Quem é Robert Prevost, o Papa Leão XIV?

In Cultura, Geral

Leão XIV assume o trono de São Pedro e promete uma igreja próxima e missionária.

Isabella Maciel

Aos 69 anos, o antigo prefeito do Dicastério para os Bispos adotou o nome de Leão XIV e, em seu primeiro discurso, reforçou a necessidade de uma Igreja “sinodal, missionária e próxima dos que mais sofrem”.

A fumaça branca saiu da chaminé da Capela Sistina por volta das 13h07 (horário de Brasília), sinalizando que os cardeais haviam chegado a um consenso.

Um pouco mais de uma hora após a fumaça branca sair da chaminé da Capela Sistina, o cardeal protodiácono Dominique Mamberti proclamou em latim: “Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum, Dominum Robertum Franciscum, Sanctæ Romanæ Ecclesiæ Cardinali Prevost, qui sibi nomen imposuit Leo XIV.”

Em português: “O eminentíssimo e reverendíssimo senhor, senhor Robert Francis, cardeal da Santa Igreja Romana Prevost, que se impôs o nome de Leão XIV”.

Após a confirmação da decisão, o papa eleito passou pela chamada Sala das Lágrimas, espaço reservado para que tome consciência de sua nova missão e vista, pela primeira vez, os paramentos pontifícios. Em seguida, ele apareceu na Sacada Central da Basílica de São Pedro. Leão XIV pediu que a saudação de paz de Cristo entrasse no coração de todos. “Estamos todos nas mãos de Deus. Portanto, sem medo, unidos, mão na mão com Deus e entre nós, sigamos adiante”, disse o pontífice.

Reformista

Prevost foi peça-chave nas reformas de Francisco, ampliando a participação feminina nas decisões episcopais e construindo pontes com grupos marginalizados. Em entrevista recente ao Vatican News, ele ressaltou: “Não podemos parar, não podemos retroceder. Temos que ver como o Espírito Santo quer que a Igreja seja hoje e amanhã, porque o mundo de hoje (…) não é o mesmo que o mundo de 10 ou 20 anos atrás.”

Embora centrado, Prevost é visto como progressista, alinhado à abertura promovida por Francisco. Sua trajetória inclui uma sólida formação em Teologia e direito canônico, além de uma longa experiência missionária no Peru durante o governo autoritário de Alberto Fujimori, período no qual chegou a cobrar desculpas públicas pelas injustiças cometidas.

Primeiro papa vindo de país protestante

Robert Francis Prevost nasceu em 1955 em Chicago, Estados Unidos, e entrou para a vida religiosa aos 22 anos, como agostiniano. Ordenado padre em 1982, formou-se em Teologia na União Teológica Católica de Chicago e logo seguiu para Roma, onde cursou direito canônico na Universidade de São Tomás de Aquino. 

Dois anos depois, iniciou sua missão no Peru, primeiro em Piura e depois em Trujillo, onde atuou durante o governo autoritário de Alberto Fujimori.

Em 2014, foi nomeado administrador da Diocese de Chiclayo, onde se tornou bispo e, no ano seguinte, adquiriu cidadania peruana. Ele permaneceu por nove anos à frente da diocese, enfrentando em 2023 sua principal crise: denúncias de acobertamento em casos de abuso sexual cometidos por padres, acusações que a diocese nega, afirmando que Prevost seguiu os trâmites oficiais.

Nos anos seguintes, Prevost ganhou influência no Vaticano como chefe do Dicastério para os Bispos, supervisionando nomeações e liderando reformas, como a inclusão de mulheres no bloco de votação episcopal. 

Em fevereiro de 2025, foi promovido a cardeal-bispo e designado à Diocese Suburbicariana de Albano pelo papa Francisco

Prevost chamou atenção ao fazer uma menção especial ao Peru, e não aos EUA, no momento de sua posse, reforçando seus anos como missionário em Trujillo e bispo em Chiclayo.“À minha querida diocese de Chiclayo no Peru, onde um povo fiel acompanhou o seu bispo, compartilhou a sua fé e deu tanto a mim para seguir sendo igreja fiel de Jesus Cristo”, homenageou o Papa.

Como pensa Leão XIV?

Leão XIV já se manifestou publicamente contra o racismo, especialmente após o assassinato de George Floyd em 2020, e criticou duramente a pena de morte, classificando-a como “inadmissível” para a Igreja. Também se opôs a políticas de deportação de imigrantes adotadas durante o governo Trump e demonstrou preocupação com a situação de refugiados sírios e centro-americanos.

No debate ambiental, Leão XIV defende uma relação equilibrada entre humanidade e natureza, alertando contra atitudes dominadoras. Apesar de progressista em diversas frentes, ele manteve uma posição conservadora em relação à ordenação de mulheres, dizendo em 2023 que “clericalizar mulheres” não resolveria os desafios internos da Igreja. 

Já sobre as bênçãos a casais do mesmo sexo, preferiu não tomar um lado claro, ressaltando a importância de que cada conferência episcopal nacional lidasse com a questão segundo suas próprias culturas. 

Ele também compartilhou críticas à abordagem de gênero no currículo escolar do governo peruano, ainda que as autoridades do país tenham esclarecido que o foco do material era educação emocional e sexual responsável.

O peso simbólico do nome Leão XIV

A escolha do nome também carrega tradição. Desde a Idade Média, é costume que o novo pontífice adote um nome distinto para simbolizar seu papel. A mudança de nome não é uma obrigação na Igreja Católica, mas os papas costumam adotar um novo nome inspirado nos valores e ideais que desejam refletir durante seu pontificado.

O nome Leão XIV escolhido por Robert Prevost remete a uma longa tradição papal e carrega peso histórico. O último papa a adotar esse nome foi Leão XIII, famoso por ter publicado em 1891 a encíclica Rerum Novarum, considerada um marco da Doutrina Social da Igreja ao abordar, pela primeira vez, os direitos dos trabalhadores, a justiça social e o papel do Estado. 

Ao escolher esse nome, Prevost sinaliza continuidade com uma herança de atenção às questões sociais e compromisso com a construção de pontes entre Igreja e sociedade.

Agora, é Leão XIV quem carrega o bastão, um missionário agostiniano que, como ele mesmo definiu: “Sou um filho de Santo Agostinho, agostiniano, que disse: ‘Convosco sois cristão, e para vós bispo’. (…) Sem medo, para proclamar o Evangelho. Para sermos missionários”.

O processo de escolha

O conclave que elegeu Leão XIV teve início na tarde de quarta-feira (7), quando 133 cardeais eleitores se reuniram na Capela Sistina, no Vaticano, em um processo marcado por tradição e sigilo. 

Seguindo os ritos seculares, os cardeais realizaram rodadas sucessivas de votação, sinalizadas ao público por fumaça preta, indicando que nenhum candidato havia sido escolhido, ou fumaça branca, sinal de consenso. 

Após duas fumaças pretas, a última pela manhã desta quinta-feira (8), a tão aguardada fumaça branca surgiu às 13h07 (horário de Brasília), confirmando a eleição do novo papa.

Leão XIV promete não perder o espírito missionário que o levou, anos atrás, a caminhar ao lado de todos e levar a mensagem.

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