Por mais grave que sejam, os empecilhos causados pelo Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) e seu “parente” mais fraco – a TPM – não são conhecidos por todos/as
Maria Teófilo
Que mulher nunca passou pela montanha russa de emoções na TPM? Usualmente ligado à ansiedade, a Tensão Pré-Menstrual (TPM) é causada pela diminuição de estrogênio, um dos hormônios sexuais femininos. Outros hormônios, como a adrenalina e o cortisol, são liberados, e contribuem para o nível alto de estresse. Além dele e da ansiedade, outros sintomas incluem humor alterado, insônia, reações explosivas e tensão. Quando cinco persistirem todos os meses, é preciso desconfiar – talvez, não seja apenas uma simples TPM.
Segundo estudos do Departamento de Psicologia da Universidade de Marburg, na Alemanha, mudanças bruscas que interferem no dia a dia da mulher e atrapalham suas relações profissionais e pessoais podem ser tratados com ansiolíticos. O Dr. Pablo Canalis, psiquiatra do Centro de Vida Saudável (Cevisa) em Engenheiro Coelho (SP), aconselha não tomar decisões importantes nessa época do mês. Ademais, cada mulher tem uma reação diferente, e, por isso, comparações não devem ter lugar. “É importante consultar um ginecologista para ver se o tratamento com anticoncepcional diminui essa sintomatologia, e se consultar com o psiquiatra caso os sintomas sejam graves”, ressalta o médico. Ele também indica que evitar bebidas estimulantes, como café, chá preto, chá mate e energéticos diminui bastante os sintomas, e exercícios físicos aeróbicos também são recomendados. Também deve se fazer uso de remédios naturais, como camomila, passiflora, cidreira e maracujá. Canalis explica que esses extratos e chás aliviam a tensão.
Muito mais que um incômodo
No entanto, há quem não consiga melhorar mesmo tomando todas as precauções a sério. Pode ser que a pessoa tenha Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM), também chamado de Desordem Disfórica Pré-Menstrual (DDPM). De acordo com o manual “Psicologia dos Transtornos Mentais”, do psicólogo americano David S. Holmes, esta pode ser definida como um tipo de TPM mais emotiva e agressiva. Embora as siglas sejam parecidas, a letra “D” faz toda a diferença. A inserção do adjetivo “disfórico” remete à sensação de mal-estar ou à depressão causada por ela, e é o antônimo de euforia. Estudos da Universidade de Marburg estimam que de 3 a 8% das mulheres no mundo sofrem com esse tipo de TPM, onde o seu humor fica tão alterado que pode ser preciso se afastar de atividades rotineiras. Redução de interesse pelo trabalho, estudos, amigos, família e hobbies, dificuldades para se concentrar, mudanças de apetite, distúrbios de sono, sentir-se oprimida e fora de controle também são sintomas do TDPM. Já na parte física, a paciente pode apresentar sensibilidade nos seios, dores de cabeça, cólicas, sensação de inchaço e ganho de peso. Quem sofre da síndrome apresenta principalmente alterações emocionais. O Transtorno Disfórico é uma doença grave. A psicóloga Vera Rocha Lellis exemplifica o funcionamento do distúrbio: “Nós chamamos de TPM ao ‘cubo’. Se você acha a TPM grave, experimente essa. Ela é mais potente porque está ligada à depressão”. Vera também faz um alerta: ao primeiro sinal do TDPM, procure especialistas, e, se necessário e recomendado por eles, use medicação.
Não é frescura
Por mais grave que sejam, os empecilhos causados pela Desordem Disfórica e sua “parente” mais fraca – a TPM – não são conhecidos por todos/as. A estudante Nara Brambilla, por exemplo, nunca tinha ouvido falar do TDPM. “Não sei o que é, mas tenho muitos desses sintomas. Vou prestar mais atenção, embora ache que tenha apenas TPM ‘normal’. Nunca é bom, mas a gente precisa aprender a lidar com isso, infelizmente”, lamenta. A falta de estudos aprofundados sobre o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual pode ser uma razão para a desinformação do público.
De acordo com o manual de Holmes, é impossível diagnosticar TDPM antes de três meses, o que pode ser outra causa para seu desconhecimento. Mulheres que são desatentas ou dizem se acostumar com os sintomas pensam que pode ser uma simples TPM. Há também quem vivencie o TDPM e a TPM simultaneamente. Ainda não há certezas sobre a Desordem Disfórica, mas ela pode estar associada a questões genéticas e histórico de depressão familiar. A própria depressão deriva da disfunção da serotonina no sistema – mesmo fenômeno que ocorre no TDPM.