Especialistas indicam os riscos de recorrer à inteligência artificial para cuidar da saúde mental e indicam alternativas mais acessíveis.
Nicoly Maia
Em algum momento da sua vida, já se viu pedindo conselhos a um chatbot? Para muitos, tornou-se comum recorrer ocasionalmente à inteligência artificial para tomar decisões do dia a dia, ou pedir ajuda para responder a alguém. No entanto, recentemente, alguns usuários têm ido além, utilizando o ChatGPT como terapeuta, mesmo a própria IA recomendado a procura de um profissional.
Usuários começaram a recorrer à inteligência artificial para resolver questões de saúde mental, desabafando e aguardando uma avaliação. Muitos destes casos são por falta de dinheiro ou por receio de se abrir a uma pessoa real. Especialistas explicam melhor os motivos e as consequências.
Recorrendo ao ChatGPT
Por mais que tornar a inteligência artificial seu terapeuta não afete seu bolso, esse não é o único motivo o qual leva alguém a buscar apoio na ferramenta. O psicólogo Pedro Cerveira explica que, nos últimos tempos, as pessoas têm tomado mais consciência da importância de cuidar da saúde mental. No entanto, muitas ainda possuem receio em se expor, em admitir que não estão bem, “Há o medo de sermos julgados, do nosso sofrimento ser desvalorizado e até das pessoas se afastarem”, comenta o especialista.
Com o AI/GenAI, este medo não existe, pois a ferramenta é programada para ser acolhedora e não julgar o usuário. “Isso faz com que seja mais fácil, para algumas pessoas, desabafarem ou procurarem “aconselhamento psicológico” junto destas plataformas”, acrescenta Pedro.
Riscos
Além do programa não ser um profissional humano, existem muitos outros fatores o qual torna o chatGPT, impróprio para dar este apoio, que são apontados pelo especialista. Entre as principais, está a credibilidade das informações apresentadas pela IA. “Numa época em que a desinformação é usada como tática em todos os níveis da sociedade, a IA/GenAI não está imune“, afirma Pedro.
A privacidade também se torna um risco, já que a privacidade das mensagens enviadas não é totalmente assegurada pelas empresas dos programas, correndo o risco de serem divulgadas.
“Há também as chamadas “alucinações”, isto é a IA/GenAI tira ilações ou identifica padrões que não existem e apresenta respostas que não fazem sentido”, acrescenta.
Consultas acessíveis
Como mencionado, a gratuidade do chatbot ainda é um dos principais fatores que levam as pessoas a recorrerem à IA para apoio psicológico. Porém, existem alternativas acessíveis. A psicóloga Jeovana Quaresma Perdonsini, atende pacientes na plataforma social Psymeet, plataforma que fornece consultas com valores acessíveis. As consultas são realizadas de forma online, por chamadas.
Plataformas como estas auxiliam a tornar a terapia mais democrática. “Ao oferecerem consultas a preços mais acessíveis e eliminarem a barreira da distância física, elas abrem portas para que mais pessoas possam buscar o suporte psicológico que necessitam”, diz a especialista.
Apesar de oferecer um preço acessível, e podendo ser uma solução para estas pessoas que buscam apoio em IA, plataformas como a PsyMeet ainda não são tão conhecidas quanto outras formas de terapia. “Acredito que essa situação ocorre devido à insuficiência de divulgação e ao preconceito. Muitas pessoas tendem a associar o baixo custo a um atendimento de menor qualidade, o que pode gerar desconfiança em relação à terapia online”, explica Jeovana.
Porém, a especialista afirma que o baixo custo não influencia no atendimento, relatando tratar todos os pacientes com o “mesmo cuidado e atenção, independente do valor cobrado.”
Inteligência artificial e psicologia
Apesar da ocorrência desses casos, não existe preocupação em a inteligência artificial substituir profissionais, não por agora. Para que houvesse a substituição, seria preciso mais desenvolvimento, a ferramenta se tornar consciente do contexto, e haver sistemas de segurança mais avançados, como explicado pelo psicólogo.
Mas ainda sim, existe uma preocupação com o futuro. “As empresas que desenvolvem “psicólogos virtuais” afirmam que a sua utilização não substitui a consulta de um profissional, no entanto, o objetivo real é substituí-lo. A questão que se põe é preocupante: quando algo correr mal, quem assume a responsabilidade? A empresa, a IA/GenAI ou o utilizador?”, questiona.
O psicólogo concluiu dizendo que esta preocupação não ocorre para o presente, já que atualmente, por mais que ainda exista persistência em procurar um profissional, os seres humanos sentem a necessidade por conexões reais. “Queremos, mais do que nunca, estar próximos, fisicamente, uns dos outros”, conclui.