Tamanho, significado, celebridades e antepassados têm influenciado as escolhas de nomes.
Gabrielle Ramos
Escolher o nome de um bebê nem sempre é uma tarefa fácil, afinal são muitas opções e significados. Nos últimos anos, os tão conhecidos Enzo e Valentina perderam a popularidade, e no ano passado deram lugar a Helena e Miguel, que lideram o ranking com 25 mil e 24 mil registros, respectivamente.
Os dados são do portal BabyCenter, que analisa os nomes mais escolhidos com base nos cadastros de bebês nascidos ao longo do ano. A pesquisa aponta que nomes curtos ganharam destaque. Enquanto isso, Enzo saiu do top 50 e Valentina caiu para a trigésima posição.
Por que populares?
Segundo a análise, celebridades e produções audiovisuais têm ditado as tendências de nomes nos últimos anos. Um exemplo disso são os nomes Helena e Miguel, protagonistas da novela Laços de Família (2000), que foi reexibida em 2020. Além do aumento no número de registros dos nomes Serena e Luna, personagens da novela Alma Gêmea (2005), reprisada pela TV Globo no ano passado.
A pedagoga, letróloga e socióloga Ludmila Carvalho explica que, com o avanço das mídias digitais, a vida dos famosos e influenciadores se tornou mais acessível à população. Isso faz com que os brasileiros se identifiquem e reproduzam, em larga escala, referências retiradas destes espaços.
No ranking de nomes masculinos, o futebol também se destaca como uma forte influência. O nome Endrick, jogador do Real Madrid, apareceu pela primeira vez na octogésimo quinto lugar. Além deste, nomes de filhos de celebridades, como Mavie (filha de Neymar) e Ravi (filho de Viih Tube), vêm ganhando espaço na lista.
Para Ludmila, esse fenômeno está diretamente ligado à cultura de massa, conceito estudado pelo filósofo e sociólogo alemão Theodor Adorno. “Esse processo padroniza as massas e impede a formação de pensamentos autônomos. No fim, ninguém sai ileso pois todos somos influenciados pelo mercado industrial em algum momento de nossas vidas”, afirma.
Características dos nomes
Um aspecto no ranking de nomes populares é o tamanho curto, de até seis letras. A consultora de amamentação Marcella Mourão observa que, há muitos anos, não atende bebês com nomes comuns em sua época de escola, como Camila, Fernanda, Nathalia, Marcela, Larissa, Thiago, Eduardo, André e Vinicius.
A socióloga explica que, mesmo de forma inconsciente, as pessoas buscam simplificar as coisas e torná-las mais práticas e rápidas. Um reflexo disso pode ser visto na popularidade dos vídeos curtos nas redes sociais e no uso de mensagens automáticas. Consequentemente, essa tendência também se manifesta na escolha de nomes para filhos.
Mayelee, que compartilha suas experiências sobre maternidade nas redes sociais, conta que ela e seu marido escolheram o nome do filho, Noah, por ser curto, forte e diferente. Além disso, apreciaram seu significado bíblico.
Esse foi o caso de Marcella, que, junto com o esposo, escolheu o nome do filho, Gustavo, por seu significado: “protegido por Deus”.
A forte influência da fé na cultura brasileira também é um fator determinante na escolha dos nomes. “Somos um país predominantemente religioso e isso também influencia nas escolhas dos brasileiros”, explica a socióloga.
Tendência contrária
A disseminação de nomes pelas mídias acaba tornando comuns, com o tempo, aqueles que antes eram considerados diferentes. Indo na contramão dessa tendência, uma nova onda de vídeos no TikTok tem ganhado popularidade ao resgatar nomes “vintage” para os filhos, como o de avós.
Mayelee compartilhou um vídeo em suas redes sociais para inspirar outras mães a resgatar nomes que atualmente estão ficando em desuso. “Foi gratificante saber que algumas realmente escolheram nomes que apareceram nos comentários”, conta.
Outra motivação dessa tendência é evitar a repetição excessiva de determinados nomes e garantir a exclusividade. “O meu nome é bem diferente, e eu gosto disso. Quando escolhemos o do Noah, não conhecíamos nenhum outro. Até que no ano passado foi eleito um dos mais registrados no Brasil”, comenta Mayelee.
Gabi Muxagata, compartilha experiências sobre maternidade e família nas redes sociais e conta que a escolha do nome da filha foi fácil, pois sempre achou o nome Sofia bonito. No entanto, a decisão para o nome do filho que está esperando tem sido mais desafiadora, pois há menos nomes que a agradam.
Além disso, ela leva em consideração a frequência com que um nome é usado. Apesar de não se incomodar que outras pessoas tenham o mesmo nome, prefere evitar que o filho divida a sala de aula com várias crianças chamadas da mesma forma.
Dados da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo (Arpen-SP) indicam que a popularidade dos nomes no Brasil segue um ciclo, com tendências que se repetem ao longo do tempo. Um exemplo disso é o nome Helena, que já foi uma das principais escolhas nacionais em 1950 e, desde então, foi registrado por mais de 133 mil paulistas.
Dentro desse contexto, a socióloga relembra que, em 2005, a escolha do nome Joaquim para o filho de Angélica e Luciano Huck gerou grande repercussão na mídia, já que não era comum para bebês na época. No entanto, o estranhamento logo deu lugar à valorização do retrô, à nostalgia e ao resgate de nomes de gerações passadas, um movimento semelhante ao que ocorre atualmente.