Profissionais da saúde afirmam que a quantidade de procedimentos realizados aumentará cada vez mais.
Ana Júlia Alem
Uma pesquisa realizada pelo DataSUS, plataforma do Governo Federal que contém informações relacionadas à saúde no Brasil, aponta que em 2009 foram realizadas 26 mil vasectomias. Em 2017, o número aumentou em 123%, totalizando 53 mil cirurgias e até julho de 2018, 36 mil procedimentos já haviam sido realizados.
Em 05 de setembro, o presidente da República, Jair Bolsonaro, aprovou a lei que reduz a idade mínima para realização dos procedimentos de vasectomia e laqueadura de 25 para 21 anos. Para quem já tem dois ou mais filhos a idade mínima não é exigida. Além disso, a norma exclui a necessidade do consentimento dos cônjuges e possibilita que a laqueadura seja realizada após o parto. A lei entra em vigor em março de 2023.
“Dadas as novas normas, estima-se que o número de procedimentos aumente ainda mais depois que a lei entrar em vigor, já que um número maior de pessoas terá acesso ao procedimento. Além disso, a sociedade está mudando, muitos jovens não querem ter filhos e preferem desenvolver sua vida profissional, também existe a questão financeira e social, tudo isso pode afetar no aumento da procura pelas cirurgias ”, explica o Urologista e Uro-Oncologista, Artur Faria.
Procedimentos de esterilização voluntária e seus possíveis riscos
A laqueadura é um procedimento de esterilização voluntário executado em mulheres que não desejam engravidar e pode ser realizada pela abertura da cavidade abdominal ou por laparoscopia, o método menos invasivo. Durante a cirurgia, as tubas uterinas, conhecidas como trompas, são cortadas e suas extremidades são amarradas, impedindo a descida de óvulos e a entrada de espermatozoides.
“As complicações são raras, aconteceram em uma minoria de mulheres que realizaram o procedimento. Porém, existe a síndrome pós-laqueadura, causada por problemas de circulação sanguínea, pressão dos nervos e junção entre os órgãos pélvicos. O quadro clínico pode ser caracterizado por alterações do fluxo menstrual, dor na região pélvica e lombar e síndrome da tensão pré-menstrual”, informa a ginecologista clínica e pré-natal, Lara Ganem.
A vasectomia, cirurgia realizada em homens, interrompe o fluxo de espermatozoides produzidos nos testículos, impedindo a gravidez. “A operação dura entre vinte e trinta minutos e consiste em realizar duas incisões, uma em cada lado da bolsa escrotal e cortando os ductos deferentes. Interrompendo assim, o fluxo de espermatozoides”, declara o urologista.
O médico conta que durante os primeiros dias após a realização do procedimento, é comum os pacientes sentirem certo desconforto ou maior sensibilidade na área da cirurgia, especialmente quando se movimentam. As complicações são amenizadas com repouso e medicamentos.
O que pode estar causando maior interesse em procedimentos de esterilização?
Paola Brambilla, estudante de Recursos Humanos de 18 anos, acredita que atualmente a sociedade está mais focada na vida profissional, por isso não deseja filhos e pode optar por realizar os procedimentos mesmo sem possuir uma família. Para ela, as pessoas se interessam mais em realizar seus próprios sonhos.
Paulo Octávio Peres é estudante de Direito, tem 20 anos e trabalha como estagiário jurídico da Defensoria Pública de São Paulo. Ele abraça a ideia de que as laqueaduras e outros métodos contraceptivos incisivos estão sendo cada vez mais buscados em função da evolução cultural da sociedade, o que ocasiona a redução na taxa de natalidade.
“Outro ponto são os problemas sociais. Durante o meu trabalho, atendo pessoas de baixa renda com problemas jurídicos e vejo que essas pessoas têm buscado ter menos filhos em função das dificuldades que elas têm passado, seja falta de emprego, insuficiência alimentar e outros aspectos. Acredito que muitas delas pensam que não precisam colocar outra pessoa no mundo para passar pelas mesmas dificuldades”, comenta Paulo.
Existem também pessoas como o paulista Ícaro Andrey, estudante de Medicina de 18 anos e Mariana Reberte, acadêmica de Psicologia de 19 anos que preferem a ideia de adotar a ter filhos e afirmam não precisar ter filhos biológicos para serem pai e mãe, de fato. Dessa forma, poderão dar para uma ou mais crianças uma vida diferente da que receberam.
Alternativas menos invasivas e não definitivas
Para a médica Lara Ganem, atualmente existem outros métodos contraceptivos menos agressivos e reversíveis. Tais como: pílulas anticoncepcionais, implantes anticoncepcionais, dispositivo intrauterino (DIU), camisinha feminina e masculina, anticoncepcionais injetáveis e adesivos cutâneos hormonais.
“Atualmente, existem outras opções que te libertam da escolha definitiva de ter um filho ou não, por isso é importante buscar informações seguras que o protejam. Lembrando que antes de tomar qualquer decisão, é necessária uma orientação médica para definir qual o método mais adequado, levando em consideração as condições de saúde do homem e da mulher”, finaliza a ginecologista.