Casos de burnout aumentam no Brasil

In Economia, Geral, Saúde

Índice pode ser ainda maior, afirmam especialistas.

Gabrielle Ramos

Os casos de burnout no Brasil em 2023 representaram o maior número nos últimos dez anos. Segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), 421 pessoas foram afastadas do trabalho por este motivo.

Esse aumento se tornou evidente após a pandemia do coronavírus. Em 2019, 178 afastamentos por burnout foram registrados, o que representa um crescimento de 136%. “Hoje vivemos uma epidemia de Burnout nos ambientes corporativos”, afirma  Denise Braga, hipnoterapeuta especializada em burnout e gestão de estresse.

O que é burnout?

O burnout foi descrito por Herbert Freudenberger há 50 anos, mas só foi reconhecido oficialmente como uma síndrome relacionada ao estresse crônico no trabalho pela Organização Mundial da Saúde em 2022. “Embora seja uma condição precursora de problemas de saúde mental como a ansiedade e depressão, o burnout ainda não é considerado uma doença”, explica o psicólogo Pedro Cerveira, especialista em saúde mental para o crescimento pessoal e profissional.

De acordo com Denise, que já enfrentou sepse devido ao burnout, essa condição se manifesta em diferentes estágios:

  • Inicial: quando o profissional apresenta hiperfoco no trabalho, distúrbios de sono, ansiedade e irritabilidade.
  • Intermediário: quando surgem sintomas físicos de ansiedade, como enjoos e disfunções intestinais, além de isolamento social, dores de cabeça e musculares. Pode haver sinais de compulsão por medicamentos, compras, comida ou bebida devido ao estresse desregulado.
  • Avançado: quando o profissional enfrenta exaustão extrema, falhas de memória, dificuldades de concentração e queda significativa na performance. 
  • Final: quando ocorre um colapso físico e mental com consequências potencialmente graves.

Razões para o aumento

Para os especialistas, o número de casos de burnout não aumentou repentinamente. “A exaustão e a insatisfação com o trabalho já eram grandes, mas depois da pandemia, com a forte consciencialização sobre o impacto que o trabalho tem na saúde e bem-estar das pessoas, tornaram-se mais visíveis”, ressalta o psicólogo.

Além disso, ambientes corporativos tóxicos também influenciam o índice. “Uma cultura de liderança com desrespeito, assédios de qualquer natureza, com imposição de metas inatingíveis, ameaças e jornadas longas são agentes estressores”, explica Denise.

Outro ponto é o reconhecimento da condição pela OMS. Para os especialistas, isso trouxe visibilidade ao número de casos presentes nos ambientes corporativos e fez com que as pessoas passassem a ter um nome para o que sentiam no trabalho.

Por outro lado, esse número pode ainda não refletir a realidade corporativa. “Por receio de estigmatização ou de retaliação, boa parte dos pacientes diagnosticados e laudados com Burnout evitam comunicar a empresa”, argumenta a hipnoterapeuta.

No Brasil, o Ministério da Previdência Social é responsável por contabilizar os casos de burnout, porém, apenas aqueles que resultam em afastamento do trabalho por mais de 15 dias são incluídos. Ou seja, casos de afastamento mais curto não são registrados.

Impacto nas empresas

Richard Heiras, especialista em liderança e recursos humanos, afirma que o burnout afeta diretamente o mercado de trabalho, pois os colaboradores com essa condição tendem a desengajar, o que prejudica a qualidade do trabalho e a colaboração em equipe. “A longo prazo, isso pode resultar em alta rotatividade de pessoal, criando um ciclo contínuo de recrutamento e treinamento, que é caro e ineficiente”, expõe.

Isso pode causar uma série de consequências diretas para a empresa e para o mercado de trabalho. “Uma explosão de casos diminui o potencial de atração da marca como empregadora e impacta na performance financeira”, explica Thiago Veras, diretor de RH e coach.

Para evitar que isso aconteça, os especialistas concordam que o mercado de trabalho precisa ressignificar métricas de produtividade. “É importante ter líderes que saibam da importância de construir um balanço saudável entre vida, pessoal e trabalho. Pois assim, os liderados também vão respeitar esse limite e ter menos propensão a sobrecarga”, ressalta Thiago.

Além disso, banalizar o termo “burnout” pode levar a uma falta de seriedade em relação a essa condição, fazendo com que sintomas graves sejam ignorados ou subestimados. “É essencial criar uma cultura de apoio, na qual os colaboradores se sintam à vontade para falar sobre suas dificuldades sem medo de represálias”, enfatiza Richard.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico do burnout não é fácil, pois se baseia no auto relato, quando não há possibilidade de visitar o local de trabalho para validar as condições existentes. “Isso faz com que sintomas inequívocos sejam desvalorizados quer pela própria pessoa, quer pelas organizações”, afirma o psicólogo.

Esse é o caso de Karine Silveira, que inicialmente foi diagnosticada com depressão e quadro de ansiedade generalizada. “O diagnóstico de burnout não foi fácil, porque ao longo de toda a minha vida sempre fui focada na profissão”, relata a Chief People Officer.

Para o tratamento, os especialistas explicam que é essencial um acompanhamento multidisciplinar, com psiquiatra, terapeuta, nutricionista e treinador físico. Além do envolvimento das partes, pessoa e organização, para fortalecimento da relação.

Além disso, a recuperação exige afastamento de médio a longo prazo do local originador do problema. “Esse distanciamento foi fundamental, porque foi isso que fez a minha cabeça voltar a funcionar e refletir”, conta Karine.

Na reintegração ao trabalho, o psicólogo alerta para a necessidade de monitorar o possível retorno dos sintomas. Caso isso aconteça, é importante considerar uma mudança profissional.

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