A ação visa diminuir o desperdício de alimentos que ainda poderiam ser consumidos e consequentemente diminuir os preços destes produtos.
Gabriele Ramos Venceslau
O Waitrose, supermercado britânico, decidiu remover as etiquetas de “consumir preferencialmente até” dos alimentos orgânicos. A partir do próximo mês, essa marca deixará a cargo do cliente a avaliação dos produtos de uma lista de mais de 500 tipos de frutas e legumes, ou seja, caberá à clientela decidir se estes estão em boas condições de consumo. A ação tem como objetivo diminuir o desperdício de alimentos que poderiam ser consumidos e reduzir o preço.
Cerca de 17% de todos os alimentos disponíveis para o consumo são desperdiçados anualmente, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Esse desperdício contribui na mudança do clima e pesa no bolso do consumidor, afirma o supermercado Wairtrose. Informação que é reafirmada por dados da FAO (Organizações das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), que indicam o desperdício de um terço da produção alimentar todos os anos em todo o mundo.
Dentre os supermercados britânicos, o Wairtrose foi um dos últimos a tomar essa iniciativa. O primeiro foi o Tesco, que retirou estas etiquetas de 100 produtos em 2018. Além deste, o Marks Spencer fez o mesmo este ano com 300 tipos de frutas e legumes. Em janeiro de 2022, o supermercado Morrisons retirou a “data de validade” de suas marcas próprias de leite para estimular os consumidores a fazerem o teste de olfato, para saberem se o produto estava em boa qualidade para ser consumido.
Como é definido o prazo de validade dos produtos?
O prazo de validade dos produtos é definido por “testes de vida da prateleira”, que é um estudo realizado em laboratório a partir de pequenas amostras do produto. Assim, a mercadoria é avaliada sob diversas condições para saber o tempo em que ela perderá a qualidade de consumo. Porém, estes prazos são estabelecidos com uma margem de segurança. Isso faz com que determinados alimentos ainda possam ser consumidos após o término deste prazo.
É por esta razão que existem duas etiquetas distintas, a data de validade que indica se um produto pode ou não ser consumido depois de determinada data e a que recomenda até quando o produto deve ser consumido preferencialmente. No Brasil, a fiscalização de alimentos é desenvolvida por diversos orgãos, dentre eles estão a ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Vigilância Sanitária nos âmbitos estadual e municipal e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Estes órgãos asseguram a segurança alimentar da população.
Consequências da retirada das etiquetas
Um benefício da retirada dessas etiquetas é evitar o desperdício, opinião defendida pelos supermercados britânicos que adotaram essa medida. No Brasil, ONGs e empresas já adotam estratégias para diminuir o desperdício de alimentos que poderiam ser consumidos mesmo após o prazo de validade. A empresa “Mercado Diferente” investe na parceria com pequenos produtores a fim de resgatar frutas e legumes considerados fora do padrão pelas grandes redes varejistas. Desta forma, a retirada das etiquetas diminuiria o desperdício a partir dos próprios supermercados.
Contudo, a nutricionista Michelle Fernandes enfatiza que é importante analisar o estado do alimento, independente da etiqueta, antes de comprá-lo. Pois caso a pessoa não tenha uma noção específica da boa qualidade de um alimento orgânico, ela corre o risco de ingerir um alimento estragado, ou seja, sem o valor nutricional adequado, ou comprar um alimento com data próxima de vencimento, que durará menos na casa do consumidor.
Opinião dos consumidores
Dentre os consumidores entrevistados, a avaliação dos alimentos orgânicos para compra possui algumas etapas. Dentre elas estão: observar a aparência e verificar o prazo de validade. Pois, “no caso das frutas e legumes, se a etiqueta de validade estiver boa e o produto ruim, é estranho”, afirma Gilca Medeiros.
Em relação a possibilidade da retirada dessas etiquetas no Brasil, Elane Viana afirma: “acho que os produtos devem continuar com as etiquetas pois o consumidor fica melhor informado sobre as condições do produto.” Ana Zilda Martimiano compartilha dessa opinião e diz que acredita que as etiquetas de validade façam parte de um direito do consumidor, havendo outras formas de diminuir o custo do produto.
Especialistas demonstram preocupação com o consumidor
A nutricionista explica que quando se fala sobre frutas, hortaliças e legumes, é possível ter uma noção de quanto tempo aquele alimento pode estragar ou não pela observação. Porém, “quando as pessoas optam por ultrapassar a margem de segurança das etiquetas, elas correm risco de consumir um alimento que já não esteja seguro em relação aos nutrientes e fatores biológicos, podendo ocasionar alterações no organismo”, complementa Michelle.
Caso os supermercados brasileiros também adotem essa medida, Michelle alerta que é importante garantir que o consumidor usufrua de alimentos seguros para a sua saúde. Por isso, “o consumidor precisa não somente conhecer as características físicas do alimento, mas também conhecer os outros processos, para a manutenção da qualidade do produto dentro de casa, como guardar ou higienizar corretamente”, afirma a nutricionista.
Em relação a possibilidade da retirada dessas etiquetas para outros tipos de alimentos, Michelle explica que “é necessário que o alimento tenha um prazo de validade e que o consumidor o conheça.”