OMS revela que Brasil tem a população mais ansiosa do mundo

In Geral, Saúde

Cerca de 9,3% da população brasileira sofre de ansiedade patológica.

Natália Goes

Esse é o ranking em que não queríamos estar, mas segundo o relatório divulgado pela OMS sobre depressão e ansiedade, o Brasil está no topo da lista dos países com o maior percentual de pessoas com algum tipo de ansiedade. Um índice três vezes maior que  a média mundial, baseado nos dados de 2015.

Questões socioeconômicas estão diretamente ligadas e tem participação nesse cenário. O Brasil, um país que é conhecido por sua população cordial e feliz, é líder no levantamento global sobre distúrbios mentais.

Segundo o último mapeamento global, o Brasil possui a população com maior índice de transtornos de ansiedade do mundo. Com cerca de aproximadamente 9,3% brasileiros sofrendo com ansiedade patológica.

Fatores e possibilidades

Existem diversos fatores que podem desencadear um quadro ansioso, em que se destaca a propensão genética, a personalidade, problemas de saúde, entre outros. Algumas situações que acontecem durante a vida podem aumentar a chance de desenvolver algum quadro de ansiedade. O médico psiquiatra Tiago Aricó diz que as principais causas são a “solidão; abuso de drogas (lícitas ou ilícitas); excesso de cobrança, seja profissional ou familiar; traumas e problemas no relacionamento com os pais (principalmente na primeira infância).”

No cenário brasileiro é possível ver as diferenças sociais, como altos índices de desemprego, insegurança pública, mudanças constantes na economia, afetando a saúde mental das pessoas, além do aumento do nível do uso de redes sociais. “O estresse constante, seja pela carga trabalhista, pelas responsabilidades mal administradas ou por problemas na administração do tempo; e até mesmo o abuso das redes sociais, geralmente pela sensação de “utopia na palma da mão”, mas longe da sua realidade”, são fatores que explicam o fenômeno explica o psiquiatra.

Nesse mesmo sentido, a psicóloga Deane Santos fala que junto das questões sociais existe também a questão cultural. “São fatores culturais e sociais que vão influenciar no contexto da potencialização da ansiedade e esses fatores são antigos, desde o processo de modernização da sociedade”, reitera.

Apesar das redes sociais não serem a principal causadora da ansiedade, a navegação de maneira desenfreada e sem filtro pode ser um propulsor para a causa da ansiedade. “A gente não pode afirmar que as redes sociais são o principal causador da ansiedade, mas elas potencializam. Então, a criação de bons hábitos é importante para lidar com as redes sociais. Enxergar as redes sociais não como uma necessidade, mas como uma distração de tempos em tempos, quando você tiver com a cabeça tranquila”, comenta a psicóloga.

Há vários tipos de ansiedade e muitas podem ser as causas e gatilhos.  Dentro dos consultórios alguns tipos são mais frequentes. “Alguns exemplos são a ansiedade generalizada, a síndrome do pânico e recentemente, principalmente após a pandemia, as ansiedades relacionadas com o medo de doenças ou perda de entes queridos e as desencadeadas por pressão profissional e financeira”, explica Tiago.

Segundo a psicóloga, o alto número de casos de pessoas com transtornos de ansiedade já era uma realidade antes da pandemia e as pessoas mascaravam por uma busca de felicidade. “As pessoas provavelmente já tinham esse processo ansioso, mas isso era mascarado, porque havia uma busca por uma felicidade suposta, né? Satisfação momentânea nas coisas passageiras. E aí com a pandemia isso ficou mais claro, porque não se tinha mais esse processo de sair de uma balada, de fazer alguma coisa para mascarar essa sensação”, conta.

Sintomas

Alguns sintomas da ansiedade provavelmente já foram sentidos por muitas pessoas e não há nada de anormal. O problema é quando os sintomas passam a ser excessivos interferindo na vida do indivíduo, podendo desaguar em fobias, pânico e numa ansiedade generalizada. “Geralmente a pessoa apresenta preocupação excessiva, inclusive com problemas pequenos, fala acelerada, agitação psicomotora, dificuldade de foco, alterações de sono e apetite (tanto os aumentos, quando as diminuições de ambos), comportamento esquivo, parecendo sempre com medo, desconfiada, evitando tumultos e locais pequenos e apertados”, explica o médico. 

