Como o Novo Ensino Médio tem afetado a vida dos alunos e da instituição.
Bruno Sousa
O governo Lula anunciou que vai suspender a implementação do Novo Ensino Médio, que vem causando polêmicas por medidas que foram implementadas pelo Ministério da Educação (MEC). Esse modelo de ensino foi aprovado em 2017 e colocado em prática em todas as escolas no ano de 2022. Uma consulta pública realizada em março deste ano, demonstrou o descontentamento com a proposta.
Basicamente esse programa, tem como objetivo a ampliação da carga horária e a flexibilização do currículo, permitindo que os estudantes escolham parte das disciplinas que irão estudar, de acordo com seus interesses, aptidões e projetos de vida. Embora sejam mudanças positivas, elas vêm sofrendo críticas pela maneira que estão sendo executadas na rotina dos estudantes.
Críticas sobre o modelo
Um ponto a ser questionado neste novo modelo é a questão da desigualdade educacional, especificamente em relação aos alunos das escolas públicas. Ângela Rodrigues é professora em um Colégio Estadual e passa por dificuldades na aplicação. “No discurso deles tudo é muito lindo, mas, na prática, para um aluno de periferia que em sua maioria são filhos de famílias desestruturadas, a prioridade é o trabalho para garantir o sustento do lar”, argumenta.
“A falta de informação e embasamento teórico de algumas disciplinas que surgiram do nada, sem uma matriz curricular, em que os professores têm que criar planos de aula sem sequer ter onde recorrer sobre o tema proposto”, explica sobre um dos desafios enfrentados por ela e outros servidores.
Devido essas mudanças a forma de avaliar os estudantes fica mais difícil, ainda mais pelo grande déficit na educação após uma pandemia. “Infelizmente, até agora não conseguimos obter nenhum resultado positivo. Os alunos continuam com uma deficiência enorme de aprendizagem e essa defasagem no ensino está sendo apenas maquiada”, desabafa Ângela.
A dura realidade do Novo Ensino Médio
Dentro deste novo método existem os itinerários formativos, que são a junção de conteúdos, nos quais o aluno pode escolher para se aprimorar e desenvolver em áreas como: linguagem e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias, ciência humana e sociais aplicadas.
Porém, esse método nos colégios públicos acaba enfrentando os seus desafios, como a falta de profissionais e até mesmo salas de aulas para atender essa demanda. Clarisse Leite é aluna do segundo ano Ensino Médio e comenta que no seu colégio “não houve escolha, só tinham duas opções, que foram comunicação e ciências da natureza”.
Outra questão pautada pelos alunos é sobre o vestibular. Devido essa junção de conteúdos, com o passar de cada grau do ensino, os itinerários aumentam e algumas matérias não são aplicadas em salas. No terceiro ano, por exemplo, as disciplinas de arte, educação física, filosofia e sociologia ficam de lado.
“O modelo anterior era mais eficiente, principalmente pro aluno que se interessa em ingressar numa universidade. Com o Novo Ensino Médio e com o itinerário atual, eu não consigo ver uma forma de prestar um vestibular”, lamenta Clarisse.
Mudança no Enem 2024?
A intenção na implementação do Novo Ensino Médio era preparar o estudante para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2024. Pois, com esse novo método, a aplicação das provas em relação aos conteúdos seriam diferentes.
A prova passaria a ser dividida em duas fases: uma igual para todos, e outra referente ao itinerário formativo escolhido pelo aluno, além das questões dissertativas. Essas adaptações do exame também serão revogadas pelo governo.
Foto: Arquivo pessoal/Ângela Rodrigues