No Dia Internacional da Língua de Sinais, entenda a importância da inclusão das pessoas com limitações auditivas.
Cristina Levano
Todo 23 de setembro é comemorado o Dia Internacional da Língua de Sinais e no dia 26 do mesmo mês, o Dia Nacional dos Surdos. Estas datas foram marcadas para lembrar e destacar a importância da inclusão social e assim afiançar o respeito aos direitos humanos das pessoas com limitações auditivas. Mas como surgiu esta língua, e qual é a história por trás desta data?
A língua de sinais surgiu da necessidade dos surdos de se comunicar com seus pares, e até o século XV, devido a que eram considerados incapazes de aprender, a exclusão social dos surdos era um fato mundial.
Já no século XVI, pouco a pouco foram surgindo mudanças dessa visão na Europa, essa ideia foi sendo deixada de lado e se deu início a luta pela educação dos surdos, que se deu graças à atuação de um surdo francês, chamado
Eduard Huet. Em 1857, Huet veio ao Brasil por convite de D. Pedro II e fundou a primeira escola para surdos no país, nomeada na época como “Imperial Instituto de Surdos Mudos”. Com o passar do tempo, ao descobrir que o termo “surdo-mudo” era incorreto, mudaram o nome e hoje em dia é conhecida como Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES).
Atualmente, de acordo com a federação mundial de surdos, cerca de 72 milhões de pessoas vivem com surdez, e mais do 80% delas estão em países em desenvolvimento. Todos os anos a organização põe um tema, e o de 2022 é “Idiomas dos sinais nos unem”, o qual propõe que as comunidades, culturas e línguas sejam reconhecidas como um fator de união.
Linguagem ou língua?
Um erro comum é achar que existe só uma interpretação da língua de sinais para todos os idiomas, mas a realidade é que elas são totalmente variadas. Reconhecidas pela ONU, existem 300 diferentes interpretações dessa língua no mundo, e no Brasil conhecemos como libras (Língua Brasileira de Sinais).
Além disso, outro erro é pensar que a língua de sinais é língua portuguesa (ou qualquer outro idioma) com as mãos, quando na realidade são totalmente diferentes. Por exemplo, se alguém escreve “A aula já acabou, pode ir para casa”, em Libras seria “Aula acabar poder ir casa”.
É por essa grande diferença entre as línguas (português e sinais) que muitas pessoas com limitação auditiva não são alfabetizadas, o que dificulta a comunicação deles. A instrutora de Libras, Juliana Almeida, explica que inclusive para os alfabetizados às vezes é difícil escrever e entender textos, e que eles precisam de interpretação para o jornal da televisão, por exemplo.
Inclusão = LIBRAS
O número de pessoas com deficiência auditiva é significativo no país. Embora a Língua de Sinais Brasileira (Libras) seja reconhecida por lei desde 2002, ainda é pouco conhecida pela maioria dos brasileiros, o que dificulta a vida dos cidadãos que precisam dela para se comunicar.
Juliana Almeida perdeu a audição quando tinha só seis meses de vida, por isso desde pequena aprendeu a ler lábios, aos três anos começou a fazer terapia e teve aulas de língua portuguesa, mas ainda assim ela não está isenta das dificuldades e dos preconceitos. “Tem pessoas que acham que não consigo entender, outras que falam rápido ou esquecem de me falar de frente ao conversar comigo pessoalmente, foi pior na pandemia, por causa do uso da máscara, não conseguia ler os lábios, dificultando a conversa ” conta a instrutora.
Lia Arruda entendeu a importância e criou um carinho especial por esta segunda língua logo cedo, por isso estudou Libras e atualmente é intérprete. Ela alega que pode parecer clichê, mas “é bem importante, Libras é a segunda língua oficial do Brasil, e tem gente que nasce e mora aqui, mas não consegue se comunicar. Aprender Libras é se colocar no lugar do outro, incluir.”
Falando mais sobre a interpretação, Lia declara que interpretar o que alguém disse pro surdo ou explicar o sinal do surdo pra alguém, “é uma responsabilidade bem grande e exige muita confiança entre o surdo e o intérprete.”
Ser intérprete, pode ajudar a dar visibilidade a essa pessoa com limitação auditiva. “No começo é bem difícil, dá medo de errar, e você erra mesmo, vergonha, mas com a prática isso passa, e se torna muito gratificante,” finaliza.
“Assim como eu aprendo a língua portuguesa, você também pode aprender a língua de sinais”, conclui Juliana.