Mudança na temperatura pode afetar agricultura, economia e sustentabilidade do planeta.
Vefiola Shaka
O relatório recente da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCC) apresentou uma previsão do aumento das temperaturas globais. Segundo as pesquisas feitas, a temperatura da terra pode aumentar até 2,6°C até 2100, um número assustador que pode ser a causa de inúmeras catástrofes.
Durante os estudos, foi ponderado o impacto das medidas tomadas no âmbito dos acordos de Paris e Cancún: em 2010, estimou-se que a temperatura aumentaria entre 3,7 e 4,8°C até 2100. Em 2015, o aumento previsto foi reduzido para 3,2°C.
Enquanto isso, em uma conferência feita pela ONU ano passado no Egito, se acreditava que o aumento esperado pode ser diminuído para 2,1°C pelos esforços globais para combater as mudanças climáticas.
De acordo com o meteorologista Marcos Jean esse aumento pode ser de até 6°C. “Em relação a chuva, por exemplo, a expectativa é de aumento nas regiões sul e sudeste, e redução das chuvas no centro oeste, no norte e nordeste. Isso traz perdas, isso traz problemas de uma dimensão que nós não somos capazes de estimar e calcular”, explica o meteorologista.
As causas do aquecimento
“Em todo esse contexto de mudanças climáticas, de aquecimento tanto no Brasil, quanto no mundo é pelo uso irracional dos recursos naturais, poluição dos rios, mares, destruição dos biomas em geral, incêndios florestais que emitem toneladas de dióxido e monóxido carbono para a atmosfera”, diz Marcos Jean.
O sol emite uma onda curta para o planeta, que passa pela atmosfera e o planeta Terra utiliza uma parte dessa radiação e a outra parte ele emite de volta para o espaço em forma de radiação em onda longa. Isso na área de meteorologia é chamado de balanço global de energia.
Quando a radiação está longe tem que voltar para o espaço para equilibrar a energia que o planeta está recebendo, mas essa radiação não escapa por causa da poluição. Assim vai acumulando radiações e isso causa o aumento da temperatura cada vez mais.
“Pensa em uma panela de pressão. Ela só não explode porque tem um pino que permite que parte dessa energia da pressão escape. Se cobrir esse pino, a panela vai explodir. O mesmo está acontecendo com o planeta. Ele não vai explodir, mas vai ter um colapso”, pontua.
As consequências da mudança climática
O meteorologista conta que podemos observar essas mudanças em áreas diferentes da vida. Um dos exemplos está na agricultura. O Brasil é um dos maiores produtores de alimento no mundo e um dos maiores em proteína animal do planeta. Esse cenário de mudanças vai impactar tanto na agricultura, quanto na pecuária. A região centro oeste, que é uma grande produtora de alimentos, e tem o clima mais seco, consequentemente tende a reduzir a produção. Isso traz um impacto na economia e nos preços dos alimentos.
Nadir Ferreira, moradora de Engenheiro Coelho, conta que o clima nestes últimos meses está mais quente do que antes. Ela e sua família são donos de um grande terreno que pode ser usado para plantar. Como todo ano, deu início a agricultura familiar, mas tudo foi queimado devido ao calor.
“Até as flores na frente do meu local de trabalho morreram porque o sol está queimando. Tentei de tudo para manter as flores vivas e não consegui”, explica.
Enquanto isso, a jovem de Manaus, Laura Jalkh, sofre com crises de asma e é muito importante que ela esteja em um lugar onde o ar não seja poluído. Nos últimos meses a região do Amazonas foi tomada por intensas queimadas causadas pelas altas temperaturas.
Algumas casas estavam sendo invadidas pelas fumaças, inclusive a dela. “Estava sendo bastante estressante, olhar o céu e só conseguir enxergar fumaça, tinha prédios que de longe as pessoas de Manaus, não conseguia nem mais ver, por conta da fumaça. Estava insuportável”, conta Laura.
Dados do INPE mostram que as queimadas pela Amazônia estão se intensificando. Somente nos primeiros dez dias de setembro, foram registrados 3.925 focos de incêndio no estado. Desde janeiro foram registrados 11.736 focos.
Isso não afetou somente as matas e florestas, mas também indivíduos e animais. “Vi pessoas falando que tinham que usar inalador para melhorar a respiração, vi até um caso da colega da minha irmã em que o cachorro faleceu por conta da fumaça”, diz Laura.
Todos esses acontecimentos destacam a urgência de agir com ações que ajudem a cumprir as metas desejadas pelo Acordo de Paris. Esse assunto foi discutido nas reuniões feitas pelas 20 principais economias do mundo (G20).