“Crescidinhos,” mas nem tanto: a geração que ainda mora com os pais

In Cultura, Geral

A dificuldade de cortar laços entre pais e filhos que ainda vivem no mesmo teto.

Bruno Sousa

Morar fora, sair de casa, criar independência financeira. Estas são coisas que estão longe da realidade de alguns jovens que ainda vivem sob o mesmo teto que os seus pais. Cerca de 20% dos jovens entre os 25 e 34 anos ainda não saíram de casa e, segundo cientistas, esses números apontam crescimento para 25%, devido à pandemia.

No mundo da demografia, o Brasil é conhecido  generosamente como “geração canguru”. Esse termo surgiu no fim dos anos 1990, na França, para designar a turma dessa faixa etária, porque os cangurus moram dentro das bolsas de sua mãe, aproveitando o conforto.

Dependência dos pais

Para os parentes e amigos parece uma situação assustadora: “você ainda mora com os seus pais?”. A psicóloga Ana Clara Cordeiro explica o termo. “Chamamos isso na Psicologia de ‘Ninho Atravancado’. Acredito que podemos dizer que isso acontece pelo conforto de estar na casa dos pais e por aspectos econômicos também”, explica.

Isso muitas vezes pode estar ligado à forma de criação. Ana comenta que é possível ser um aspecto de superproteção. “Chamamos de “síndrome da porta giratória” ou “efeito boomerang”, que são filhos que saem da casa dos pais e voltam por algum motivo”, ressalta ela.

Todas as relações, sejam elas entre amigos ou namorados, vão gerar discórdias e brigas e, quanto mais o indivíduo cresce, existe mudança de comportamento. 

“Isso pode interferir na privacidade das duas partes e gerar atritos devido aos pontos de vista diferentes sobre diversas questões”, argumenta a psicóloga sobre as desvantagens que podem acontecer entre essa relação de pais e filhos que vivem juntos sob os mesmo teto.

Insegurança do que os espera

Tássia Camila é graduada em Odontologia, tem 25 anos, e atualmente mora com os seus pais. Ela explica o por quê não saiu de casa. “Questões econômicas, no momento ainda não consigo bancar uma casa. Está tudo muito caro”, afirma.

Mesmo assim, ela diz que tem o desejo de ter a sua própria independência financeira. Por mais que  ela pague as suas contas, estar com os pais traz uma certa segurança de que tem alguém ali por ela. “É ótimo poder estar perto dos meus pais, e aproveitar mais momentos juntos”, afirma a dentista.

Mas, ao mesmo tempo, seria bom sair e ter o seu próprio cantinho. Assim, poderia desempenhar nela um certo amadurecimento. “Ter a própria casa, alugada, ou não, também seria ótimo, sei que teria muito mais responsabilidade e liberdade”, ressalta Tássia.

As mães são como corujas que protegem os seus filhos, para que o predador não chegue perto de suas crias. Dona Chirlei, mãe de Tássia, diz que a sua filha é o seu xodó. Ela sempre cuidou de  pertinho, proibindo tudo. “Tenho ciúme”, comenta ela.

Impacto na economia

A independência de morar sozinho exige muitos gastos como: pagar aluguel, conta de luz, energia, internet, alimentação, entre outros. A partir desse momento as coisas se apertam, a responsabilidade aumenta e o medo de sair de casa acaba se tornando um “bicho papão”.

A estudante de Economia Caroline Jung esclarece que “no Brasil temos a cultura de que os filhos permanecem mais tempo morando com os pais, por conta de comodidade e também a pedido dos próprios pais.”  

Para Caroline, a pandemia foi um dos meios que influenciou a volta de muitos filhos para a casa, seja para economizar ou serem cuidados. A economista diz que o mercado pode influenciar nas questões de os jovens não quererem sair do ninho. “As empresas acabam ajudando como podem, pois é pouco para quem recebe e muito para quem paga”, afirma ela.

Caso os jovens fossem estimulados a terem sua própria independência financeira, isso causaria um impacto positivo na economia. “Quanto maior o número de pessoas trabalhando, maior é o poder de compra, ou seja, a economia cresce e gira rápido e o mercado se aquece”, finaliza Caroline.

Família de meninas que moram com os pais
Tássia Camila mora com seus pais, que gostam da companhia.

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