Profissionais com amigos no trabalho são mais engajados

In Economia, Geral

Pessoas que compartilham valores, propósitos e formas de ver o mundo semelhantes costumam fazer amizade no ambiente laboral. 

Príscilla Melo

Ter amigos no trabalho é um fator positivo tanto para os empregados quanto para a empresa. Um estudo da KPMG concluiu que as amizades no local de trabalho desempenham um papel crítico na saúde mental dos funcionários e na satisfação no trabalho, após ouvir 1.000 trabalhadores em novembro de 2024.

Segundo outro estudo global da Gallup, profissionais que têm amigos no trabalho são até sete vezes mais engajados. Graduada em secretariado executivo e pós-graduada em gestão de pessoas, Meire Roseli destacou. ‘‘Ninguém é uma ilha, ninguém vive só. Quando se trabalha em equipe com pessoas que você se relaciona bem, o trabalho flui melhor, a produção e o resultado são melhores e o engajamento é muito maior’’, ressalta.

Segundo a psicóloga Flávia Costa, especialista em burnout e trabalho, o ambiente organizacional deve possibilitar interações respeitosas, acolhedoras e seguras, desde as relações mais formais até vínculos genuinamente afetivos. ‘‘A segurança psicológica, que envolve a possibilidade de expressar ideias, pedir ajuda ou errar sem medo de julgamento, é o solo fértil para qualquer relação saudável florescer. Quando esse clima existe, mesmo as conexões mais pontuais ganham potência protetiva para a saúde emocional’’, enfatiza.

Outro relatório da Gallup, revelou que um em cada cinco funcionários no mundo se sente sozinho no trabalho. De acordo com dados do Ministério da Previdência Social, em 2024, o Brasil registrou 472 mil casos de afastamentos por transtornos mentais, um aumento de 68% em relação a 2023, sendo esse o maior número da última década. ‘‘As conexões humanas têm um papel essencial no contexto laboral, especialmente quando falamos de saúde mental. Porém, o adoecimento psíquico é complexo e multifatorial , ele não nasce apenas da solidão, mas a solidão no sofrimento certamente agrava a situação’’, destaca Flávia Costa.

Campanhas de conscientização

O movimento Abril Verde, dedicado à campanha de conscientização sobre saúde e segurança no trabalho, tem como objetivo disseminar e conscientizar os empregadores, trabalhadores e toda a população sobre a implantação de ações de prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho.

Para a psicóloga esse ‘‘é mais do que um mês simbólico’’ ele nos convida a refletir sobre como estamos cuidando das pessoas que sustentam as organizações com seu trabalho. Quando o ambiente favorece trocas genuínas, as pessoas se sentem menos isoladas, e isso é crucial para prevenir o adoecimento da mente. Embora ter amigos no trabalho não seja a “cura”, é um recurso potente de amparo emocional, regulação afetiva e resgate do sentido de coletividade.

A norma regulamentadora nº 1 (NR-1) é crucial para garantir ambientes de trabalho mais saudáveis. Ela impõe que as empresas devem garantir medidas contra a sobrecarga de trabalho, assédio e ambiente tóxico, fortalecendo assim a cultura da prevenção de doenças mentais e garantindo o bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores.

‘‘A NR 01, com a atualização GRO, passa a reconhecer formalmente os fatores psicossociais como riscos ocupacionais, e isso é revolucionário. É o início de uma virada cultural, onde o sofrimento mental deixa de ser invisível. Conscientizar é essencial para que lideranças e equipes saibam que cuidar da saúde mental é, também, uma exigência legal, ética e humana’’, opina a psicóloga Flávia.

Trabalho presencial ou home office?

Nos dias atuais muitas empresas têm optado pelo modelo home office ao invés do tradicional trabalho presencial. No ponto de vista da secretária executiva Meire Roseli o trabalho home office tem o seu valor, mas o serviço presencial se destaca pois promove a interação entre pessoas e traz melhores resultados principalmente no sentido emocional.

Já para a psicóloga, o melhor modelo de trabalho depende de uma série de fatores interligados. A realidade socioeconômica, o perfil psicológico, as condições ambientais, e as habilidades pessoais de organização e foco. Quem tem dificuldades em impor limites ou gerenciar o tempo pode se perder no excesso de demandas. Além disso, perfis mais extrovertidos podem sentir falta do convívio presencial, enquanto outros valorizam o silêncio e a autonomia do remoto. O ideal é que as organizações ofereçam flexibilidade e escuta, analisando a singularidade de cada colaborador, e necessidades do tipo de atividade que exercem.

Como se conectar com os colegas de trabalho?

Sobre a conexão entre amigos no trabalho, a psicóloga aconselha que não se deve forçar vínculos onde não se sentir à vontade. ‘‘Nem sempre o ambiente em que se trabalha será propício para relações verdadeiramente significativas’’, aponta.

Conexões verdadeiras são resultado de uma cultura organizacional que valoriza a escuta, a diversidade, o respeito às vulnerabilidades e a colaboração. Quando isso não é possível no ambiente imediato, pode e deve-se buscar esse senso de pertencimento em outros espaços.

Falar sobre trabalho é também falar sobre uma experiência subjetiva e relacional. Não se limita ao espaço físico do escritório. Conexões autênticas se constroem quando encontramos pessoas que compartilham valores, propósitos e formas de ver o mundo semelhantes aos nossos. De acordo com Flávia Costa, os principais elementos para construir conexões verdadeiras com os colegas de trabalho são:

  • agir a partir dos seus valores;
  • explorar seu autoconhecimento;
  • estar disposto a servir, cooperar e acolher;
  • impor limites quando necessário. 

Para Flávia, esses elementos criam um ser humano real, e consequentemente, conectam pessoas que se identificam. ‘‘O trabalho é um ensaio diário dos diferentes desafios existenciais. Amizades e relações que lidamos nele, nos prepararam para outras áreas da vida’’, conclui.

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