Relacionamentos tóxicos interagem diretamente com a química cerebral

In Cultura, Geral, Saúde
Relacionamentos tóxicos

O ciclo vicioso que existe no cérebro quando se vive uma relação desse tipo pode ser comparado com o consumo de drogas.

Lana Bianchessi

Uma em cada quatro pessoas já enfrentou alguma forma de abuso de seus parceiros, segundo a pesquisaStalking online em relacionamentos” da Kaspersky, realizada em 21 países. Esse número alto tem ligação com os circuitos nervosos existentes no cérebro. 

Dopamina e Serotonina são os hormônios responsáveis pelo prazer e a recompensa, que são liberados quando o indivíduo se apaixona. A partir disso, o cérebro associa esses estímulos a pessoas de interesse romântico, criando um ciclo de desejo vicioso. Isso dificulta no momento em que se entra em um relacionamento tóxico, pois a vítima não consegue sair desse ciclo.

O professor especialista do departamento de Psicologia Social da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e analista didata da ABD (Associação Brasileira Daseinsanalyse), Hélio Deliberador, explica que “a parte frontal do cérebro registra as emoções que são vividas na relação tóxica e faz uma interdependência entre os parceiros, o que leva a uma repetição e a reprodução da relação nesse sentido.”

Tipos de comportamentos tóxicos

Algumas características de quem está em um relacionamento tóxico é a dependência emocional no parceiro, a resistência em romper com esse vínculo tóxico e as restrições de liberdade, expõe o professor. Conheça alguns pontos:

  • Love bombing, “Bombardeio de amor”: ocorre quando a pessoa demonstra atenção, afeto e admiração de forma excessiva com a intenção de manipular o parceiro. É algo mais gradual e envolve um alto nível de manipulação. 
  • Benching, “Ficar no banco, de reserva”: significa manter um contato habitual com outra pessoa, mas com a intenção de usar essa pessoa como segunda alternativa. É uma forma de fugir de uma relação sem lidar com a outra pessoa. Aquele relacionamento que fica entre uma saída de vez em quando e um namoro sério. 
  • Breadcrumbing, “deixar migalhas”: consiste em uma pessoa que não possui intenção de levar a relação adiante, mas gosta de receber atenção. Deixar migalhas de amor, de atenção, para a outra pessoa. Mas evitar o compromisso e não deixar isso claro para o parceiro.
  • Hoovering, “Sugar”: é uma situação em que uma pessoa “suga” alguém de volta a um relacionamento disfuncional, uma vez que a vítima encontra sua saída ou termina com o parceiro. Quando os indivíduos se separam e encontram um novo normal, o abusador tenta “sugá-lo” de volta ao relacionamento.

Hélio ainda relata sobre como isso afeta a vida da vítima. “Essa relação tóxica afeta todas as áreas da vida dos parceiros: profissional, sexual, pessoal, familiar e todas as demais áreas da totalidade da pessoa. Inclusive uma relação simbiótica da pessoa, onde uma ou ambas se beneficiam de alguma forma. Nessa troca, um dos indivíduos pode ser prejudicado ou não”, explica o professor. 

Como evitar esse tipo de relação?

O professor especialista complementa e oferece algumas recomendações sobre como prevenir essa relação abusiva. Antes de iniciar uma relação, deve-se procurar conhecer o parceiro para observar se ele corresponde às expectativas de representação de uma relação saudável. Verificar também, se os valores individuais são parecidos, a percepção disso é fundamental para começar um relacionamento que possa significar parceria e acréscimo na sua vida.

A própria consciência do indivíduo traz a ele a percepção dos pensamentos negativos que trazem ansiedade e angústia. Quando a pessoa percebe que está numa situação de dependência do outro, então há uma percepção de que esse relacionamento não é saudável.

Quando a relação já está estabelecida e há consciência desse sofrimento, talvez a busca de uma psicoterapia possa ajudar na conscientização e na ampliação da percepção de quanto essas relações trazem prejuízos na liberdade do ser de cada um.

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