Pesquisa feita pelo DIEESE em 17 cidades mostra a variação mensal do valor da cesta básica desde março de 2021.
Lana Bianchessi
O preço da cesta básica aumentou em 16 capitais de estados brasileiros em comparação com o ano passado, segundo uma Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos realizada pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). O aumento é maior do que a inflação no período medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que ficou em 10,54% após a alta de 1,01% em fevereiro.
Entre as 17 capitais onde a pesquisa foi feita, a que obteve maior aumento foi a cidade de São Paulo, com alta de 3,38% na comparação com dezembro de 2021. Confira na tabela abaixo a variação mensal e a acumulada em 12 meses nas 17 capitais brasileiras pesquisadas:
Principais alimentos que elevaram o preço da cesta básica
De acordo com a pesquisa feita pelo DIEESE, alguns alimentos tiveram alta de preço significativa neste último ano. O feijão aumentou em todas as capitais devido à baixa oferta do grão carioca, à redução da área plantada e ao crescimento da procura nos centros consumidores.
O óleo de soja registrou aumento em todas as capitais, entre fevereiro e março, sendo explicado pelo alto preço do petróleo e pela demanda externa do produto . O preço do quilo do pão francês também subiu em consequência da redução da oferta de trigo no mercado externo, uma vez que Rússia e Ucrânia estão entre os maiores produtores mundiais do grão. Da mesma forma, a farinha de trigo também apresentou elevações expressivas.
O valor médio da farinha de mandioca teve elevação em todas as cidades. A menor oferta da raiz e o clima desfavorável elevaram os preços da farinha no varejo. O preço do quilo do tomate apresentou alta em 16 capitais, exceto em Aracaju (-2,52%), em consequência do menor volume de tomates ofertados, com a aproximação do final da safra de verão.
Outro produto encarecido foi o leite integral que registrou elevação de preços em 16 cidades, em março. O aumento nos custos da produção de leite, a diminuição nos estoques de derivados lácteos e a competição por matéria-prima entre as indústrias sustentaram a elevação nas cotações do leite UHT. Esse aumento do preço no leite implica, diretamente, com o preço do quilo da manteiga, que aumentou em 15 capitais.
Em março de 2022, o preço do quilo do açúcar subiu em 15 capitais, não variou em Brasília e diminuiu em Vitória (-0,77%). Isso tem correlação com a entressafra de cana que reduziu a oferta e aumentou os preços.
Explicações para o encarecimento
Os três fatores principais de aumento da cesta básica, de acordo com a economista Andrenilza Schwartz, foram: a falta de chuva, quando o clima fica seco e prejudica a plantação; o aumento das exportações, porque os fornecedores recebem em dólar com a venda dos produtos brasileiros para outros países; e o aumento do preço do petróleo devido a guerra entre os países da Rússia e Ucrânia.
Outro fator que influencia no poder de compra da cesta básica e vários outros produtos e serviços está relacionado ao salário mínimo vigente que é de R$ 1.100. Ao comparar o preço da cesta básica e o salário mínimo líquido, o DIEESE verificou que o trabalhador remunerado pelo novo piso nacional comprometeu, em janeiro de 2022, mais da metade (55,20%), em média, do rendimento para comprar os alimentos.
Os brasileiros de menor renda, que gastam a maior parte dos seus recursos em alimentos, são os mais prejudicados com esse cenário. Gabrieli Ciseski, consumidora e mãe de duas filhas, aponta que “os preços estão assustadores e desanimadores, principalmente para quem não tem uma renda tão alta que consiga acompanhar esse aumento absurdo.”
Andrenilza diz que “para lidar com essa situação o brasileiro precisa se adequar de modo que consiga sustentar a família com os recursos obtidos. Sendo assim, comprar somente o necessário e mudar as marcas, comprando produtos bem mais baratos.”