Em 2 de setembro de 1959 saía da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP) a primeira Kombi fabricada fora da Alemanha. Hoje, a data celebra a sobrevivência desse carro marcante no coração dos brasileiros.
Giovanni Manzolli
Hoje, dia 2 de setembro, é celebrado o dia nacional de um dos carros mais populares da indústria automobilística global e um ícone da cultura pop: a Kombinationsfahrzeug. Você não reconheceu o nome do carro? E se a chamarmos por pão de forma? Corujinha? E velha senhora? Bom, estamos falando da Kombi, um dos veículos mais longevos do mercado nacional, que ficou em linha durante 56 anos.
Apesar de ter sido baseada na mecânica e plataforma do fusca, projetadas pelo consagrado engenheiro automotivo alemão Ferdinand Porsche, as primeiras linhas da Kombi foram desenhadas pelo holandês Ben Pon. Pon era apenas um revendedor e importador de veículos Volkswagen em seu país, mas que acreditava e investiu na marca, cuja credibilidade estava desgastada já que foi uma grande produtora de veículos de guerra para o exército nazista durante a Segunda Guerra Mundial, recém encerrada.
Esse nome alemão gigante e complicado no começo da matéria, significa, em uma tradução direta, “veículo combinado”, pois ela podia transportar tanto cargas quanto passageiros.
O desenho consistia em uma van que utilizava a plataforma e o motor do fusca. Motorista e passageiro sentavam sobre o eixo dianteiro enquanto que o motor ficava na parte de trás, deixando um amplo compartimento para cargas e passageiros. Essa receita foi um grande sucesso, principalmente no Brasil.
“O Sucesso da Kombi se deve à simplicidade com a eficiência. Porque ela tinha um motor pequeno, se a gente pensar na primeira leva desses carros. A Kombi é um dos poucos veículos que leva o peso dela em carga. Se você olhar uma Kombi furgão, por exemplo, ela é toda espaço interno. A Kombi era eficiente e, por isso, ela foi fazendo sucesso. E curiosamente, o primeiro Volkswagen a ser fabricado no Brasil foi a Kombi”, explica o jornalista automotivo e colunista do portal R7, Marcos Camargo.
A van inaugurou, inclusive, a primeira fábrica da Volks fora da Alemanha em 1959. De lá até o fim de sua vida, as mudanças foram muitas. Para começar, em 1962 a Kombi corujinha ganhou a icônica versão 6 portas, hoje uma das mais procuradas pelos colecionadores e caras, também.
Da frente corujinha ao motor refrigerado a água
Em 1967 ela ganha um novo motor, agora com 1.500 cilindradas e 44 cavalos. E, junto com o motor mais potente, chega a versão pick up da Kombi, que já era vendida na Europa desde o começo de sua produção. Pouco depois chegaram diferencial travante, oferecido como opcional, que auxiliava a tração do carro em estradas de terra e um sistema elétrico de 12v e não mais de 6v.
A segunda geração da Kombi brasileira foi exclusiva para o nosso país. Apelidada de Kombi Clipper, o modelo de 1976 trazia um misto do visual da Kombi europeia com soluções próprias para o mercado nacional. Alguns aprimoramentos continuaram sendo implementados com o passar dos tempos, tais como: freio a disco (1983), catalisador (1992) e injeção eletrônica (1997).
Outras versões que marcaram a vida desse utilitário foram a Kombi com motor a diesel, a pick up com cabine dupla e a Kombi Carat que trazia itens de luxo, como bancos em veludo e interior forrado. Ela também ganhou teto alto e porta corrediça para as versões furgão e van em 1997.
O velho motor refrigerado a ar e que bebia apenas gasolina deu adeus ao mercado em 2004. No ano seguinte a Kombi ganhou um motor 1.6 flex, que atendia a novas normas de emissão poluentes exigidas pela legislação brasileira. Essa foi a última geração da Kombi que foi produzida até o ano de 2013. Novas exigências de itens de segurança em carros zero quilômetro, como airbag e freios ABS, não puderam ser atendidas pelo projeto da velha senhora, que sofreu pouquíssimas alterações em 56 anos de produção.
A Volkswagen começou a produzir a ID.Buzz ou nova Kombi, na fábrica de Hannover na Alemanha, no segundo semestre deste ano. Se trata de uma minivan elétrica que tem um visual que remete às primeiras Kombis.
“A Volkswagen chama o ID.Buzz de nova Kombi, mas, se você olhar a proposta, ela é uma minivan. Ela não leva 9 passageiros, ela não tem o mesmo tamanho, ela tem tração elétrica e é um veículo caro até na Europa. Não tem nenhuma semelhança. Só mesmo algumas linhas do design exterior, até interiormente ela não tem nada a ver. Esse é um carro caro, então não vai ter o mesmo sucesso da Kombi, até porque aquele momento econômico que a Kombi surgiu era um e agora é diferente”, reitera Camargo.
Vida longa ao ícone
Apesar de estar fora de linha há 9 anos, a Kombi está muito longe de se despedir das ruas e estradas brasileiras. Inclusive, novas gerações de autoentusiastas são conquistados pela simpatia da perua, mesmo sendo tendo vivido nos anos de ouro da Kombi. Victoria Lopes, de 23 anos, e Leonardo Zampronio,de 24 anos, sempre adoraram viajar. Em 2019 eles adquiriram a sua Kombi, do ano 1998, que tem nome e sobrenome: Kombihome Maressa.
“Desde a infância eu acho ela (a Kombi) um carro muito simpático. Eu era aquele tipo de pessoa que via, na rua, uma Kombi bonitinha e tirava uma foto para postar nas minhas redes. Sempre gostei. Me parece ser um carro festivo, alegre. E agora tendo uma Kombi, as pessoas baixam o vidro no trânsito para falar que o carro está bonito, perguntar que ano é e dar uns parabéns para a gente pela conservação. Então, é um carro que trás alegria por onde passa”, conta Victoria.
Como o nome já diz, Maressa não é uma Kombi comum, ela é um motorhome, no caso, a casa de Leonardo e Victoria. O casal é autônomo e produz conteúdo digital e para a internet. Por isso, não ficam presos a um emprego fixo. Eles mobiliaram a parte interna da Maressa, para que tivessem como dormir, fazer suas refeições, guardar seus pertences e até trabalhar dentro dela, tudo isso enquanto pegam a estrada.
Se depender dos fãs, mesmo já não sendo mais fabricada, a Kombi ainda vai rodar por muito tempo. “Se a Kombi vai sumir rapidamente mesmo tendo saído de linha? Eu acho que não, porque ela é um veículo, embora tecnologicamente defasado, quando saiu de linha também; é um veículo barato de manter. Você encontra as peças mecânicas dela, peças de acabamento. Se encontra tudo da Kombi. Ainda é fácil de encontrar e fácil de manter. Mas é fato que elas estão cada vez mais valorizadas”, argumenta Camargo.
Viva no mercado de usados e no coração dos apaixonados, o dia nacional da Kombi será celebrado por muitos anos pela frente. Vida longa à Kombi.