O uso exacerbado das vitaminas pode trazer sérios problemas para a saúde
Nátaly Nunes
A Anvisa registrou 240 notificações de problemas com suplementos vitamínicos desde o ano passado, sendo 28% de efeitos graves. Além disso, mais de 62 mil anúncios irregulares foram retirados da internet. O tema levantou um alerta entre especialistas, preocupados com a hipervitaminose.
A maioria das vitaminas não são produzidas pelo corpo humano, mas são facilmente adquiridas por meio de uma alimentação adequada. Elas são necessárias para o bom desenvolvimento do corpo e o seu pleno funcionamento. Quando a quantidade que o corpo precisa é insuficiente ou o corpo não consegue absorver, ocorre uma deficiência vitamínica e é necessário uma suplementação. Porém, o uso da suplementação em uma quantidade além do necessário – a hipervitaminose – pode trazer diversos riscos para a saúde.
As consequências da hipervitaminose
A médica nefrologista Laura Kunzler explica que no caso da vitamina D, que é lipossolúvel, fica mais fácil de acumular no corpo e isso pode aumentar o cálcio, ocasionando alguns sintomas como fadiga, dor abdominal, constipação, entre outros ou até mesmo desenvolvendo doenças. Os rins são os mais afetados e pode ocorrer a perda de função renal e cálculo renal.
Kátia Ukan passou por uma situação de hipervitaminose de vitamina D com sua filha Geovanna. “O uso iniciou por indicação médica, ela sugeriu mandar manipular para ser mais limpo de açúcar e parabenos”. O tempo passou e sua filha começou a ter falta de apetite, perda de peso e constipação intestinal, foi aí que ela percebeu que havia algo de errado. Os pais acham que os remédios foram manipulados de forma incorreta com uma dose extremamente alta.
Para reverter essa situação, a Dra. Laura explica que é preciso suspender a medicação e coisas ricas em cálcio ou vitamina D, beber muita água e em casos mais graves uma hidratação intravenosa. No caso da Giovanna, ela já estava com os rins inchados e precisou de 10 intervenções com a hidratação intravenosa.
O papel das redes sociais na automedicação
“Vitaminas que vão turbinar seu cérebro”, “suplementos para estudantes”, “tome essas vitaminas para mais concentração no trabalho”, essas são frases recorrentes nas redes sociais e em sua maioria são ditas por pessoas que não são profissionais na área da saúde. Na pandemia, por exemplo, houve uma super popularização do uso das vitaminas. No início, quando as pessoas ainda não conheciam a doença muito bem, a internet foi palco para diversas indicações que muitas vezes não eram eficazes ou necessárias.
A médica nefrologista comenta que no futuro, as pessoas vão sentir os efeitos tóxicos dessa cultura de automedicação e a facilidade desses suplementos nas farmácias sem necessidade de receita. “A gente tem uma falsa ideia de que se é vitamina, só pode fazer bem, mas isso não é para todos os casos, nem para todas as doses”, relata.