No dia 18 de fevereiro é comemorado o Dia Nacional do Combate ao Alcoolismo
Sabryna Ferreira
O primeiro gole parecia inofensivo, mas carregava um significado. Afinal, com 12 anos, Ribamar Silva já era “homem”. Era isso que aquele copo de bebida alcoólica que ganhou do pai queria dizer. De lá para cá, as quantidades só foram aumentando conforme envelhecia. Até que o professor sentiu a necessidade parar. E hoje, quem pergunta para Bira (como é conhecido) o que ele acha do hábito de beber, ouve um sonoro: “É um tempo desperdiçado! ”. Ele considera que esse tempo e energia poderiam ser investidos em qualquer outra coisa proveitosa. “O bebedor perde tempo bebendo, perde tempo bêbado, dormindo bêbado, perde tempo de ressaca. A resiliência da bebedeira é demorada”, avalia.
O psiquiatra Mário Louzã, doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg, Alemanha, contextualiza o uso de bebidas alcoólicas na juventude. Segundo Louzã, nos últimos anos foi sendo construída uma “cultura” entre os jovens de que é bonito e faz parte “beber bastante”, muitas vezes até passar mal (desmaiar, vomitar, muitas vezes beber até chegar ao coma alcoólico). Apesar de a prática ser comum a ambos os sexos, algumas décadas atrás os problemas com o álcool eram mais frequentes a homens. Para o psiquiatra, o adolescente é tipicamente uma pessoa que precisa se sentir acolhido pelo grupo e fazer parte dele, para isto precisa seguir as “regras” do grupo, inclusive beber muito, se for o caso. Essa necessidade vem muitas vezes da “insegurança” típica da adolescência, o período em que o jovem começa a se autoafirmar e se direcionar rumo à vida adulta. O médico aponta as propagandas um dos principais fatores que contribuem para o uso precoce por associarem o consumo de álcool a um dito ‘glamour’ (elegância, sucesso, sensualidade etc). “Não adianta dizer no finalzinho ‘beba com moderação’ depois de incentivar seu uso”, argumenta.
No dia 18 de fevereiro é comemorado o Dia Nacional do Combate ao Alcoolismo, para que outras histórias como a de Ribamar Silva não se repitam. “Eu resolvi parar de beber para não influenciar meus filhos a terem a mesma vida que eu levava e não ter a mesma experiência que eu tive com meu pai”, reconhece.
Louzã afirma que o abuso de álcool na adolescência deve ser levado a sério e tratado como doença, podendo ser causada por diversos fatores: genéticos que favorecem sua ocorrência, fatores ambientais, socioculturais, religiosos e econômicos.
Pelo fato de cada organismo reagir de maneira diferente, os tratamentos variam conforme o caso, a gravidade do alcoolismo, os fatores que favorecem o uso, entre outros fatores. Mas em linhas gerais o tratamento requer abstinência completa, total, do álcool. “Há alguns tratamentos medicamentosos para tentar diminuir o consumo, além das abordagens psicoterápicas individuais e da família. Casos graves necessitam de internação, em geral prolongada, para controlar os sintomas da abstinência e todo um processo de reorganização da vida do indivíduo, que muitas vezes gira em torno do álcool”, esclarece Louzã.
Admitir a dependência e a necessidade de ajuda são os primeiros passos rumo à reabilitação. No Brasil, assim como em outras partes do mundo, existem grupos de autoajuda como o Alcoólicos Anônimos (AA). Para encontrar uma unidade do AA perto de você, basta procurar no site da organização, através do link: http://www.alcoolicosanonimos.org.br/localizar-grupos/localizar-por-estado-cidade .