Carmem Iorrana
Uma sugestão popular que pede a criminalização dos coachs no Brasil foi apoiada por mais de 20 mil pessoas, e virou pauta de discussões no Senado Federal através da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) na última terça-feira. Embora tenha sido rechaçada pelo Senado, a proposta gerou discussões. Seu autor é William Menezes, de apenas 17 anos.
A prática já foi pauta de quatros projetos de lei. O mais antigo é de 2009, quando houve tentativa de legalização. O PL 5554/2009 não obteve êxito e está arquivado. No entanto, outras aguardam parecer do relator na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP). Logo após a última decisão dos parlamentares, o presidente da Sociedade Gaúcha de Coaching, Ronald Dennis Pantin Filho, sugeriu a regulamentação da prática. Essa sugestão já possui cerca de cinco mil apoiadores no portal e-Cidadania. Para chegar até a CDH, deve angariar, ao menos, o mesmo número de participantes da proposta feita por Menezes.
O que é coaching?
De acordo com a Federação Brasileira de Coaching Integral e Sistêmico (Febracis), o coach é um profissional que tem como prioridade desenvolver as habilidades humanas para que seu cliente se conheça melhor. Demétrio dos Anjos é teólogo, e possui sete formações na área de coaching. Hoje, atua como consultor empresarial e mentor. Quando questionado sobre a criminalização de coachs no Brasil, Demétrio é enfático: “confesso que achei o termo ‘criminalização do coach’ um tanto apelativo e agressivo, mas, se as mudanças previstas que estão por vir auxiliarem a classe, o quanto antes vier, melhor”. Ele ainda acredita que ele e seus colegas não correm perigo. “Quanto aos profissionais de respeito e renome, da qual eu com orgulho faço parte, não temos a que temer. Quem deve se preocupar são os criminosos, ‘curandeiros quânticos’ e ‘reprogramadores de DNA’, completa, ao mencionar que nem sabe do que se tratam tais práticas.
Para a nutricionista Maila Passos, muitas pessoas sem formação acadêmica têm treinado outras a seguirem orientações que são muito peculiares a cada ser humano. Quando o coaching é atrelado à formações acadêmicas, “pode fazer a diferença na vida das pessoas”. No entanto, ela não é a favor de leigos que saem “palestrando sobre emagrecimento, por exemplo. Por isso acredito que a regulamentação da atuação de coachings – que tenham alguma formação acadêmica – é a saída”, reitera.
A psicóloga Gesiane Vingat concorda com Maila, e também se posiciona a favor do controle do coaching. “Quando há ausência de regulamentação, abre-se margem para a banalização da prática, ocorrendo por vezes atravessamentos em áreas de especificidade de outros profissionais. Consequentemente, aumenta a probabilidade de condutas que podem gerar impactos negativos aos clientes que utilizam desse serviço”, frisa.
Dados da Federação Internacional de Coach (ICF) mostram que a pauta não irá morrer tão cedo – já que, nos últimos quatro anos, a prática cresceu mais de 300% no Brasil. Estima-se que o nicho tenha movimentado mais de R$ 50 milhões nos últimos anos.