Estudos apontam que mulheres negras têm 46% mais chances de fazer um aborto no Brasil

In Geral, Política, Saúde

Pesquisa organizada pela Abrasco aponta diferença sobre o aborto quando se trata de mulheres negras e brancas.

André Felippe Teodosio

Um estudo feito pela revista Ciência e Saúde Coletiva da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) junto com a fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), disponibilizado no último dia 26, analisou dados da PNA (Pesquisa Nacional do Aborto) que somam pesquisas de 2016, 2019 e 2021 sobre o assunto. A pesquisa aponta que as mulheres negras têm mais chances de fazer um aborto do que mulheres brancas. Os dados apresentam uma diferença em que para cada 10 mulheres brancas que fazem o aborto, acontecerá 15 abortos em mulheres negras. 

A pesquisa foi realizada com dados do IBGE, que entrevistou várias mulheres entre 18 a 39 anos. A apuração das opiniões femininas foi realizada através de dados. As entrevistadas escreveram em papéis e colocaram sua opinião em uma cápsula fechada. Diante dessas concepções, foram retirados os dados para o estudo feito pela revista.

Na pesquisa ainda existem relatos de fatores externos que apresentam o aborto tendo uma frequência maior, entre as mulheres negras. Isso se dá pela maioria desse público viver à margem da sociedade, onde a educação e a saúde são precárias.

Isadora Simões, formada em Rádio e Tv, criadora de conteúdo há mais de 10 anos sobre temas raciais, acredita que o problema vem de um contexto complexo. “É muito fruto de um efeito dominó, justamente pelo fato dessas mulheres negras serem, em sua grande maioria, o maior número de mulheres periféricas e em situação de miséria no país. E ali se cria uma forma de sobreviver baseada em muito pouco, em pouca informação, em pouca educação, em pouco tudo”, explica.

Isso remete como essa questão é antiga e como o descaso com a saúde pública têm aumentado esse problema sobre o crescimento de aborto em mulheres negras, que têm dificuldades desde a gravidez. Há também questões históricas envolvidas. “Eu acho que começa ainda num período de escravidão, após a escravidão acabar, são povos abandonados, que são largados à mercê sem recursos, sem possibilidades, sem oportunidades”, complementa.

Supremo Tribunal volta a discutir sobre a descriminalização do aborto 

Esse assunto voltou à tona após a ministra Rosa Weber, relatora do processo, trazer para o STF (Supremo Tribunal Federal) o voto a favor da descriminalização do aborto com até 12 semanas no período de gestação. O tema entrou em período de vistas a pedido do novo presidente do STF, Luís Roberto Barroso, que tomou posse ocupando o lugar da ministra Rosa Weber. Os dois representantes do STF possuem uma opinião parecida visando o tema do aborto como uma questão de saúde publica. 

Fernanda Grangeão, advogada, mestre em direitos humanos, especialista em direito processual civil pela UNICAP (Universidade Católica de Pernambuco) comenta que foi muito importante a discussão desse tema depois de cinco anos. “O voto foi essencial para reflexão de diversos temas como: sistema de justiça social reprodutiva e que devem ser preservados direitos fundamentais”, explica.

Existe também a oposição que julga a descriminalização do aborto como algo que não deve ser aprovado. O evento também acontece no Senado, onde os parlamentares opositores preconizam um plebiscito, uma consulta que avalia a opinião da população.

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