Transtorno alimentar voltado ao ganho excessivo de massa preocupa especialistas

In Geral, Saúde

O comportamento ainda não foi reconhecido oficialmente, mas acende alerta entre profissionais da saúde.

Felipe Torquato

Psicólogos, psiquiatras e nutricionistas têm observado um comportamento alimentar voltado à busca excessiva de massa muscular e hábitos alimentares desordenados nos últimos anos. Conhecido como “Comer transtornado orientado para a muscularidade”, o comportamento surgiu nos Estados Unidos em 2016. No Brasil, ele vem ganhando espaço junto ao crescimento da musculação.

Também conhecido em inglês por Mode (sigla para Muscularity oriented disordered eating), essa compulsão alimentar envolve controle rigoroso de proteínas, carboidratos e gorduras. Além disso, os praticantes afetados costumam verificar constantemente seu índice de massa muscular.

O distúrbio alimentar tem afetado tanto homens como mulheres, mas predomina entre o sexo masculino. Segundo a nutricionista Carla Souza, a faixa etária mais alcançada são os jovens de 16 a 22 anos, tendo 22% dos homens dessa idade com comportamentos associados ao Mode.

Apesar de não ser classificado formalmente como transtorno, diversos profissionais vêm encontrando pacientes com comportamentos que se encaixam com o distúrbio, gerando uma discussão sobre sua possível inserção no Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5).

A mídia e a era fitness

Embora as mídias divulguem informações importantes sobre saúde, muitas vezes essas informações são mal interpretadas, causando efeitos negativos. Através das redes, influenciadores que idealizam corpos musculosos e inatingíveis ganham palco, gerando comparações prejudiciais, o que também pode contribuir para o surgimento de problemas comportamentais psicológicos.

Além disso, grande parte dos influenciadores do fisiculturismo é patrocinada pela indústria de suplementação fitness, apresentando seus produtos como solução para um corpo ideal. Como consequência, muitas pessoas acabam sem orientação profissional, excedendo o nível saudável de nutrientes e principalmente de proteína.

Observa-se também um excesso de informações, que faz com que muitos usuários enxerguem a nutrição e a hipertrofia de maneira distorcida, resultando em dietas desequilibradas e exercícios exagerados.

O praticante de musculação João Ricardo Novaes contou que busca equilibrar saúde e estética em seus treinos. Ele relatou já ter sentido pressão individual para aumentar o peso, mas conseguiu identificar o pensamento e hoje não vive essa cobrança. Situações como essa são comuns e precisam de atenção para evitar transtornos como o Mode.

Impactos físicos e emocionais

Os riscos do transtorno alimentar não são apenas estéticos ou sociais. Médicos já relatam casos de sobrecarga no sistema renal devido ao excedente consumo de proteínas, principalmente em pacientes com tendência a doenças renais.

Em entrevista, a psicóloga Lorena Silva destacou que o avanço da ciência em áreas como nutrição e educação física trouxe benefícios, mas também aumentou a pressão sobre quem busca alta performance. “Quanto mais a ciência evolui, maior a exigência para alcançar resultados, o que pode gerar ansiedade quando a perfeição não vem”, explica.

Entre os efeitos colaterais dessa prática extrema estão: desequilíbrios nutricionais, alterações hormonais, infertilidade, distúrbios gastrointestinais e até problemas cardiovasculares. Do ponto de vista psicológico, os efeitos também são severos. O comportamento está muitas vezes associado a ansiedade, depressão, irritabilidade e isolamento social.

Tratamento e prevenção do transtorno

Ainda não existe um protocolo oficial de tratamento para o Mode, mas especialistas abordam os tratamentos já conhecidos para transtornos alimentares e para o transtorno dismórfico corporal (preocupação excessiva e distorcida da própria aparência física).

Apesar de a Psicoterapia ser considerada o tratamento mais indicado para correção do comportamento, é essencial que nutricionistas, psicólogos e médicos se unam em um tratamento interdisciplinar para alcançar a cura.

A psicóloga Lorena Silva reforçou a importância de educar os praticantes de musculação sobre os riscos da busca exagerada por resultados. O alerta é essencial para que compreendam os limites do corpo e evitem cair em comportamentos que podem evoluir para transtornos como o Mode, preservando não apenas a performance, mas também a saúde física e mental.

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