A culpa não é sua

In Artigo

Lembre-se: violência não é só física

Kawanna Cordeiro

O primeiro passo antes de darmos início nessa conversa é você, mulher, entender que você nunca será a culpada de estar em um relacionamento abusivo.

Nós estamos acostumadas, e fomos educadas socialmente, com situações que nos humilham e diminuem. Talvez por uma questão histórica, os homens acreditem exercer um poder sobre as mulheres. Esse “poder” pode se apresentar como um chefe que exige tratamentos além do profissional, um parceiro que impõe o controle das suas redes sociais, que te intimida e te faz se sentir insuficiente.

Quando ouvimos as palavras: relacionamento abusivo, automaticamente relacionamos a agressão física, por ser a mais visível e o mais longe que alguém pode ir ao invadir o espaço que é seu, seu corpo. Mas ela não é a única. Existem outros tipos de violência, outros abusos, outras dores.

E não. Não é normal, não te faz bem, não é saudável.

Sinais que te ajudam a definir um relacionamento abusivo

Se ele te faz se sentir errada em qualquer tipo de conversa ou você ouve frases como “isso é coisa da sua cabeça” temos um caso de violência moral. O principal, nesse tipo de abuso é a desqualificação da mulher, a humilhação e quando as ações dele fazem com que você questione a sua própria compreensão da realidade.

Tudo bem você pedir a opinião dele quando duvida da combinação da saia preta e a blusa azul. Mas ele te fazer trocar de roupa, tirar o batom, controlar suas amizades ou lugares que você “pode” ou “não pode ir”, não está tudo bem, está errado.

Ciúmes, controle extremo, possessividade, se encaixam na violência patrimonial: quando ele de fato controla suas roupas, seu dinheiro, suas amizades, a foto que você vai postar, etc.

Ele te força mesmo contra a sua vontade. Você não está afim, você não quer. Ele não respeita isso, inclusive durante o sexo. Isso é agressão sexual, se ele desperta o seu sentimento de culpa ou de obrigação de satisfazer as vontades dele.

Se você se sente presa a ele, como se ninguém mais fosse te amar ou te aceitar, são sentimentos típicos da violência psicológica. Se ele não gosta que você procure opiniões de outras pessoas, principalmente longe dele, se inconscientemente você foi se afastando dos seus amigos, da sua família ou colegas de trabalho, não está tudo bem.

Briga de marido e mulher mete-se sim a colher

Segundo a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, em novembro de 2016, dois terços dos casos denunciados de violência contra a mulher no Brasil, são cometidos por atuais ou ex-companheiros. São muitos casos, não é só você que passa por isso. A garota da sua sala também passou, sua vizinha da rua debaixo, aquela amiga de infância que você perdeu o contato, etc. Então fique tranquila, você NUNCA estará sozinha.

Ele nunca levantou a mão para você, mas desconta a agressividade batendo portas ou outros objetos. Isso é ameaça, como se te dissesse que ele é forte e que você pode ser a próxima coisa que ele irá bater.

Ele grita com você. Lembre-se que violência não é só hematoma. O grito de hoje pode se tornar um tapa no futuro.

Ele te agrediu. Pode ser óbvio, mas não está certo. Isso não é sua culpa. Não esqueça.

O mais comum em todo relacionamento abusivo: ele promete que não vai acontecer novamente.

Depois da agressão é quando ele se diz arrependido, promete nunca mais repetir, pede todos os tipos de perdões possíveis e o que era sapo se torna príncipe. Declara o quanto ele te ama, te ouve, te valoriza, você se sente a mulher mais importante do mundo. E é nessa hora que, mesmo sem pedir, ele te faz desistir de denunciar a agressão.

Você não está sozinha

“A mulher não quer se livrar do companheiro, quer se livrar da violência”, diz Marina Ganzarolli advogada e cofundadora da DeFEMde – Rede Feminista de Juristas, ao BuzzFeed.

Nesse tempo, parece que tudo vai ficar bem, mas pode demorar horas, dias, meses: o ciclo de violência sempre dá a volta.

Se você se identificou com algum item ou conhece alguém que vive um relacionamento abusivo: procure ajuda. Alguém que você confie, que vai se sentir confortável para conversar sem ser julgada. Você também pode ligar para o 180, a Central de Atendimento à Mulher, que funciona 24hrs por dia, nos sete dias da semana.

Não se cale. Não tenha vergonha.
Vai ficar tudo bem.

Link das imagens:

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