O fato de estarmos no topo do mundo em transtorno de ansiedade, já seria motivo para dar atenção aos distúrbios mentais, assim como outras doenças foram ganhando ao longo do tempo. “Existem diferenças de caso a caso, mas muitas vezes a pessoa ansiosa pode passar despercebida entre as outras, podendo estar do nosso lado e nem notarmos”, diz Aricó. 

A Stefany Alves, estudante de Rádio e TV, quando teve as primeiras crises de ansiedade não entendia o que estava acontecendo com ela. “Era algo muito novo, eu não entendia. Eu só sentia um peso muito grande no meu peito, um aperto muito grande. Era uma angústia muito grande, uma dor muito grande e falta de ar, parecia que eu estava embaixo d’água e não conseguia ir para superfície”, explica,

Ansiedade do bem x Ansiedade patológica

As preocupações do dia a dia são normais,  a ansiedade é uma reação natural e faz parte das emoções do ser humano. Algumas vezes é até benéfica ao corpo humano diante de uma situação de estresse, preparando o corpo para ficar mais atento, pronto para lutar ou fugir.

Segundo Deane Santos, a ansiedade do bem existe. “Ela é importante para o organismo, porque vai lidar com o alerta de que ali tem perigo, de que você precisa ficar ligado, de que você tá vivo, de que você precisa se movimentar. Isso é efeito da ansiedade do bem”, expõe.

Porém, alguns sintomas colocam a situação em alerta e é necessário que tomemos algumas precauções em relação, principalmente quando a pessoa passa a ter falta de controle sobre a regulagem da ansiedade, podendo ser considerada patológica. “Quando ela prejudica a funcionalidade da pessoa, como complicações no trabalho ou nos estudos; e no relacionamento interpessoal, com o distanciamento de amigos e parentes ou a dificuldade de se relacionar com pessoas em geral”, assegura o psiquiatra. 

Com o descontrole sobre a ansiedade do bem, faz-se necessário o uso de medicação para poder regular o corpo, o cérebro. “Além da medicação, se for necessário, dependendo do caso, é necessário principalmente a terapia, porque não adianta você só cuidar do corpo e não cuidar daquilo que vai causar”, alerta Deane.

O tratamento para ansiedade é muito importante para o paciente e muitas pessoas não entendem o que está acontecendo, não é um processo fácil. “Então, quando eu entendi o que estava acontecendo, eu comecei a tomar as medidas que precisava para lidar com isso. Comecei a fazer tratamento e deu tudo certo, eu demorei meio ano para conseguir buscar uma ajuda. O mais difícil não foi receber o diagnóstico, mas passar pelo tratamento”, conta Stefany.

Ansiedade tem idade?

O transtorno de ansiedade pode acometer qualquer pessoa e não tem idade, muitos fatores influenciam é o que explica a psicóloga Deane Santos, especialista em Neuropsicologia do desenvolvimento. “O transtorno de ansiedade pode ser cometido por qualquer pessoa em qualquer idade, inclusive crianças. Ele tem um pouquinho da parte genética, porque é uma desregulação hormonal, tem muito estímulo do ambiente, por isso ele pode acometer qualquer um: criança, adolescente, adulto ou idoso”, ressalta.

Como evitar a ansiedade?

A psicóloga, Deane Santos, dá dicas de como frear a ansiedade. “Uma das dicas que eu gosto muito de dar para diminuir a ansiedade é conectar cabeça e corpo, estar nos lugares, ou fazer as coisas sempre no aqui e agora. Então se eu estou comendo, eu vou observar o que eu estou comendo, eu vou observar como é que o meu corpo está. Sempre tentar buscar essa conexão consigo mesmo, com seu eu”, diz.

Existem ainda outras dicas de como criar hábitos saudáveis, como regular o solo, fazer atividades físicas, ter um hobby e buscar fazer e consumir coisas que desaceleram e acalmem. “Bom, quando eu estou quando eu sinto que eu estou entrando em crise, primeiro eu respiro fundo e tento ficar na minha realidade olhando em volta e converso com alguém, algum amigo próximo ou a psicóloga”, relata a estudante.

A ansiedade, se não for tratada, pode evoluir chegando a extremos. Em casos mais severos a pessoa pode sentir crises tão intensas e insuportáveis, enxergando como única saída a morte, levando assim muitos ao suicídio por quadros não tratados. Por isso, o médico faz o apelo. “Se estiver sofrendo com algum sintoma suspeito, mesmo que no final das contas não seja nada, é indispensável procurar um profissional qualificado para o melhor prognóstico possível”, finaliza Tiago Aricó.

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