Entre os anos de 2014 e 2017 foram encontrados 27 pesticidas nas águas das principais capitais brasileiras
Djuliane Rodrigues e Hellen Piris
Entre os anos de 2014 e 2017 foram encontrados 27 pesticidas nas águas das principais capitais brasileiras. Os compostos químicos foram classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como altamente tóxicos que podem causar má formação fetal e desenvolvimento das células cancerígenas. Dos 27 agrotóxicos, 16 são seriamente nocivos para a saúde humana e 11 estão ligados à má formação fetal e à propagação do câncer. Além disso, podem causar problemas no sistema nervoso, lesões nos rins, danos ao fígado e doenças cardíacas. De acordo com os engenheiros agrícolas Liliane Fernandes e Walter Carvalho, as enfermidades podem apresentar efeitos imediatos ou crônicos – a curto, médio ou longo prazo. Os testes que determinam se a água é apropriada para o consumo humano são obrigatórios em todo o território brasileiro; no entanto, apenas 31% dos municípios apresentaram os resultados. Entre 2014 e 2017, subiu de 75% para 92% a quantidade de agrotóxicos na água – número que assola a maior parte da população do país. Os dados são do Ministério da Saúde em parceria com a Repórter Brasil, Agência Pública e a organização suíça Public Eye. Engenheiro Coelho – a cidade que abriga o ABJ Notícias – está entre as que tiveram sua água contaminada por todos os 27 agrotóxicos mencionados.
De acordo com Liliane Fernandes e Walter Carvalho, os agrotóxicos, quando levados pela água, podem contaminar rios, lagos e mares. Além disso, em muitos casos, quando não utilizados implementos adequados – tamanho de bico e pressão do equipamento, por exemplo – para as condições ambientais do dia, como a umidade relativa, pressão, velocidade e direção do ar, “podemos ter a deriva de todos esses produtos, culminando na contaminação direta de áreas diferentes daquelas em que foram aplicados”, complementa Liliane. Ela e Walter ainda explicam que, quando a água é contaminada por defensivos agrícolas, sua detecção e descontaminação são mais difíceis. Por isso, sistemas de purificação da água estão em alta, principalmente os mistos, que combinam a limpeza físico-química e biológica do líquido. “No entanto, dada a complexidade dos produtos a serem retirados da água, ainda não se tem um processo considerado ideal”, salientam.
Os efeitos colaterais no organismo causados pelo consumo de água contaminada por pesticidas são gradativos. Para o agrônomo Arguz Cezar da Rocha Neto, “não podemos esquecer que o que difere o remédio do veneno é a dose. Assim, podemos nos valer desse ditado para os agrotóxicos, ou seja, quando respeitadas às doses a serem utilizadas, bem como o período de carência e os intervalos de aplicação, não haveria danos à saúde dos brasileiros. O que acontece é o desrespeito por estas informações”. Ele, que também é doutor em Biotecnologia e Biociências, explica que, se os agrotóxicos deixassem de ser utilizados no Brasil, a produção de alimentos sofreria problemas de demanda. No entanto, ele reforça: “não faltam alimentos hoje no mundo, o que falta é uma correta distribuição destes”.
Ainda de acordo com Rocha, a Anvisa disponibiliza uma lista com os principais alimentos contaminados por agrotóxicos. Entre eles se encontram batata, tomate, pimentão, berinjela, morango, pepino, alface, cenoura, abacaxi, beterraba, couve e mamão. Todos estes vegetais e frutas tiveram mais do que 30% de amostras com traços de agrotóxicos. Portanto, estavam contaminados.