Tratamentos capilares: os perigos de que ninguém fala

In Geral, Saúde

Dermatologistas afirmam que má execução de tratamentos e mau uso de produtos podem causar reações alérgicas.

Ana Júlia Alem

Com o intuito de entender melhor a relação entre substâncias contidas nos produtos capilares e o aumento de casos de câncer, foi realizada uma pesquisa, na Suécia, com inúmeros cabeleireiros, sendo 38.866 do sexo feminino e 6.824 do sexo masculino. Ao fim da pesquisa, foram registrados 1.043 casos de câncer em cabeleireiros homens e 2.858 em mulheres.

Os pesquisadores afirmaram que a origem do câncer pode não ter sido necessariamente devido às substâncias dos produtos, mas este pode ter sido um fator que permitiu o desenvolvimento da doença.

“Atualmente, é muito comum as pessoas realizarem diversos tratamentos capilares sem saber quais são os produtos que elas estão utilizando, se elas têm ou não alergia à determinada substância e se estão realizando os procedimentos da maneira correta. Essas práticas são muito perigosas, a má execução de tratamentos capilares e o uso de cosméticos de maneira inadequada podem acarretar diversas consequências à saúde da pessoa em questão, desde problemas ‘simples’, como descamação ou coceira até problemas mais graves, como desenvolvimento de câncer”, informa a dermatologista Bruna Senna.

Miriam Moraes é uma mulher que inúmeras vezes realizou, e continua realizando, progressivas. Em certa ocasião, ela foi a um salão que nunca tinha ido para fazer o procedimento. Alguns dias depois, porém, reações começaram a aparecer, ela percebeu certa vermelhidão no pescoço e nos braços e sentiu coceira na região da progressiva. Mas o que realmente a deixou assustada, foi a amigdalite repentina causada pelo formol.

“Fiquei traumatizada e evitei realizar procedimentos por um bom tempo após essa situação. Hoje em dia, depois disso que passei, tomo muito cuidado ao realizar os tratamentos, escolho muito bem os salões que frequento, procuro cosméticos menos agressivos e evito colocar química desnecessária em meu cabelo, pois entendi como o excesso delas pode me prejudicar”, finaliza Miriam.

“Por vários anos eu fiz progressivas com formol, mas em uma dessas vezes, tive uma reação alérgica muito forte e acabei indo para o hospital, onde fiquei internada por alguns dias após ser orientada sobre minha alergia ao formol”, declara Marlene Rita de Sousa. Ela conta que após esse episódio, realizou o mesmo procedimento mais duas vezes, os quais, novamente, acarretaram em reações alérgicas, porém, de forma mais leve.

“O que eu passei, não desejo para ninguém. E depois de todos esses casos, finalmente abandonei as progressivas que contém formol, opto por progressiva orgânica, uma técnica que trabalha com produtos naturais que não agridem os fios”, conclui.

Os perigos dos tratamentos capilares

Marina Ramos, dermatologista clínica e cirúrgica, explica que é necessário ter muito cuidado ao realizar procedimentos capilares, pois existem vários fatores que podem causar reações. “Um dos erros mais cometidos é não ter certeza da existência de alergia a certos componentes do produto, pois a reação alérgica pode causar coceira, descamação e inflamação no couro cabeludo. Mas existem outros erros simples que podem acarretar problemas sérios, como deixar o produto agir por mais tempo que o indicado no rótulo, misturar químicas diferentes e realizar os procedimentos sem acompanhamento profissional”, comenta.

As alergias aos componentes químicos se manifestam de diferentes formas, a mais leve é por meio de coceiras, queda de cabelos, dermatites e erupções purulentas na região do procedimento. Já nos casos mais graves, as inflamações são mais resistentes, espalhadas pelo corpo e podem acarretar inchaço do couro cabeludo e da face. Marina Ramos ainda conta que em casos extremamente graves, a alergia pode resultar em problemas respiratórios e choques anafiláticos.

Além disso, a dermatologista Bruna Senna explica que o uso de formol nas progressivas pode trazer sérias consequências. A substância cumpre seu propósito, porém, é inimiga da saúde. De acordo com Bruna, além de danificar os fios, deixando-os quebradiços e endurecidos, a inalação da mesma pode provocar dores de garganta e tosse, pneumonite química (“queimadura” das mucosas respiratórias), redução da frequência respiratória, debilidade da visão e câncer no aparelho respiratório.

Como evitar?

“Neste cenário, percebe-se que é muito importante consultar um médico alergista antes de realizar qualquer procedimento capilar, desde tinturas a progressivas. Só ele poderá fazer um diagnóstico completo e seguro. No caso de alergias, ele poderá indicar produtos adequados para o uso ou até remédios anti-histamínicos para inibir as reações, como Loratadina e Polaramine”, comenta Bruna Senna.

Para Bruna, após ter feito o acompanhamento médico, existem outras maneiras de se prevenir das reações aos tratamentos capilares, tais como: escolher um salão de beleza confiável, não realizar os procedimentos sem auxílio de um profissional da área e buscar tratamentos alternativos com produtos mais leves, como trocar o formol por queratina.

Marina Ramos explica que mesmo com outros cuidados, é necessário conferir o rótulo do produto para se certificar de que ele oferece instruções de uso e de que é registrado pela Anvisa, assim é possível ter certeza que o produto é de qualidade. “A etiqueta deve conter as instruções necessárias sobre a forma correta de utilização do produto, a fim de que consequências à saúde sejam evitadas. Por exemplo: não utilizar caso o couro cabeludo esteja irritado ou lesionado, aplicar o produto a meio centímetro da raiz e, no caso de conter derivados de ácido glioxílico em sua composição, devem explicar a possível ocorrência de queda ou alteração de coloração dos fios”, finaliza.

Para a realização da consulta no portal da Anvisa, é necessário ter em mãos os seguintes dados: nome do produto, número de registro, CNPJ da empresa, número do processo e período de vencimento do produto em questão.

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