Segundo pesquisa do Hospital de Olhos da Rede Vision One, houve aumento de 23% nos casos de miopia em crianças.
Julia Viana
A miopia tem sido percebida cada vez mais em crianças de 0 a 12 anos pelo estudo da Hospital de Olhos que registrou um aumento no atendimento com a diferença de 113 crianças entre o primeiro semestre de 2021 e 2022. O estudo reforça a ideia de que a ampliação do número de casos pode estar relacionada ao uso excessivo de telas.
Segundo o portal de notícias Drauzio Varella, a miopia é um distúrbio visual caracterizado por um globo ocular mais “longo”, o que provoca a formação da imagem antes que a luz chegue até a retina, tem fatores genéticos e ambientais. Filhos de pai ou mãe míopes têm risco maior de desenvolver o problema.
Um artigo publicado pela “Jama Ophthalmology”, expôs que o confinamento domiciliar devido à doença do coronavírus parecia estar associado a uma mudança substancial de miopia em crianças; o estado refrativo das crianças mais jovens (6-8 anos) pode ser mais sensível às mudanças ambientais do que as crianças mais velhas, visto que elas estão em um período importante para o desenvolvimento da miopia.
Pandemia agrava vida ocular
Estudos mostram que a luz emitida por aparelhos eletrônicos pode prejudicar a visão, além do fato de que a exposição às telas leva à redução do piscar, causando sensação de visão embaçada, irritação, ardência e olho seco. Nos casos mais graves, pode levar ao surgimento de miopia precoce em crianças e adolescentes.
O estudante de 11 anos, Nicolas Noya, já usava óculos antes da pandemia, pois tinha um leve grau, mas com a chegada da Covid-19 e o lockdown teve que ficar recluso em casa e fazer um uso mais frequente de telas de computador, celular e televisão. O garoto sentia dificuldade de enxergar mesmo usando óculos. “Quando a imagem, ou a letra está pequena ou muito longe ficava difícil”, relata.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), há 59 milhões de pessoas com essa condição no Brasil, o que equivale a mais de 25% da população. Já em todo o mundo, o número de pessoas com miopia chega a 2,6 bilhões.
Para a oftalmologista Hanna Teodoro, alguns fatores têm influência direta para o surgimento do distúrbio visual. “A miopia tem uma carga genética, mas esse excesso de eletrônicos tem funcionado como um acelerador no seu surgimento”, destaca.
Exposição prejudicial
Segundo a OMS, a miopia foi considerada a epidemia do século. A grande quantidade de aparelhos eletrônicos está contribuindo para o aumento de casos do distúrbio nas crianças. Além disso, esse aumento muitas vezes está relacionado à falta de atividades ao ar livre que por consequência poderá trazer danos para a vida toda .
De acordo com a oftalmologista, não apenas a miopia pode ser desenvolvida com o uso desses aparelhos. “Alguns outros problemas que estão relacionados à dependência tecnológica são: obesidade, ansiedade, isolamento social, depressão, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, bipolaridade e estrabismo (desvio ocular)”, alerta.
Para ela, o excesso de exposição ao mundo digital, principalmente das crianças, está cada vez mais frequente e pode comprometer o seu desenvolvimento visual, além de diminuir o interesse pelas atividades criativas, interativas e ter consequências nas áreas cognitivas e sociais.
Nicolas tem buscado melhorar seus hábitos para evitar futuros danos. “Uso frequentemente o meu óculos, faço exames anuais e em vez de usar a tela pequena do celular, eu uso o monitor maior do meu computador”, explica. Mas a profissional da saúde Hanna Teodoro alerta que os pais devem estar presentes e servirem de modelos aos filhos, evitar usar os eletrônicos durante as refeições ou próximo da hora de dormir e oferecer outras opções de diversão.