Estudantes brasileiros enfrentam desafios ao estudar no exterior

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Diferenças sociais, organizacionais e culturais que desafiam a vida de um emigrante brasileiro no exterior.

Letícia Casemiro 

Ter a experiência de morar fora do país é o sonho de muitos jovens brasileiros. Segundo o relatório Diversify with Data: Insights for Higher Ed Institutions, baseado em números da UNESCO, o Brasil se consolidou entre os 15 países que mais enviam estudantes para estudar no exterior, com mais de 88 mil brasileiros em intercâmbio. Em 2021, mais de 14 mil tinham os Estados Unidos como destino.

Com a expectativa de viver um Ensino Médio no estilo “High School Musical”, muitos jovens embarcam nessa aventura. Deixam suas casas, famílias e rotinas por alguns meses ou anos, em busca de um dia a dia digno de uma telinha de cinema. Mas ao chegarem lá, percebem que a vida real de um estrangeiro não se parece com as vidas retratadas nos filmes. 

Rocheli Jacques, pré-universitária, tem 18 anos e teve uma experiência interessante de intercâmbio. Em 2021, a estudante foi para La Selva Beach, litoral interiorano da Califórnia, e passou cinco meses na Monterey Bay Academy, internato de Ensino Médio da rede Adventista do Sétimo Dia. 

Desde pequena, ela sempre sonhou em ter a experiência de estudar fora. “Não necessariamente nos Estados Unidos, mas sempre tive essa vontade de conhecer uma cultura nova”, diz a estudante. Mas, ao ser questionada sobre sua adaptação, Rocheli diz ter sido uma experiência diferente da que ela imaginara.

Adélia Bristot, criadora do canal “Fala Jogadora”, mora nos Estados Unidos desde dezembro de 2020, quando recebeu uma bolsa de estudos esportiva que cobria os custos da faculdade. Além de sua carreira, a jogadora também compartilha em suas redes sociais, um pouco das vantagens e desvantagens de uma estrangeira.

Alimentação

Enquanto no Brasil todas as refeições são importantes, nos EUA a cultura é diferente. Os americanos não costumam comer comida no almoço, eles preferem algo mais prático e rápido, para não perder tempo. Essa rotina acelerada torna comum fast-foods e alimentos pré-preparados em suas rotinas. Além disso, a maioria dos ingredientes da culinária estadunidense são derivados de outros países, fato que compromete o frescor do alimento. 

“Uma surpresa para mim foi a alimentação. Às vezes é muito difícil achar coisas simples, tipo creme de leite ou frutas, que para nós, são comuns, tipo mamão. No meu caso, sendo atleta, a parte de comidas sem açúcar também é muito difícil”, argumenta a jogadora. “Estranhei demais a alimentação, porque algumas vezes o café da manhã era mais reforçado que o almoço, tinha até arroz com ovo no café, e para mim esse choque cultural foi grande”, complementa Rocheli.

Saúde

Diferente do Brasil, os norte-americanos não possuem um sistema de saúde público universal. Seu sistema fornece assistência gratuita a um número bem limitado de pessoas. Portanto, é responsabilidade individual da maioria da população estadunidense arcar com suas dívidas médicas.

Vini Vecchi, criador de conteúdo digital, também foi para os EUA em 2021 e disse que essa questão da saúde era “uma dificuldade que ele não imaginou que seria um empecilho até realmente viver”. “É muito difícil se alimentar bem, e quando você tem algum problema de saúde, tudo lá é muito caro, desde coisas simples como injeções ou raio x, tudo mais de 500 dólares”, completa o influenciador.

Idioma

Além da alimentação e saúde, se comunicar em um novo idioma não é uma tarefa simples. Mesmo com anos de curso e domínio da língua, nada substitui a convivência diária e rotineira com os moradores. Normalmente as pessoas falam muito rápido e com um linguajar repleto de gírias que seu professor nunca te ensinou.

“Os americanos falam muito rápido e, assim como no Brasil, cada região tem um sotaque específico. Então, demora um pouquinho até você se acostumar com cada um deles”, acrescenta Vini.

Locomoção

A dependência de um carro pode ser um desafio no país norte-americano. Um problema encontrado em algumas pequenas cidades, que reúnem muitos intercambistas, são as opções limitadas de transporte. “As cidades são muito afastadas umas das outras, então quando você vem como estudante e sozinha, você acaba dependendo de arranjar carona para praticamente tudo, já que as cidades não são feitas com opções para caminhar ou outras opções de transporte”, afirma Adélia Bristot.

Junto a isso, viajar também pode ser um pouco complicado se você não estiver alocado nas grandes capitais. Não existem linhas de ônibus que fazem o trajeto de uma cidade a outra como no Brasil, então não existe a possibilidade de ir em uma rodoviária a qualquer momento e conseguir um ônibus para outra cidade ou estado. “Aqui onde eu moro, não é uma cidade grande, só passa um ônibus por dia que conecta Chicago a Kansas City, duas cidades grandes bem afastadas, e vai fazendo um “pinga-pinga” pelo caminho, então seria a única opção para mim. Se ele estivesse cheio, eu simplesmente perderia e teria que esperar um próximo dia”, completa a jogadora.

Preconceito

O preconceito contra estrangeiros no exterior é um problema enfrentado por muitos intercambistas. Mesmo que o brasileiro seja um povo querido por muitos por conta seu jeito simpático e divertido e que exista uma grande quantidade de emigrantes brasileiros nos Estados Unidos, nem todo norte-americano está aberto a novas culturas. “Para mim, uma parte da adaptação muito difícil foi a descredibilidade. Se eu estivesse em uma mesa, conversando com 4 pessoas, onde duas eram brasileiras e duas americanas, a minha opinião elas não ouviam, mas se fosse um americano dizendo exatamente a mesma coisa que eu, todos achavam uma boa ideia. Isso aconteceu muitas vezes”, desabafa Vechhi.

Vini expressa que, mesmo tendo aprendido e experienciado muitas coisas boas, era triste ver como o racismo e a xenofobia eram coisas recorrentes e normalizadas pela maioria. “Acho que os Estados Unidos são um país que toda a triste realidade fica muito escondida”, encerra.

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