Utilização da tecnologia pode facilitar as atividades de estudantes.
Sâmilla Oliveira
A educação e a Inteligência Artificial (IA) são áreas que estão cada vez mais entrelaçadas à medida que a tecnologia avança. Quem defende a IA acredita que ela tem o potencial para revolucionar a maneira como se ensina e aprende. Em contrapartida, há também quem pense que robôs fazendo tarefas de casa caracterizam uma ameaça. Mas o que significa tudo isso?
Acontece que, nos últimos meses, a IA já está sendo usada na educação, seja com assistentes virtuais e chatbots ou com geradores de imagens a partir de descrições feitas por humanos. Será esse o futuro da educação? Robôs que resolvem a tarefa de casa em 50 segundos?
De acordo com o professor mestre e engenheiro da computação Otávio Lube o surgimento do Google também exigiu que os educadores atualizassem seus métodos de ensino, partindo do princípio que as informações não estão mais centradas neles, mas sim na Internet. Ele sustenta que por mais que a IA traga informações tácitas, ainda é de suma importância a experiência humana na interação com os alunos, desenvolvendo as habilidades técnicas e as mais sutis, como as famosas soft skills.
O professor de língua portuguesa Edmilson Kloss percebeu que não poderia lutar contra essa nova era. Como os alunos já têm acesso a robôs que os ajudam a encontrar respostas para as atividades, ele entendeu que desencorajar o uso dessa tecnologia não seria o caminho mais eficaz ao lidar com adolescentes.
Uma aula diferente
Edmilson propôs à turma que fosse produzido um anúncio publicitário. O primeiro passo foi pensar em um produto, e logo em seguida, definir qual seria o preço, o público alvo, onde seria a praça e depois uma promoção. “A ideia era que eles desenvolvessem um outdoor com a IA”, explica o professor.
Os alunos pensaram em comandos para que o Midjourney, inteligência artificial capaz de gerar imagens, pudesse desenvolver a peça que iria compor o outdoor. “Eles tiveram tempo para repensar as estratégias. Refizeram os comandos até ficarem satisfeitos com o produto final, o anúncio publicitário”, conta Edmilson.
O professor acredita que a educação tem que ser dinâmica. “Alguns podem até lançar um olhar receoso sobre essas ferramentas, mas elas estão aqui para agregar”, relata. Ele diz que os educadores precisam pensar em como podem trazer essas ferramentas para cada vez mais perto do processo de educação.
A postura dos educadores
O professor relata que ainda pretende explorar com os alunos o ChatGPT. Essa é uma ferramenta que tem a capacidade de resolver complexos problemas matemáticos, escrever roteiros, textos argumentativos, poesias e mais. “O aluno não vai deixar de produzir o texto. O texto vai ser o comando que vai direcionar a inteligência artificial. Quero que eles avaliem e melhorem o texto produzido pela ferramenta”, explica Edmilson.
Oliveiros Dias é mestre em Educação Científica e Tecnológica e é pós-graduado em Inteligência Artificial. Ele afirma que o sistema educacional é baseado em memorização, e que isso é um problema grave. “O ChatGPT mostra a falha da nossa educação. Hoje um aluno que traz respostas corretas para algumas perguntas é um aluno aprovado”, comenta Oliveiros.
Para ele, essa tecnologia veio para desafiar a nossa percepção sobre o que é a educação. “Em qualquer nível de ensino, o professor está sendo desafiado a questionar o modelo de educação. As tecnologias nos ajudam a refletir sobre nós mesmos”, explica Oliveiros. Ele ainda defende que o professor não pode ser simplesmente alguém que fica à frente dos alunos para passar informações. Segundo ele, o professor precisa formar pessoas que sabem questionar.
Humanos vs Robôs
O pesquisador Oliveiros afirma que essas ferramentas vão cada vez mais desafiar os humanos a pensar sobre o que é ser inteligente, otimizar funções, criar e questionar até encontrar soluções diferentes para o mesmo problema. “Uma inteligência artificial nunca vai entregar nada novo. Ela é eficaz na busca por informações que já existem. A habilidade de ser criativo e eficiente ao mesmo tempo, é designada a humanos”, declara.
Ele sugere a reflexão: “como queremos a educação? Devemos ensinar colocando informações para as crianças decorarem? Ou queremos crianças que saibam questionar?” Oliveiros aconselha que ao invés de proibir o celular, as escolas deveriam ensinar onde pesquisar, como qualificar informações, como escolher e filtrar fontes.
Para o professor Otávio Lube, o ChatGPT, Bing, Bard e IAs afins vão potencializar os processos criativos do ser humano. “Não como solucionador dos problemas, mas como parceiro de estudos. Ao invés de perguntar à IA a resposta, podemos perguntar como fazer! Isso faz toda a diferença. Aprenderemos quando a IA acertar e também aprenderemos quando ela errar. Afinal, descobrir o erro dela vai nos deixar ainda mais aguçados,” afirma.
Como para toda ferramenta, existem prós e contras. Otávio afirma que obviamente, a ferramenta poderá ser usada como mecanismo para propagação de notícias falsas, disseminação da discórdia social, dentre outras mazelas atuais da nossa sociedade. “Logo, é preciso uma atenção especial aqui dos desenvolvedores, para inibir esses comportamentos”, ressalta.
Ele ainda afirma que, mais do que ninguém, os alunos precisam desenvolver o senso crítico da importância do seu desenvolvimento pessoal. “Não existe mudança ideal. Tanto a escola quanto os alunos precisarão mudar! Sempre foi assim e sempre será. Novas tecnologias vão aparecer todos os dias, exigindo que nos reformulemos e nos desenvolvamos como seres humanos. A escola precisa assumir o seu papel formador e mostrar a realidade aos alunos, ao invés de simplesmente desencorajá-los”, finaliza o professor.