, causam surpresa. Isso porque as duas maiores cidades do país não estão nas primeiras posições, sendo que a causa é a descentralização de polos comerciais, já que outras cidades estão recebendo uma demanda populacional maior. O baixo custo de vida pode ser um dos motivos.
Mudança do preço dos aluguéis
O Coronavírus (Covid 19) mudou a vida de todas as pessoas, seja com o encerramento de ciclos pessoais ou profissionais. Com isso, a crise se instalou em diversas áreas, consequentemente o preço de atividades comuns também se elevou, o que afetou os aluguéis.
Um estudo recente levantado pelo Censo Quinto Andar de Moradia, realizado em parceria com o Datafolha, revelou que cerca de 27% da população brasileira vive de aluguel. Nos últimos meses grande parte do aumento do preço dos aluguéis veio com a recomposição de preços por parte dos proprietários dos imóveis após a pandemia, em que muitos dos locadores deram uma flexibilização nos contratos ou optaram por fazer ajustes com desconto.
“Realmente durante a pandemia a inflação era muito alta, o reajuste de aluguel que é ajustado pelo IGP-M (Índice Geral de Preços, também conhecido como “inflação do aluguel”). Então trabalhamos com as negociações, na qual conversamos sobre o valor e porcentagem dando margem a uma flexibilização”, afirma a corretora representante da CAF, corretora de imóveis, Natania Ludmila.
Variação dos indexadores do aluguel
O que decide e aplica essa inflação no mercado imobiliário é o programa do índice geral de preços, mas durante a pandemia variou muito a escolha do índice. Esse fenômeno aconteceu pelas grandes negociações feitas durante o período, sendo que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) como indexador de novos contratos.
Moradora da maior cidade brasileira, São Paulo, Marisa de Fátima trabalha como diarista na capital. Mãe solo de 4 crianças e viúva, trabalha de domingo a sexta para sustentar sua família. “Eu moro de aluguel há 5 anos,e em todo esse tempo só vejo um aumento constante. Na pandemia deu uma freada, talvez porque estava tudo tão incerto,mas com essa nova abertura os preços estão subindo junto”, diz. Essa é a realidade não muito diferente dos demais brasileiros que em sua totalidade são cerca de 58 milhões de pagantes de aluguel.
Maior demanda por imóveis de locação
Outro fator que explica esse aumento nos preços de aluguel, é simplesmente a alta procura destes imóveis, a famosa dinâmica natural de oferta e demanda. Umas das características deste começo de ano são as famosas finalizações de contratos e há um grande aumento de procura destes imóveis por novos interessados e há também uma grande busca por imóveis próximos de grandes empresas e polos comerciais, o que valoriza o preço desses imóveis.
“Mesmo antes da pandemia ,sempre a oferta e demanda de procura aumenta no final para o início do ano. Isso se vê por questões de transferência de empresas, escolas, faculdades ,são muito procuradas”, explica Natania.
Expectativas para o futuro
Nos últimos meses o mercado imobiliário sofreu uma alta em seus preços de procura, mas especialistas do ramo enxergam com muito entusiasmo os próximos meses, pois indicam que a expectativa é de uma grande desaceleração nos preços de procura. Isso reflete a economia brasileira com impulsos moderados na pandemia e o sonho da casa própria de milhões de inquilinos.
Para a corretora Natania essa desaceleração será marcada pelo sonho brasileiro da casa própria, isso se explica porque muitos dos aluguéis impostos pelos proprietários são o equivalente a uma parcela de uma propriedade.
Os recentes anúncios governamentais sobre programas de habitação de famílias com baixa renda, deixam o setor imobiliário atento a possíveis mudanças nestes projetos no setor. Natania acredita que a interferência política preocupa o setor imobiliário e outras áreas, pois ela tem grande influência nas taxas de financiamento do banco e de acordo com os índices usados para definir os preços. “Estes projetos de lei, como contra despejo, preocupam bastante os proprietários dos imóveis. Para a imobiliária o que muda é a questão da locação por questão dos proprietários ficarem um pouco mais exigentes com os inquilinos”, finaliza a corretora.