A música geralmente traz conexão entre o cantor e o ouvinte. Canções melancólicas podem ajudar a satisfazer emoções profundas e ajudar nos momentos de tristeza e solidão.
Nycole de Souza
A música tem poder sobre a nossa mente e quando a canção é triste ela tem o poder de trazer vários sentimentos, entre eles o de conexão entre o cantor e o ouvinte. De acordo com a revista Real Simple, músicas mais melancólicas podem ajudar a satisfazer emoções mais profundas e ajudar em momentos de tristeza e solidão. Todo mundo tem uma música preferida para aqueles momentos de reflexão, qual é a sua trilha sonora preferida para essas ocasiões?
Atualmente o sentimento de tristeza entre os jovens têm tido efeito no aumento de ouvintes e pesquisas de músicas nesse estilo nas plataformas. O Spotify é um deles, e está antenado com essa tendência. A plataforma criou várias playlists relacionadas a palavra “sad”, que no português significa triste. Ao entrar na ferramenta e escrever essa palavra na barra de pesquisa é possível encontrar uma feita especialmente para você, com faixas que você já ouve ou que são parecidas com o seu gosto.
As gravadoras estão percebendo esse movimento. Jacqueline Palheiro, dona da gravadora Ventania, diz que até a música gospel tem seguido uma linha mais melancólica. “Algumas músicas estouraram como: “Tá chorando por que?” “Alívio” devido ao momento que nós vivemos no país durante a pandemia. Depois vimos uma sequência de músicas quase motivacionais que prometem que os problemas vão passar e que finalmente viveremos em triunfo”, relata.
A CEO completa dizendo que vê o aumento da demanda de intérpretes pedindo para os compositores seguirem essa linha musical pelo sucesso que estão tendo. “Músicas tristes, melancólicas, mais introspectivas têm crescido porque vemos um movimento de canções alternativas no gospel, que acabam por seguir uma linha mais simples na produção – violão e voz, por exemplo – e isso tem alcançado o mercado, porém, com menor relevância do que as músicas atuais do gospel que falam de sofrimento e triunfo”, finaliza.
Conexão e sensação
A conexão não está ligada apenas entre a música e o ouvinte. Essa ligação também cresce por meio de livros, filmes e outras formas de comunicação. Muitas vezes o uso desses meios está ligado ao fator de liberação, quando se tem uma forma de escapar do mundo real, liberar sentimentos e pressão social trazendo algum tipo de prazer.
A sensação de conexão pode se dar por uma ópera triste ou por uma música da Taylor Swift. Os ouvintes, quando estão em seus momentos de reflexão e solidão, podem sentir a conexão emocional com a composição, com o cantor ou com personagens fictícios. Os autores conseguem, mesmo tendo um público amplo e variado, saber que alguém se sentiu amado ou emocionado com alguma obra específica.
De acordo com um artigo publicado na revista Esquire, do psicólogo musical Michael Bonshor, a característica mais óbvia de uma música triste é o andamento dela. A parceria entre o doutor Bonshor e o Spotify fez uma análise sobre os dados pesquisados na Geração Z, determinando que esse grupo utiliza músicas nesse estilo para relaxar. “Dado o estado geral do mundo, talvez uma dose diária de Lana Del Rey possa nos salvar”, completa o doutor em entrevista para a Esquire.
A jovem Michele Silva diz que ouve músicas mais melancólicas com bastante frequência e fica aliviada ao ouvir, pois ali usa o momento para chorar. “Minha playlist é balanceada entre muito sad e outras animadas, me sinto bem ouvindo gêneros assim”, completa.
Mudança de época
De acordo com a revista The Honest Broker, músicas com um ritmo mais lento começaram a recuperar espaço na indústria. Na década de 1960 essas músicas menos ritmadas eram utilizadas em baladas românticas para casais, atualmente esse estilo tem sido utilizado por jovens, mas não passa uma sensação de romance e sim de tristeza.
“Não acho necessariamente que procurar músicas tristes signifique que a nova geração esteja triste. Existem outras razões para ouvir música triste, como a beleza das canções”, diz o doutor Bonshor. Segundo ele, essa geração está bastante reflexiva, pois procuram um sentimento de pertencimento, utilizando as canções como apoio de sentimentos e para relaxamento.
Gabriel Fergo é compositor e fala que ouvir canções tristes traz a sensação de que está desabafando com alguém e através de pensamentos você consegue ressignificar elas ouvindo as músicas. “Eu prefiro assim, é a oportunidade de trazer um sentimento ao mundo real, poder interagir com ele e ver outras pessoas interagindo também”, diz sobre suas composições.