A capital paulista vem vivenciando um decréscimo populacional nos últimos anos.
Raíssa Oliveira
Estudos realizados pelo Sistema Estadual de Análise de Dados relataram que a cidade de São Paulo vem apresentando um decréscimo demográfico. A cidade passou por uma queda populacional de cerca de 80 mil pessoas a menos entre os anos de 2019 e 2023. Apesar de sutil, esse fenômeno não acontecia há pelo menos um século na capital paulista.
Um dos motivos citados pelo estudo que explica esse fenômeno é a crescente dos números de óbitos associada ao envelhecimento populacional da cidade desde o início desse século, além da redução da taxa de natalidade que pode se notar desde 2015 na cidade paulistana, números reforçados pela pandemia de COVID-19.
Entretanto, um movimento crescente de moradores que saem da capital de São Paulo para o interior do estado tem ganhado apoiadores e intensificado esse decréscimo populacional. O professor Anderson Rocha é mestre em Geografia Urbana e esclarece que as cidades médias têm sido atrativas para novos habitantes. “Essas cidades que geralmente possuem entre 100 mil e 500 mil habitantes são polos regionais de comércio e serviços ou indústria. A migração para esses centros urbanos ocorre em busca de emprego, melhor qualidade de vida e menor custo de vida”, salienta o professor.
Busca por melhor qualidade de vida
Uma dessas cidades é Indaiatuba, localizada a cerca de 100 quilômetros da capital paulista. Foi para lá que a criadora de conteúdo digital Mary Dias migrou com seus pais na busca de um ambiente mais tranquilo, sem deixar de lado a infraestrutura de uma cidade estruturada. Nascida e criada na cidade de São Paulo, ela relutou em deixar a capital, mas um trauma que seu pai havia experimentado com a violência do local foi decisivo na escolha da família, tendo em vista que foi vítima de um tiro anos atrás.
Apesar da relutância do início, Mary percebe as vantagens que a cidade menor proporciona, mas ainda sente saudades de São Paulo por conta do apego emocional de onde nasceu e das oportunidades da cidade grande. “Eu tenho uma academia aqui do lado, eu consigo sair tranquila, moro dentro de um condomínio e quando saio tem os vizinhos do lado também, esse contato é muito diferente, eu sempre falo que é muita coisa do interior ficar sentada na frente de casa”, relata a jovem.
O interior está nos planos
Aline Cheregatti é enfermeira e optou em retornar para a cidade interiorana de São José do Rio Preto após 30 anos vivendo e construindo a sua carreira profissional na capital paulista. Por conta de mais oportunidades de trabalho e estudo na cidade de São Paulo, acredita que fez uma boa escolha durante essas três décadas. Entretanto, pela diferente fase da vida que se encontra no momento, prefere o interior pela qualidade de vida e por estar perto da família, além de a auxiliar a se recolocar no mercado de trabalho.
Ela conta que “na capital o deslocamento é bem desgastante devido ao trânsito e você não tem tanta liberdade como no interior. Aqui é tudo mais próximo, tenho menos preocupação com a segurança, para trabalhar é muito mais tranquilo e essas pequenas coisas acabam fazendo a diferença no dia a dia”.
O que esse fluxo migratório pode acarretar
Anderson explica que esse fluxo migratório se insere em um processo bem amplo no Brasil. Ele relaciona o contexto atual com a nova urbanização alertada pelo geógrafo Milton Santos em seu livro “A Urbanização Brasileira”, publicado em 1933. O professor cita que “o referido autor destacou a ocorrência simultânea de dois fenômenos. A metropolização compreende a concentração populacional e econômica nas grandes metrópoles e a desmetropolização diz respeito à redistribuição dessa população para cidades de menor porte, impulsionada por fatores como a descentralização industrial e a busca por melhores condições de vida”.
“Essa desmetropolização em curso não significa um esvaziamento das metrópoles, nem a perda de importância dessas cidades, mas uma redefinição das dinâmicas territoriais com o surgimento de novas centralidades na rede urbana do país”, finaliza.