O desenvolvimento dos casos da doença tem causado dúvidas aos cientistas e gerado polêmicas.
Bruno Sousa Gomes
A Organização Mundial da Saúde divulgou, no dia 31 de agosto, que o Brasil já contabilizava 4.876 casos confirmados da Varíola dos macacos (monkeypox), e duas mortes, segundo Our World In Data. A doença se originou em 1958 e foi erradicada em 1980 pela vacina. No entanto, depois de décadas o vírus está de volta e cientistas estudam uma nova vacina para conter essa doença.
Apesar do nome “varíola dos macacos”, a transmissão da doença não está ligada com estes animais.
Surgimento da varíola
Para entender melhor sobre o assunto, vamos voltar no tempo. Em meados dos anos 50 um laboratório dinamarquês importava macacos de Singapura para estudos relacionados à vacina da poliomielite.
Entre essas importações, observaram que havia lesões nos macacos, que eram semelhantes a vaccinia e à varíola humana. Devido a isso, começaram a estudar essas lesões, e perceberam um crescimento simultâneo. Em setembro de 1959 publicaram sobre os estudos, e ficou constatado um novo vírus chamado monkeypox, conhecido como varíola dos macacos.
“Tá, mas o que tem haver com os macacos?” Significa que o vírus foi descoberto pelos macacos, mas ele não é o transmissor do vírus. Portanto, depois de doze anos de estudos foi registrado o primeiro caso humano que foi identificado em uma criança na República Democrática do Congo em 1970. Depois de décadas, de acordo com o portal do G1, o primeiro caso foi detectado no Instituto Adolfo Lutz, um brasileiro de 41 anos que viajou à Espanha.
A Organização Mundial de Saúde até sugeriu uma mudança de nome, porque foi registrado a morte de macacos, pelo medo das pessoas de serem contaminados por eles. Ainda não se sabe qual animal mantém o vírus na natureza, embora os roedores africanos sejam suspeitos de desempenhar um papel na transmissão da varíola às pessoas.
Transmissão
A doença tem gerado posts e comentários polêmicos nas redes sociais afirmando que a maioria dos casos são mais comuns em homens homossexuais e bissexuais. Entretanto, em entrevista à CNN, a infectologista Luana Araújo, salienta que, “não tem nenhum cabimento a gente associar isso a qualquer grupo, principalmente por conta de orientação sexual.”
As principais fontes de contato de trasmissão são: abraços, beijos, massagens e relações sexuais. A doença também pode ser transmitida por secreções respiratórias e pelo contato com objetos, tecidos, roupas de cama, toalhas e superfícies utilizadas pelo contaminado.
A reação do vírus não é imediata, ela precisa se hospedar nas células, assim, apresenta sintomas no quinto dia de contato com o agente infeccioso. Os principais indícios são: febre, mal estar no corpo, dor de cabeça e dores atrás das orelhas e pescoço, onde surgem bolhas que evoluem para feridas e ambas se desenvolvem simultaneamente, ficando escuras até 21 dias. Depois desse tempo, elas se soltam como cascas do corpo.
Como prevenir?
A prevenção é importante para diminuir o risco de proliferação do vírus. A infectologista Luana comenta que é preciso se cuidar, mas que a varíola não deve atingir as mesmas proporções da Covid-19.
Portanto, as orientações são: procurar um médico durante o período de possível incubação do vírus, tomar medicamentos, se isolar, lavar as feridas com água e sabão. Além de higienizar bem os alimentos, evitar o contato sexual sem preservativo e evitar lesões que também possam contagiar.
Danos na pele
Após o período de recuperação, a doença deixa sequelas na pele, como cicatrizes da infecção cutânea. A dermatologista Aline Baptista explica que o procedimento para evitar que se chegue a um estado drástico é “o tratamento de suporte com analgésicos, líquidos e tratamento de feridas.”
E complementa: “por hora, não existe tratamento disponível no Brasil especificamente para essa doença, e mesmo em países onde essas medicações estão disponíveis, seu uso é reservado para casos graves.”
Por essas questões, a dermatologista orienta a procurar um profissional especializado na área para melhor tratamento. “Após a recuperação completa, o ideal é uma avaliação com um profissional especializado para definição da melhor abordagem”, ressalta Aline.
Caso as sequelas sejam graves, o paciente pode utilizar as técnicas de microagulhamentos, cirurgias ou alguns tipos de laser, quando há uma abordagem específica.
Vacinação em processo
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), recebeu no dia 5 de setembro o material biológico necessário para iniciar o desenvolvimento da vacina contra a varíola dos macacos.
De acordo com a Agência Brasil, “o material conhecido tecnicamente como sementes do vírus vacinal foi doado pelo National Institutes of Health (NHI), Agência de Pesquisa Médica dos Estados Unidos para o Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas) na UFMG.”
Em uma entrevista para o Dr. Drauzio Varella, o infectologista Antônio Bandeira, comenta que a vacina que foi erradicada em 1980 ainda tem cerca de 73% a 85% de eficácia. Quem foi vacinado naquela época segue imunizado.
A imunização é importante mesmo que a vítima tenha tido contato com o infectado. “É bom prevenir sim, algumas vão se escapar, e têm uma chance de prevenção secundária”, afirma Antônio.
Por fim, os estudos seguem em andamento e os pesquisadores apontam que se tudo ocorrer como previsto, em até 3 meses a vacina ficará pronta para ser aplicada na população.