Capacitismo: preconceito disfarçado de compaixão

In Geral, Política

Emissoras de TV, redes sociais e outros meios de informação se mobilizam cada vez mais para diminuir o capacitismo explícito e implícito na sociedade.

Bruna Schaun

Segundo uma pesquisa feita em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem mais de 17 milhões de pessoas com alguma deficiência, isso significa que 8,4% da população brasileira acima de dois anos é de PcD’s. No entanto, outra pesquisa, feita em 2020 pelo Ministério Público do Trabalho, expõe que 7 a cada 10 pessoas com deficiência acreditam que as organizações têm preconceito em contratá-las e 69% das PcD´s já sofreram com o capacitismo no ambiente de trabalho.

Perguntas e frases como “Dei mancada.”, “Que retardado”, “Está cego?” e “Você nem tem cara de autista” são frases que remetem ao capacitismo. Um preconceito que ainda não é tão conhecido, mas que é frequente, mesmo que de maneira imperceptível. 

Uma cultura desatualizada

Nesses últimos anos, a discussão sobre expressões preconceituosas no dia a dia das pessoas virou uma pauta importante entre ativistas. Diversos influenciadores como Rafa Brunelli e Ivan Baron, que são pessoas com deficiência, estão tentando conscientizar seus seguidores sobre a importância de trocar falas ofensivas que estão impregnadas no português. 

Apesar de o número de pessoas com deficiência não ser pequeno, essa parte da população sofre muitos preconceitos. Em alguns momentos, o capacitismo aparece disfarçado de pena, inclusive mediante entrevistas. 

Muitos levantam a bandeira de que pessoas com deficiência são capazes de realizar tarefas que pessoas sem deficiência realizam. Por isso, também é importante falar sobre o número de jornalistas com deficiência que vem aumentando a cada dia e como isso ajuda a diminuir a produção de reportagens capacitistas. Um exemplo é Flávia Cintra, repórter do Fantástico.

Danielle Vieira Coutinho, jornalista PcD formada pela Universidade São Judas Tadeu, comenta que  “o capacitismo está enraizado dentro da sociedade da mesma forma que o racismo. Durante muitos anos pessoas com deficiência ou quem era neuro divergente era considerado anormal.”

Danielle expõe, também, que está muito feliz com o aumento de jornalistas PcD’s, mas que as pessoas ainda não estão tão preparadas para ingressarem PcD’s no mercado de trabalho. Ela aconselha que pessoas sem deficiência sugiram pautas e falem mais sobre o capacitismo.

Leis a favor de pessoas com deficiência

A Lei Brasileira de Inclusão coloca como regra que as grandes emissoras de comunicação se adequem às particularidades das pessoas com deficiência que são contratadas pelas mesmas. Existe também a Lei de Cotas N° 8113 que exige que qualquer empresa mantenha entre 2% a 5% das vagas reservadas para PcD´s. Apesar dessas leis, o Brasil ainda está no quinto lugar no ranking mundial de países com acessibilidade. 

Embora existam exemplos de pessoas com deficiência nos meios de comunicação e o número venha aumentando mais a cada dia, a grande maioria encontra dificuldades para encontrar espaço nos grandes meios de comunicação. 

“Me sinto realmente confiante e esperançoso, porque apesar do baixo número de jornalistas com deficiência, é um indicativo de mudanças no protagonismo e representatividade desses profissionais. É muito importante levar informações sobre diversidade, equidade e inclusão para toda a sociedade sob a perspectiva desse grupo de pessoas, com lugar de fala”, diz Rafael Ferraz Carpi, jornalista PcD, fundador e editor responsável pelo site de notícias jornalista inclusivo.

A estudante PcD de Jornalismo, Jennifer Camargos fala da importância dos jornalistas em geral se informarem e ficarem atentos para não reproduzir comportamentos capacitistas. “Acredito que é muito importante que um jornalista, tendo uma deficiência ou não, deva estar sempre atento para não reproduzir capacitismo em qualquer ambiente que ele estiver, seja uma entrevista ou na redação, por exemplo”, explica Jennifer.
De acordo com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei N° 13.146 de 6 de julho de 2015, discriminação é toda forma de distinção, exclusão ou restrição que tenha o propósito ou o efeito de anular, impedir ou prejudicar o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais das pessoas com deficiência.

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